Em reta final para o segundo turno, as campanhas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) focam nas 32,3 milhões de pessoas que poderiam ter votado no primeiro turno, mas não foram exercer o voto.
Nas cidades em que Bolsonaro venceu no primeiro turno, em 2 de outubro, 16,4 milhões eleitores não compareceram às urnas. Já na cidades que ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu na primeira etapa do pleito foram 15,9 milhões de abstenções, 2% menos que Bolsonaro.
Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e foram compilados pela CNN em meio às discussões das duas campanhas sobre o que fazer para evitar uma abstenção maior no segundo turno no comparativo com o primeiro.
De acordo com o cientista político Jairo Nicolau, que se debruçou sobre a geografia da abstenção no primeiro turno da eleição deste ano, não há nenhum dado que demonstre que qualquer um dos dois candidatos tenha sido mais prejudicado pela abstenção no primeiro turno.
“Há uma superestimação do papel da abstenção no primeiro turno. Não tem nenhuma explicação que ela tenha prejudicado Lula e ajudado Bolsonaro, por exemplo”, afirmou o professor titular da Fundação Getúlio Vargas.
A média das abstenções em todo país foi de 20,9%. Em 2.845 cidades a abstenção foi maior que a média, chegando a mais de 40% nas cidades de Santo Antônio do Itambé e Rio Vermelho, em Minas Gerais, as que registraram maior número de eleitores que não foram às urnas no último dia 02.
Nesse grupo de municípios, Lula saiu vencedor em 1721 cidades, contra 1123 em que Bolsonaro sagrou-se vencedor no primeiro turno.
Minas Gerais, que tem o maior eleitorado do país, concentra as cidades com mais alta abstenção (acima de 30%). Jairo Nicolau explica que ela também foi maior nos Vales do Jequitinhonha e Mucuripe, no Norte de Minas Gerais, e foi grande também na Bahia, Maranhão e em áreas das Regiões Norte e Centro-Oeste.
Mais que um fenômeno exclusivamente político, ou seja, o eleitor não vai votar porque não gosta de candidatos ou não se interessa por eleições, a abstenção eleitoral é fruto de uma composição de fatores, explica Jairo Nicolau.
Entre os pontos indicados pelo professor, estão a ausência de recadastramento biométrico que atualiza o cadastro de eleitores municipais; a distância de deslocamento até as seções eleitorais em áreas do Norte/centro-Oeste; ausência de jovens de 16 e 17, analfabetos e pessoas de mais de 70 anos para quem o voto não é facultativo, e a demora para eliminar os mortos da lista de votantes (atraso que pode ter sido agravado pela pandemia).
CNN / foto: Ricardo Stuckert/Isac Nóbrega
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