Em entrevista, deputado Roberto Carlos dispara: “Mantido o impasse em Juazeiro, a opinião que vai pesar é a do governador do Estado”

A semana que começa nesta segunda-feira (22) será decisiva para os pré-candidatos da base do governador Jerônimo Rodrigues (PT) à Prefeitura de Juazeiro, quinto maior município do estado. Um dos nomes na disputa é o do deputado estadual Roberto Carlos (PV), que acredita ter as condições políticas e apelo popular para ser o escolhido.

Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, Roberto Carlos afirma que tem dialogado com Jerônimo e com as principais lideranças do PT e siglas da base aliada sobre as eleições no município. Diz, ainda, que mantém conversas promissoras com os demais concorrentes do grupo: o deputado estadual Zó do Sertão (PCdoB), os ex-prefeitos Isaac Carvalho (PT) e Joseph Bandeira (PSB), o empresário Andrei Gonçalves (MDB) e o advogado Márcio Jandir (PP).

O parlamentar do PV, que está no sexto mandato na Assembleia Legislativa e já foi duas vezes vereador em Juazeiro, comenta ainda sobre a possibilidade de Isaac, que está inelegível, lançar a própria esposa, Ellen Carvalho (PT), como pré-candidata. Roberto Carlos, que é questionado ainda sobre a possibilidade de ser vice, também ressalta o papel de Jerônimo na escolha do candidato.

Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Política Livre – No próximo dia 5, ou seja, na semana que vem, termina o prazo das convenções para a escolha do candidato a prefeito. Em Juazeiro, a situação segue indefinida na base do governo estadual, com ao menos seis pré-candidaturas, incluindo a sua, pelo PV. Por que o escolhido deve ser o senhor?

Roberto Carlos – Olhe bem, eu estou confiante. Já estou, inclusive, trabalhando como candidato. Montei uma equipe, uma estrutura, estou elaborando meu plano de governo, estou caminhando pela sede e zona rural, conversando e ouvindo as pessoas. Além disso, sigo conversando com as lideranças políticas do meu grupo, com o governador Jerônimo Rodrigues (PT), o senador Jaques Wagner (PT), o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT). Tenho boa relação com todos, também com os senadores Otto Alencar (PSD) e Ângelo Coronel (PSD), com as lideranças dos demais partidos. Não há resistências ao meu nome, tenho certeza disso. E conheço Juazeiro com a palma da minha mão. Já fui vereador, sou presidente do clube de futebol mais importante da cidade e, como deputado, sigo trabalhado todos esses seis mandatos que tenho para fazer Juazeiro crescer. Agora quero dar minha contribuição como prefeito, no Executivo, fazer a cidade, que retrocedeu nos últimos anos, avançar. Estou preparado para esse desafio e reúno as condições políticas e apoio popular para encabeçar a chapa.

“Isaac (Carvalho) e Joseph (Bandeira), que já foram prefeitos da nossa cidade, são as maiores expressões políticas que temos hoje em Juazeiro”
O senhor é um dos três nomes que se colocam dentro da Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV). Obrigatoriamente, um deve ser escolhido. Com a inelegibilidade do pré-candidato petista, o ex-prefeito Isaac Carvalho, acha que pode convencer o deputado estadual Zó do Sertão, quadro comunista na disputa, a apoiá-lo?

Veja bem, eu respeito todos os pré-candidatos da nossa base. Todos têm o direito de se colocar. Mas já passou da hora de uma definição. Essa indefinição na base de Jerônimo só favorece a atual prefeita (Suzana Ramos, do PSDB, postulante à reeleição). Já esperamos demais. Ao longo de todo esse tempo de pré-campanha eu tenho dialogado com todos os pré-candidatos. Converso muito com Zó, meu colega na Assembleia Legislativa. Fui aos lançamentos de todos os pré-candidatos da base de Jerônimo, inclusive de Isaac, de Zó, de Andrei Gonçalves (lançado pelo MDB), do ex-prefeito Joseph Bandeira (nome do PSB). Tenho bom trânsito e boas relações com todos eles. A federação deve se reunir até quarta-feira para tomar uma posição sobre Juazeiro. Eu disse anteriormente que estou confiante porque sei que meu nome agrega. Você sabe que minha candidatura a prefeito de Juazeiro já foi defendida por lideranças de peso do PT, como o ministro Rui Costa, quando ele era governador. Eu sempre fui fiel ao governo e sempre apoiei o PT. Está na hora de o PT me apoiar, não acha? Estou num partido, o PV, que aposta as principais fichas na candidatura em Juazeiro, enquanto o PT já tem a cabeça de chapa em diversos outros municípios importantes, assim como o PCdoB. O PV também precisa crescer e isso pode acontecer num cenário de competitividade, como é o caso de Juazeiro.

