Com o começo do outono e o encerramento do fenômeno El Niño, que foi responsável por chuvas e secas intensas durante o verão em 2023 e 2024, a expectativa é de que no segundo semestre se inicie outro fenômeno meteorológico, o La Niña.
O professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo, analisa qual deve ser seu reflexo no clima e na produção do País.
Segundo o especialista, a situação que ocorre neste ano é inusitada, pois o intervalo entre o El Niño e La Niña será mais curto que o usual. Ele afirma que esse período entre os dois fenômenos, o qual é chamado de neutralidade, costuma durar muitos meses, mas neste ano acontecerá apenas entre os meses de abril e junho.
De acordo com o docente, o El Niño gera estiagem na região Norte e chuvas intensas na região Sul, como foi demonstrado com as recentes secas amazônicas e enchentes nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ele conta que o La Niña inverte a situação, então são esperadas fortes chuvas na Amazônia e temperaturas elevadas nas faixas central e sul do País.
“O aquecimento intenso da região do Mato Grosso do Sul e Pantanal deve permanecer até o segundo semestre, então é importante já estarmos alertas para redobrar a vigilância e reforçar as equipes de combate com o risco de incidência de queimadas e incêndios florestais. Resumindo, vamos ter um período de estiagem significativo e a temperatura deve permanecer acima da média do período”, informa.
Conforme Côrtes, a indústria de energia do País fez altos investimentos na geração solar e eólica, portanto, tem plenas condições de atender à demanda da população mesmo se a seca atingir os reservatórios de água das hidrelétricas. Ele afirma, contudo, que o consumo de energia das pessoas aumentou consideravelmente no último ano a partir do uso intenso de aparelhos como ares condicionados, geladeiras e freezers para reduzir o impacto das ondas de calor, e isso pode acabar gerando problemas no fornecimento.
“Nossas linhas de transmissão não têm problemas estruturais significativos e dão conta do recado, mas o problema está nas distribuidoras regionais. Temos visto, aqui em São Paulo, vários locais com falta de energia, sem que isso esteja vinculado a questões climáticas, porque são questões estruturais das distribuidoras locais que não se prepararam para atender a essa demanda crescente, que já vem desde o início da primavera”, analisa.
Segundo o professor, diversas hidrelétricas já receberam a orientação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para manterem o nível dos reservatórios alto, ou seja, para que reduzam a geração de energia neste momento, com o intuito de terem água suficiente para suprir o período de estiagem, evitando assim a necessidade de recorrer a fontes de energias mais caras, como as das termelétricas.
Agricultura-De acordo com Pedro Luiz Côrtes, os impactos desse fenômenos vêm causando transtornos também no setor agrícola e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) já se manifestou preocupada com a quebra de safra no País, principalmente a de soja. Ele completa afirmando que uma série de produtores de milho teve que atrasar o plantio por causa da falta de chuvas e agora não está conseguindo realizar a colheita.
“Alguns agricultores reclamaram com o governo, que sinalizou com a possibilidade de um financiamento emergencial por conta dessa possibilidade de quebra de safra. Nós não conseguimos negociar com o clima, mas nós temos ferramentas para antecipar o que pode acontecer e nos prepararmos para essa eventualidade”, finaliza.
Jornal da USP Foto Agencia Brasil
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