Um dos dilemas da atualidade é achar um equilíbrio na questão das identidades. Hoje, vemos uma atomização da vida social. Vivemos o fim da comunicação de massas; na multiplicidade de canais de informação muitos nichos foram criados.
Juntamente com uma maior liberdade com o fim de um século violento e complicado como o século XX, vemos também uma maior liberalização das formas de busca por felicidade individual.
Esse cenário criou condições para um foco nas políticas de identidade. Essas identidades ganham forma e espaço político. Identidades existentes, como a racial e a negritude, ganharam atenção e empoderamento e identidades novas são constantemente criadas, como as de gênero. Essa realidade gera resistências de pensamentos mais conservadores. Como acomodar tantas identidades? Talvez a principal polêmica é o critério.
O critério "correto" é biológico? Se sim, como lidar com ambiguidades biológicas com os intersexo? Social? Autoidentificação? Veja que estamos falando de identidade. Por isso é um assunto delicado. Questionar a identificação pessoal é questionar sua existência política. Dois exemplos importantes chamaram atenção nas últimas semanas.
Nos EUA, Trump questionou a identificação de Kamala Harris como negra, acusando-a de usar essa identidade para a busca de votos. Nas Olimpíadas, uma atleta argelina intersexo foi falsamente acusada de ter nascido homem e de se identificar como trans para ter vantagem na categoria feminina.
Nos dois casos, os acusadores são de fora dos espectros identitários que acusam. Não só de fora, mas que estão inseridas nas estruturas de poder. Nesse caso, as políticas de identidade são também guerras de narrativas para que se mantenha ou se diminua a existência política de grupos identitários.
Sobre Luiz Fellipe Gonçalves de Carvalho
Sociólogo, filósofo, palestrante e escritor. Idealizador da escola de yoga "Movimento Ahimsa" e membro da sociedade de alto QI Mensa. Pesquisador do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito - CPAH.
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