Cultura Gonzagueana: Professor avalia que "estão apagando a cultura em benefício dos megaeventos"

Com o pouco público registrado na Missa da Saudade, celebrada em Exu. Pernambuco, Parque Aza Branca, para celebrar os 35 anos de morte de Luiz Gonzaga, o professor Maiadson Vieira, responsável pela disciplina batizada de Cultura Gonzagueana, alerta para o que ele denomina de "Apagão Cultural, o esquecimento da Cultura". quando tô estudando sobre cultura, política e sociedade, um dos pontos mais fortes é justamente esse que você muito bem citou:

"Cultura é feita pelo povo e para o povo, os governos/secretarias de cultura tem a função de fomento, para que os artistas/produtores de cultura popular continuem mantendo essas manifestações vivas. Acontece justamente o contrário, as secretarias\governos decidem quem produzirá e quem não produzirá, colocam sua logomarca e deixam perecer todas aquelas que eles não aprovarem, tiram fotos e postam nas redes fakes de valorização da cultura, quando o ano inteiro eles nem sequer visitam esses artistas pra saber se ele tá conseguindo manter a manifestação cultural dele. Um evento cultural nasce, e outros perecem por falta de suporte de gestão".

Maiadson Vieira que nasceu em Exu, e atualmente é professor no município de Santa Cruz da Venerada, proporcionou no ano de 2022, aos Estudantes do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual São Vicente de Paula, em Exu, no Sertão de Pernambuco, a oportunidade de aprender mais sobre o cantor e compositor Luiz Gonzaga. Batizada de ‘Cultura Gonzagueana’, a disciplina optativa pretendia levar aos educandos conhecimento sobre a cultura e história local, tendo como base a vida e carreira do maior ícone do município, o Rei do Baião.

“Seguimos na luta, porque agir não precisa ser combinado com o silenciar. Da pra protestar, dá pra lutar e ao mesmo tempo agir. Uma coisa não impede a outra e vice versa. Iniciativas como esta eletiva proporcionam a manutenção da cultura e da história local, valorizando as temáticas abordadas na obra do pernambucano do século, gerando assim, o sentimento de pertencimento dos alunos para com a cultura e a história local, promovendo ainda a democratização cultural e uma educação cultural efetiva para os educandos”, afirma o professor Maiadson Vieira, responsável pela disciplina.

Mesmo a disciplina ‘Cultura Gonzagueana’ não sendo obrigatória, o professor considera uma grande conquista aproximar os estudantes de Luiz Gonzaga. “Apesar de ser uma disciplina eletiva, ela quebrou os muros da escola e introduz em sala de aula o autêntico poder da cultura popular”, avalia.

Maiadson Vieira recebeu o título de Moção de Aplausos concedido pela Câmara de Vereadores de Petrolina, autoria do então vereador Cesar Durando.

O advogado Jaiminho de Exu, cantor e compositor, em conversa com a REDEGN, disse que as manifestações pela passagem dos 35 anos de partida do nosso querido Luiz Gonzaga mais uma vez passou em branco sob a ótica dos governos municipal, estadual e federal na sua terra natal Exu".

"Se não fosse uma reunião feita por amigos gonzagueanos sanfoneiros e simpatizando organizado por voluntários e a Ong Parque Aza Branca o dia 02 de agosto teria passado em branco na terra do rei. Mais um ano sem nenhum fomento, apoio e atenção dos órgãos públicos ao maior artista brasileiro principalmente no seu torrão Natal", finalizou Jaiminho.

CONFIRA TEXTO PROFESSOR MAIADSON VIEIRA: Eu acredito que o que está acontecendo na cidade de Exu, Pernambuco já é um problema muito antigo, posto que, a ausência de educação cultural por parte dos governantes, acarreta na ignorância cultural de seu povo. A minha formação cultural se deve ao meu professor do fundamental I, pois, o Estado de Pernambuco fornecia as disciplinas de Cultura Pernambucana e Geografia de Pernambuco, e isso pra mim era inspirador. Meu professor da 2ª e 3ª série, fez questão de naturalizar em sala de aula a vida e obra de Luiz Gonzaga, e sempre nos levava pra ter aulas nos terreiros mais importantes da cultura popular pernambucana; o Parque Aza Branca.

