A diferença de desempenho entre escolas públicas e privadas cresceu no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) de 2023 em Matemática e Ciências da Natureza.
O resultado reverte uma tendência de diminuição da desigualdade que era registrada desde 2019. Esse foi o primeiro ano em que parte dos estudantes fez a prova após a mudança para o Novo Ensino Médio.
Especialistas apontam que o modelo, que já foi reformulado este ano após diversas críticas, pode ter pesado nesse resultado. A nota em Matemática das escolas públicas caiu de 507 para 503. Já a das privadas subiu de 601 para 618.
Em Ciências da Natureza, as mudanças foram de 473 para 472 e de 530 para 541, respectivamente. Os dados do Inep foram obtidos pelo SAS Educação, uma plataforma de ensino usada por 1,2 mil escolas no Brasil, e disponibilizados com exclusividade ao Globo.
— A prova de Matemática deste ano foi um pouco mais fácil do que as anteriores. Mas os estudantes das escolas públicas foram pior nas habilidades mais básicas do teste. Isso aconteceu com Ciências da Natureza também e fez com que as notas caíssem — analisou Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações do SAS Educação.
A lei do Novo Ensino Médio, de 2017, previa que todas as escolas adotassem o modelo a partir de 2022. No entanto, em 2021, o estado de São Paulo antecipou esse calendário e instituiu o novo formato em todas as escolas. Mato Grosso do Sul e Santa Catarina também adotaram o modelo em parte da rede. Além disso, diversos estados fizeram essa transição com escolas-piloto.
Os alunos que começaram o ensino médio em 2021 acabaram fazendo o Enem em 2023. Os estudantes do Novo Ensino Médio, porém, tiveram 25% menos aulas de Matemática e 34% de Ciências da Natureza, segundo análise de O Globo nos currículos estaduais.
— Sou a favor da reforma, mas não da forma como foi feita. Sem dúvida ela teve impacto na nota — diz Celedônio.
Desde 2023, estudantes do Novo Ensino Médio não têm todas as disciplinas básicas no último ano do ensino médio, quando é realizado o Enem. É comum, por exemplo, que uma ou duas das aulas de Ciências da Natureza (Química, Física e Biologia) fiquem de fora da grade curricular.
No lugar dessas aulas, são oferecidas disciplinas dos itinerários formativos, a parte flexível do currículo, que não atenderam à expectativa de aprofundamento curricular que se esperava delas.
— Esse impacto de não ter as aulas de Ciências da Natureza no 3º ano do ensino médio tem muito peso. É nesse momento que os alunos precisam ter mais contato com exemplos e exercícios de preparação. As escolas privadas tiveram isso com aulas a mais, o que causou essa discrepância maior nas notas — avalia o especialista do SAS Educação.
O GLOBO Foto Agencia Brasil
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