Mas o PT ainda não anunciou a retirada do nome de Isaac, apesar de um visível clima de frustração com as derrotas do petista na Justiça. Se fala agora, inclusive, que o partido do governador pode lançar outro nome em Juazeiro, que poderia ser até o da esposa de Isaac, Ellen Carvalho. Como o senhor avalia essa possibilidade?

Eu fiz recentemente um discurso na Assembleia defendendo que era hora de o PT retirar o nome de Isaac para me apoiar. Por tudo que falei acima. Estou no sexto mandato de deputado estadual demonstrando minha lealdade ao projeto petista. Voto sempre com o governo, com o PT. Ajudei a eleger governadores, senadores, prefeitos e conselheiros do PT e de partidos aliados. Acho que chegou a hora de Roberto Carlos ter a sua vez, ter a sua oportunidade no Executivo. Me preparei a vida toda para isso. O PT tem grandes planos de crescer na Bahia, o que é natural, mas por que não apoiar o aliado do PV em Juazeiro? Eu acho que Isaac tem todas as possibilidades de ser candidato, assim como os demais companheiros da federação e de outros partidos aliados. Isaac e Joseph, que já foram prefeitos da nossa cidade, são as maiores expressões políticas que temos hoje em Juazeiro e, tenho certeza, serão decisivos para minha vitória se a união ocorrer em torno do meu nome. Assim como serão decisivos os apoios de Zó, de Andrei, de Márcio Jandir e outros, porque vamos buscar fazer a maior união política que Juazeiro já teve, para reconstruirmos o município. Sobre a Ellen, ela também tem todo direito de se colocar, é filiada ao PT, mas ainda não tem, digamos assim, uma experiência, uma musculatura maior na vida pública.

O ex-ministro Geddel Vieira Lima, que comanda o MDB, escreveu nas redes sociais que o partido dele admitia apoiar Isaac se o petista resolvesse as pendências na Justiça, dando a entender que, caso contrário, se for outro nome na federação, mantém a pré-candidatura de Andrei. Diante desse cenário, a possibilidade da união na base de Jerônimo não fica mais remota?

Na semana passada, como o próprio Política Livre divulgou, e isso é fato, a federação se reuniu e decidiu que vai ter candidato a prefeito de Juazeiro. Mas a federação não descartou dialogar com os demais, em busca dessa unidade. Vamos procurar dialogar com o MDB, sim. Assim como faremos isso com Joseph e com o pré-candidato do PP, Márcio Jandir, que sempre transitou no nosso grupo. Andrei é uma revelação da política de Juazeiro, um nome que chega forte. Se não for agora, certamente um dia ele será candidato a prefeito da nossa cidade. Temos mantido conversas com ele. Eu acho que a unidade é possível, sim. No momento em que houver uma definição, acredito que é possível que todos estejamos juntos para derrotar o projeto da atual prefeita.

“Hoje, Juazeiro enfrenta sérios problemas em áreas essenciais como saúde, educação, infraestrutura, escoamento agrícola”
Cabe ao governador Jerônimo Rodrigues essa definição em Juazeiro, diante de um cenário tão disputado na base?

O governador terá um papel central nisso. A própria federação já reconheceu isso. A opinião dele é importante. Claro que ele tem buscado que essa decisão seja tomada pelas lideranças em Juazeiro, o que é o ideal, mas, em se mantendo o impasse em Juazeiro, a opinião que vai pesar é a de Jerônimo, bem como do conselho político. Até porque, como já disse, Juazeiro é o quinto maior município da Bahia e vencer lá é estratégico para Jerônimo, para Lula, para toda a nossa base. O PSDB, que hoje governa a cidade, sempre foi um adversário local, estadual e nacional do PT.

