A Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), Rio de Janeiro, um dos eventos mais importantes do calendário editorial e tem início nesta quarta-feira (23): depois de dois anos sem acontecer presencialmente, a FliP, em sua vigésima edição retorna excepcionalmente agora em novembro.
A Flip acontece entre os dias 23 a 27/11. Entre os temas a serem discutidos estão o futuro da Lei Cortez e do preço do livro no país, a indústria livreira como agente de inclusão e diversidade e as novidades no setor de audiolivros.
A Festa Literária de Paraty, em seus 20 anos de história, se posiciona como um laboratório de reflexão, em que encontros e atividades buscam pensar saídas para as crises contemporâneas.A Flip oferece experiência única, permeada pela literatura, cujo evento está sempre em conexão com uma manifestação cultural, que está reunida numa interlocução permanente entre as artes; além de propagar vivências focadas sobretudo na diversidade cultural.
Uma das presenças é da escritora Annie Ernaux vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, entre outros grandes nomes. A homenageada deste ano é a educadora e escritora Maria Firmina dos Reis.
Em defesa da cultura, origens e perspectivas da literatura de cordel o evento conta com a presença do escritor Aderaldo Luciano, doutor em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Aderaldo Luciano afirma que como forma poética o cordel nasceu no Recife, tendo como seu sistematizador Leandro Gomes de Barros, nascido em 1865 e que morreu em 1918. Essa defesa está publicada em seu livro Apontamentos Para uma História Crítica do Cordel Brasileiro, publicado pela Editora Luzeiro, de São Paulo.
A ideia é mostrar a força e a riqueza desse sistema poético que, como dizem os especialistas, uma coisa é o folheto, elemento meramente gráfico, outra o cordel, elemento-linguagem. A compreensão desses conceitos é essencial para acompanhar a discussão.
Outras formas de arte complementaram o cordel, como a xilogravura na confecção dos livretos. Outras beberam de sua fonte. Aderaldo lembra que quando a editora Prelúdio de São Paulo passou a publicar folhetos doou um novo formato ao cordel, com capas coloridas, papel melhor, letras trabalhadas. Ele conta que foi uma revolução. Já a Editora Luzeiro, sucessora da Prelúdio, transformou-se na maior e mais bem-sucedida editora de cordel do Brasil.
“Muitos folheteiros, como José Bernardo, culparam a Luzeiro pelo fim das folhetarias tradicionais no Nordeste. Quem produzia as capas eram grandes nomes das artes plásticas nacionais: Sérgio Lima, Eugenio Colonese, Seabra, Smaga. A Luzeiro passou a quadrinizar o cordel. Até hoje é reeditado o Pavão Misterioso em quadrinhos. No cinema, O Homem Que Virou Suco, de João Batista de Andrade, é um exemplo, usou o cordel como matéria principal. O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, é inspirado em três folhetos de cordel. A música nordestina tem a base no cordel e na cantoria. As artes plásticas e até a arquitetura seguiram temas cordelísticos. Há inclusive presença do cordel na moda. O cordel é uma ordem”, destaca.
"O cordel sofre com o preconceito das elites culturais. O conhecimento, no Brasil, foi construído verticalmente. é uma forma de opressão e não de libertação. Nossos intelectuais são chegados à opressão do povo. Então os intelectuais criticam a maneira do povo falar, se vestir, comer, cantar e até transar. É horrendo o cenário. O cordel sofre com esse mesmo mal. Minha tese de doutorado é pioneira nos estudos literários sobre o cordel. É a primeira na pós-graduação em Letras, Ciência da Literatura, Poética, que reivindica o olhar literário para o cordel, seu lugar de direito. De 2009 para cá, o movimento tomou um corpo imenso. Várias teses foram surgindo e citando meu livro Apontamentos Para uma História Crítica do Cordel Brasileiro como referência. Em 2018, o conselho do Iphan reconheceu o cordel como patrimônio cultural imaterial brasileiro. Não foi Portugal. Isso prova minha tese. O cordel é brasileiro. É literatura brasileira. É poesia brasileira", diz Aderaldo Luciano.
A festa literária também conta com eventos paralelos, com opções como ioga e meditação, além de atividades para crianças na Central Flipinha.
A curadoria neste ano é coletiva e fora do eixo Rio-SP. São eles: Fernanda Bastos, jornalista gaúcha, Milena Britto, professora da UFBA, e Pedro Meira Monteiro, que é de São Paulo, professor na Universidade de Princeton.
Redação redeGN Foto Redes Sociais
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