Lembro que inúmeros artistas da terra sempre estavam dentro das salas de aula e a gente mesmo sem saber o que era cultura, tinha vivências com ela. Naquele período havia investimento em cultura! Coisa que não se tem mais. Cultura deixou de ser prioridade! É Inadimissivel completarmos 35 anos de ausência de Luiz Gonzaga e não termos um evento público alusivo a ele. Em contra partida, inúmeros outros eventos privados o homenagearam de maneira mais tímida. É necessário que o poder público comece a dirigir energia a salvaguardar e proteger em sua própria cidade Luiz Gonzaga, que nos compreende, nos representa e que dá sentido a nossa caminhada como conterrâneos dele e amantes dele.

Quando eu criei a eletiva de Cultura Gonzagueana, eu me inspirei no meu professor do ensino fundamental Moisés Lopes, posto que, os artistas populares devem invadir as escolas e as salas de aula, para que possamos preservar a nossa memória e a nossa cultura. Eu sempre costumo dizer que quando educadores se unem em prol da cultura e da poesia popular, a gente consegue popularizar o ato de ser sensível. E é disso que Exu precisa, de sensibilidade cultural para a nossa história. Foi isso o que eu tentei, apesar de ter encontrado inúmeras barreiras na cidade, por exemplo, no período da disciplina Cultura Gonzagueana, nós ganhamos Moção de Aplausos na Câmara de vereadores de Petrolina, enquanto fomos esquecidos na nossa própria cidade. O que tem acontecido aqui é inexplicável, não há valorização pelos que ainda são fazedores de cultura, artistas populares e amantes da cultura que, não havendo suporte e dignidade pra os seus trabalhos acontecerem, acabam desistimulando de continuarem perpetuando a cultura e a memória local.

Se não existirem medidas urgentes para salvaguardar, estruturar e fomentar a manutenção da memória e da história do povo exuense, do povo pernambucano e do povo nordestino, aos poucos vamos perdendo aquilo que há de mais precioso: nossa cultura. Uma vez eu li que pra se apagar um povo, primeiro faz-se necessário apagar a sua cultura, a sua memória e a sua história, e em Exu, esse apagamento, silenciamento e esquecimento da memória de Luiz Gonzaga tem feito marcas profundas em seu povo.

Quando se fala em cultura, além das tradições e  e da reparação histórica pela memória de Luiz Gonzaga, a gente também fala sobre renda na mesa dos artistas, de todo o comércio local e de todo o povo. Ter uma cultura ativa, e um local que acolhe bem os visitantes, também é necessário! Mas como acolher bem os visitantes, se a cidade ainda não consegue acolher nem o seu povo? Luiz Gonzaga nunca foi bem acolhido em Exu, e a prova disso é como andam as atividades que celebram sua memória e existência. É desesperador como estamos sofrendo com a falta de compromisso com a obra de quem tanto colaborou para sermos quem somos hoje. Essa semana nós tivemos mais um dia 02 de agosto em que a cidade esvaziou-se da memória do Luiz Gonzaga e o setor público nada fez. Comemoramos nas iniciativas privadas... Não deveríamos estar mendigando cultura dentro da cidade do maior ícone dela, não é verdade?

Enfim, tenho esperanças de que algum dia Luiz Gonzaga seja de fato rei dentro de sua própria cidade, porque no mundo inteiro ele já é homenageado, amado, querido e celebrado! Nós temos uma dívida histórica com seu legado, resta saber quando conseguiremos pagar. Por enquanto, resta doer o peito, limpar as lágrimas e fazer o trabalho de formiguinha de lutar pelo que é nosso, pois quando se trata de Gonzaga, ele apenas nasceu em Exu e se compôs, mas, ele pertence a todo o povo nordestino que o celebra e o ama.

Redação redegn Foto redes sociais