Em agosto, o verde da Amazônia se tornou cinza como não ocorria há 12 anos. Segundo o sistema de monitoramento dos focos de calor na região, o mês de agosto teve 33.116 pontos de fogo. É o maior número de ocorrências do mês desde 2010, quando houve registro de 45 mil focos. Os dados foram divulgados ontem pelo Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), via-satélite. A maioria dos alertas emitidos pelo Inpe acontecem entre agosto e setembro.
O índice de focos de calor está acima da média histórica para este mês. Também é o quarto ano consecutivo do governo de Jair Bolsonaro (PL) que o número fica acima de 28 mil focos de calor. O índice é superior à média histórica para o mês, que está em 26 mil.
Em 22 de agosto deste ano, o bioma teve o pior dia de queimadas em 15 anos, com um total de 3.358 focos. O número foi três vezes maior que o "Dia do Fogo". Especialistas explicam que, em geral, os focos de incêndio acontecem na Amazônia entre junho e outubro.
Para o coordenador da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil, André Freitas, os números publicados pelo Inpe são o reflexo de uma política governamental antiambientalista.
"As queimadas são sintoma de uma política governamental, antiambiental, que ainda vê a floresta como obstáculo ao desenvolvimento. Uma visão totalmente retrógrada, anacrônica", critica. "E é importante ressaltar que o governo federal editou um decreto em 22 de junho, de nº 11.100, que proíbe queimadas na Amazônia e também no Pantanal. O decreto é de aplicação imediata. Ou seja, todas as queimadas que estamos vendo agora, salvo algumas exceções, são ilegais", alerta.
Em relação aos focos de incêndio registrados desde o início do ano até agosto, a Amazônia acumula 46.022 registros. Em 2021, o mesmo período marcou 39.424 registros. No início de agosto, dados do sistema Deter do Inpe indicaram que o acumulado de alertas de desmatamento em 2022 na Amazônia Legal foi de 8.590km quadrados.
"Há operações de combate e controle, mas até os brigadistas são ameaçados. É uma zona de combate. No ano de 2019 foi o estopim, a grilagem aumentou bastante desde 2019 as queimadas estão ligadas a expansão do agronegócio", afirma Heitor Pinheiro, analista do programa Geopolítica da Conservação da Fundação Vitória Amazônica.
MUNICÍPIOS RECORDISTAS: Os municípios com maior registro de focos de incêndio acumulado de 2022 foram: Altamira (Pará), São Félix do Xingu (Pará), Apuí (Amazonas), Novo Progresso, (Pará), Porto Velho (Rondônia), Lábrea (Amazonas), Colniza (Mato Grosso), Novo Aripuanã (Amazonas), Itaituba (Pará) e Manicoré (Amazonas).
Desde 23 de junho, após a publicação do decreto 11.100, ficou proibido o emprego do fogo no território nacional pelo prazo de 120 dias. Em 18 de agosto, o Greenpeace sobrevoou a região da Amacro (Amazonas, Acre e Rondônia) e flagrou uma quantidade alarmante de desmatamento e focos de incêndio.
"Flagramos nesta região um maior desmatamento da Amazônia esse ano. Foram oito mil hectares, o equivalente a onze mil campos de futebol. Ou seja, para fazer uma agressão como essa, uma ilegalidade como essa, é preciso muito capital financeiro. Nós estamos vivendo um total descontrole na política ambiental do Brasil", lamenta André Freitas, coordenador da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.
Ambientalistas também frisam que as queimadas e o desmatamento acelerado no bioma têm sido a principal causa da violência no campo.
O Correio entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente para tratar do número de queimadas na Amazônia, mas não houve resposta até o fechamento desta reportagem. O espaço permanece aberto.
Correio Braziliense Foto Agencia Brasil
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