De acordo com dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), o estado é o que mais acumulou mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ em 2022. Ao todo, foram 27 casos, o que representa 10,5% dos casos notificados no país no ano passado. Ou seja, por aqui, cada mês registra uma média de mais de duas mortes por lgbtfobia.
Os números da Bahia superam estados com um quantitativo populacional três vezes maior, como São Paulo, que teve 25 mortes e fica em segundo lugar no indesejado ranking. Pernambuco, com 20 mortes violentas, fica em terceiro e é seguido por Minas Gerais, que fechou o ano passado com 18 crimes. Maranhão e Pará tiveram15 registros, cada.
"Não é a primeira vez que a Bahia ocupa esse lugar em relação aos outros estados. Em vários outros anos na última década, a Bahia estava em primeiro ou segundo lugar. No entanto, não há razão sociológica clara que permita dizer os motivos dos números mais elevados", pontua Luiz Mott, professor aposentado de Antropologia na Ufba e fundador do GGB.
Ao comentar as estatísticas locais, porém, Kleber Simões, historiador e pesquisador de temas LGBTQIA+, afirma que os índices baianos são tão altos por falta de políticas públicas que, de fato, reduzam a violência contra essa população, principalmente quando a motivação é o preconceito [homofobia, lesbofobia, transfobia].
"Ao longo dos anos, os governos negligenciaram a pauta LGBT+, com suas demandas e questões. Inclusive, a construção de políticas públicas voltadas à preservação da vida desta população, o que aumenta e deixa persistente a vulnerabilidade das pessoas LGBTs", aponta.
Ainda de acordo com Kleber, o que se vê na política é que as demandas dessa população são negociadas dentro da pauta pública. "Ao mesmo tempo que você não tem uma política sistemática que envolva a produção de órgãos específicos para a denúncia, coleta de dados e de punição dessa violência fatal, não se tem resposta a outros tipos de violência como a patrimonial, a moral e a sexual", enumera.
O pesquisador acrescenta, ainda, que os números se ampliam porque não há um órgão específico para tratar da questão. Procurada para responder sobre isso, a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) não respondeu sobre o assunto e nem deu detalhes de políticas de segurança voltadas à população LGBT+ do estado.
MEDO: Em números relativos, a Bahia também tem índices elevados de violência fatal contra pessoas LGBTQIA+. Enquanto a média de mortes dessa população no país é de 0,13 a cada 100 mil habitantes, o estado registra 0,18. Esses dados, por sua vez, se traduzem nas ruas e fazem com que as pessoas que são alvo dessa violência vivam com medo e, em muitos casos, evitem demonstrações de afeto em público.
"Ninguém fez nada quando ele me agrediu, ninguém parou para me ajudar. O motorista, que me viu pelo retrovisor, só fechou a porta e seguiu viagem. A gente vive acuada e com medo. Não pode nem responder uma ofensa para não apanhar, como aconteceu comigo", reclama Juliana, que prestou queixa da agressão em setembro do ano passado. Na época, ela também denunciou o caso pelas suas redes sociais
Correio 24hs Foto Agencia Brasil
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