A predominância da Doença Renal Crônica (DRC) em comunidade indígena pernambucana foi objeto de um estudo realizado pelo Projeto de Atenção Integral à Saúde Indígena (PAI) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).
A pesquisa “Prevalência e fatores associados à doença renal crônica entre adultos indígenas Truká em Cabrobó, Brasil: um estudo de base populacional” foi conduzida por docentes do Colegiado de Medicina da Univasf, com o intuito de auxiliar na detecção precoce, no tratamento e na prevenção da doença.
O estudo foi publicado no início de outubro como artigo, pela revista The Lancet Regional Health - Americas.
A doença renal crônica é uma condição que se caracteriza pela deterioração dos rins, na qual eles perdem a capacidade de efetuar funções básicas. Segundo o artigo, a prevalência da DRC está em crescimento em todo o mundo, devido a fatores como mudanças no estilo de vida e ao aumento de doenças não transmissíveis. Em áreas socioeconomicamente desfavorecidas, como em comunidades indígenas, os habitantes estão sujeitos a um índice maior da doença. Com base na falta de dados específicos e no impacto da urbanização sobre esses povos, a equipe do PAI investigou a prevalência e os fatores de risco da DRC em uma população mais vulnerável.
O estudo investigou, a princípio, 1.715 adultos indígenas Truká do município de Cabrobó (PE), de acordo com a classificação das diretrizes globais de prática clínica para doenças renais, a Kidney Disease Improving Global Outcomes. Dos participantes analisados, a prevalência da DRC é elevada, sendo maior entre as mulheres indígenas em comparação aos homens, com uma média de idade de aproximadamente 40 anos. O artigo é fruto do trabalho de doutorado do docente do Colegiado de Medicina, Orlando Vieira Gomes, que atua no projeto realizando estudos sobre doenças renais e as comorbidades associadas.
Gomes acredita que a pesquisa é relevante para a comunidade científica e médica por fornecer dados inéditos sobre a prevalência e os fatores de risco da DRC em povos indígenas do Brasil, o que ainda é pouco explorado. “A pesquisa poderá contribuir substancialmente para a sociedade ao fomentar o desenvolvimento de políticas de saúde mais inclusivas, garantindo acesso a tratamentos adequados para essas populações vulneráveis. Ao trazer à luz essas questões, buscamos não apenas aumentar a conscientização, mas também promover a equidade no atendimento à saúde, beneficiando diretamente as comunidades afetadas”, comenta o docente, que também é médico nefrologista do HU-Univasf.
A pesquisa foi orientada pelos também docentes do Colegiado de Medicina da Univasf, Anderson da Costa Armstrong, coordenador do Projeto PAI, e Carlos Dornels Freire de Souza. Segundo Armstrong, a vulnerabilidade social vivenciada pelas populações indígenas acarreta um silenciamento científico, pois não são incluídas em trabalhos de pesquisa sobre saúde. “Esse projeto é o primeiro estudo que lança um olhar científico sobre a saúde renal da comunidade Truká, e a partir dele, estamos revelando um pouco dos desafios vividos por essa população. O que serve para que possamos estabelecer atenções individuais a essas pessoas, pois em várias delas detectamos alterações. Então, nós seguimos para o ambulatório da Univasf e, a partir dos dados coletados, conseguimos gerar, de fato, políticas públicas adequadas à saúde dessas populações”, relata o docente.
Criado em 2016, o Projeto PAI envolve ensino, pesquisa e extensão e conta com a participação de médicos e estudantes dos cursos de Medicina, Farmácia e Ciências Biológicas da Univasf. Desde o início, o projeto prestou cerca de quatro mil atendimentos em 27 comunidades indígenas das etnias Truká e Fulni-ô. Além dos membros do projeto, a pesquisa foi desenvolvida com o apoio da Fiocruz Bahia, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE), da Fundação Maria Emília, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus Juazeiro (BA), e do Hospital Universitário da Univasf.
Mais informações sobre a pesquisa e o projeto estão disponíveis no Instagram.
Portal Univasf
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