O senhor aceitaria ser vice numa eventual composição?

Isso não passa pela minha cabeça. Meu projeto é ser candidato a prefeito. É nisso que estou trabalhando. E tenho certeza que posso liderar a chapa da nossa federação e da base em Juazeiro. Não tenho plano “b” nem “c”.

O senhor já foi aliado da prefeita Suzana Ramos, inclusive com cargos indicados na gestão municipal. Por que rompeu?

Porque a prefeita não cumpriu o que prometeu, que era fazer uma boa gestão em Juazeiro. Pelo contrário: ela permitiu que a cidade retrocedesse. Hoje, Juazeiro enfrenta sérios problemas em áreas essenciais como saúde, educação, infraestrutura, escoamento agrícola. É algo que precisa ser mudado para que possamos retomar a força e a pujança do município na Bahia. Juazeiro tem um enorme potencial econômico e social que não é explorado pela atual prefeita, que governa apenas para favorecer o grupo dela. Por isso decidimos romper e apresentar um projeto alternativo para 2024. Isso sem falar que ela não honrou os compromissos políticos assumidos conosco em 2022. Vale lembrar que, apesar disso, eu nunca deixei de fazer parte do grupo do governo do Estado. Eu sai do PDT em 2022, inclusive, para manter minha aliança com o governo. Sempre fui fiel ao governador.

Sobre o PDT, o senhor defendeu recentemente que o partido volte à base do governo estadual. Isso significa que tem planos de retornar ao ninho pedetista?

Eu continuo mantendo uma boa relação com o presidente do PDT da Bahia, o deputado federal Félix Mendonça Júnior. Antes de deixar o PDT, em 2022, eu trabalhei para que o partido permanecesse ao lado do governo. Considerava um erro o movimento de apoiar a candidatura de ACM Neto (União) ao governo. O PDT sempre teve uma relação histórica de proximidade com o PT, tanto em nível estadual quanto nacional, e não com o União Brasil. É só observar que a maioria dos prefeitos do PDT apoiou, em 2022, Jerônimo. Agora, veja o que aconteceu em Lauro de Freitas, onde o União Brasil e o ACM Neto filiaram uma candidata a prefeita (vereadora Débora Régis) que era do PDT, mesmo ela sendo oposição ao PT. Que aliança é essa? Acho que com o ACM Neto o caminho de qualquer partido é o encolhimento. Na base do governo, os partidos aliados crescem. Claro que há problemas pontuais aqui e ali, como acontece em qualquer casamento, mas o respeito é maior. Sobre voltar ao PDT, nunca discuti isso. Mas isso vez ou outra é lembrado porque eu tenho uma história lá. Foi meu único partido até vir para o PV, onde estou satisfeito.

“Acho que com o ACM Neto o caminho de qualquer partido é o encolhimento. Na base do governo, os partidos aliados crescem”
Antes do recesso de meio de ano, alguns deputados se queixavam do tratamento dispensado pelo governador, que não estaria atendendo os pleitos dos parlamentares. Um dos queixosos era o deputado Marquinho Viana, do seu partido. O senhor está satisfeito com o tratamento?

Eu não tenho do que me queixar do governador, que tem sido um democrata, tratando bem, inclusive, a oposição. Veja quantos do lado de lá querem vir para cá, para a base? Isso reflete o espírito do governador, que conversa com todo mundo. Claro que insatisfações pontuais podem haver e devem ser tratadas no diálogo com o governo, e não publicamente. Mas essa é minha opinião, é meu modo de agir. Sou um dos aliados mais próximos do governador porque sou aliado antigo. Nunca mudei de lado. Se tem algum problema, eu trato com o governo. Jerônimo tem feito uma grande gestão, é um excelente governador, que se preocupa com as pessoas. Venceu uma eleição que quase ninguém acreditava e vai ser reeleito, dessa vez sem surpresa, em 2026.

 

Política Livre/Foto: Divulgação/Arquivo