Difícil encontrar um jovem que não use internet no seu dia a dia, mas o uso abusivo pode ter influências negativas na saúde mental dos usuários. Um estudo da USP identificou uma maior prevalência de ideação suicida entre estudantes universitários considerados dependentes da internet.
De acordo com o trabalho, o vício em internet é um fator de risco para o suicídio tanto quanto a ansiedade e depressão.
A professora da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), Irena Penha Duprat, abordou o tema em sua tese de doutorado. Intitulado O papel da internet na saúde mental de jovens universitários e sua relação com ideação suicida, o trabalho foi defendido neste ano na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.
“Eu sou docente em Maceió, na Uncisal, já tem 12 anos. E entre 2016 e 2018, a gente começou a ter casos de estudantes com tentativa de suicídio. Na época do processo seletivo do doutorado, este era um tema que eu queria trabalhar. A dependência da internet hoje vem sendo mais explorada do que há alguns anos”, afirma em entrevista ao Jornal da USP. O trabalho foi orientado pela professora Frida Marina Fischer, da FSP.
O número de suicídios entre jovens subiu 17% entre 2000 e 2019 na América Latina, e o Brasil segue o ritmo de acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. De 2012 a 2021, 8.391 adolescentes brasileiros entre 15 e 19 anos cometeram suicídio. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2000 a 2019 o suicídio foi a quarta causa de morte mais recorrente entre jovens de 15 a 29 anos em todas as Américas. Os dados reforçam ainda mais a importância de pesquisas que não apenas levantem dados, mas busquem entender as possíveis causas.
De acordo com o estudo de Irena, o cenário se agrava com jovens cada vez mais viciados de forma moderada ou grave na internet. De acordo com a pesquisa, um fator que contribuiu para o aumento desses números foi a pandemia de covid-19.
“O aluno tinha muito mais tempo em casa, consequentemente mais tempo on-line. Fizemos, inclusive, uma pergunta em relação a ele ter percebido um aumento de consumo da internet após o início da pandemia. Praticamente todos responderam que sim (houve aumento)”, conta a pesquisadora que também é enfermeira e mestra em Ciências da Saúde. Segundo os dados levantados, 93% dos participantes aumentaram o consumo de internet durante o isolamento social, com 68% classificando o aumento “alto” ou “muito alto”. Sobre os impactos desse aumento, no entanto, ficou praticamente empatado quem achou que as influências foram maléficas e quem se mostrou indiferente.
Jornal da USP Foto ilustrativa
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