Morreu na tarde deste sábado (27), aos 103 anos, Sebastião Biano, membro da formação original da Banda de Pífanos de Caruaru. O eterno "Beatle de Caruaru" estava internado no Hospital São Lucas, em Ribeirão Pires, no estado de São Paulo, há cerca de 10 dias.
Único membro que estava vivo da formação original da Banda de Pífanos de Caruaru, o músico influenciou movimentos como a Tropicália e o Manguebeat. 'A música veio pronta para mim', afirmava o mestre.
Ainda chamada de Bandinha de Pífano Zabumba Caruaru, o grupo gravou o primeiro disco em 1972. "Música nativa, pura, cristalinamente brasileira, nascida dentro de canudos de mamão ou de bambu, com ritmo batido em couro de cobra. É som de Nordeste, som de Brasil", diz texto assinado por Luiz Queiroga na contra capa do álbum.
Os cantores e compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil reconheceram em vários depoimentos a importância da Banda de Pífanos para o surgimento da Tropicália. Foi em Caruaru que Gilberto Gil percebeu que era possível unir o arcaico e o ultramoderno para produzir uma música brasileira de vanguarda.
Conta a história que Gilberto Gil andava muito impressionado com o então recém-lançado single dos Beatles, Strawberry Fields Forever, em 1967, quando foi fazer uma temporada de shows em Pernambuco, em maio daquele ano. Gilberto Gil apelidou a bande de pife de “Beatles de Caruaru”.
Este fato é afirmado por Caetano Veloso, em seu livro Verdade Tropical (Companhia das Letras, 1997). Caetano fala que Gilberto Gil “dizia-se apaixonado por uma gravação dos Beatles chamada "Strawberry fields forever", que, a seu ver, sugeria o que devíamos estar fazendo e parecia-se com a "Pipoca moderna" da Banda de Pífanos”.
A sintonia divina com a música, fez com que ele escutasse a banda de pífanos tocar na rádio, por ocasião da transmissão da posse de Miguel Arraes em 1962, e quando soube que Carlos Fernando, um de seus cicerones locais, era caruaruense, pediu que o levasse a Caruaru para conhecer o grupo. Ao assistir à apresentação, Gil teve um insight: o timbre dos pífanos se assemelhava às dissonâncias do mellotron, instrumento então de última geração utilizado na introdução do single dos Beatles".
Numa das suas composições, Forrozear, Gilberto Gil cita Sebastião Biano. Uma das canções que impressionou Gilberto Gil naquela visita a Caruaru foi "Pipoca Moderna". A música instrumental de Sebastião Biano abre o disco Expresso 2222, lançado em 1972 e o primeiro após o exílio em Londres.
A contribuição para a música brasileira rendeu prêmios nacionais e internacionais. A Banda de Pífanos de Caruaru venceu o Grammy Latino na categoria Melhor Grupo Regional de Raiz, com o disco Banda de Pífanos de Caruaru: No Século XXI, em 2004. Um ano depois, com o mesmo álbum, levou o Prêmio TIM de Música de Melhor Grupo na categoria regional.
Filho de uma família retirante da seca, nasceu em Mata Grande, no Sertão de Alagoas, e atravessou o século XX tocando pífano. Nos anos 1970, já com a banda conhecida em todo o país, estabeleceu-se em São Paulo, onde reside atualmente.
O sobrinho de Sebastião, João Biano, informou que o tio estava com dificuldade para respirar e se alimentar. Foi quando a família decidiu levado até uma unidade de saúde. "Entrou água no pulmão e ele foi piorando até o dia de hoje, infelizmente", lamentou.
De acordo com João, o horário do sepultamento não foi definido, mas será na cidade de Suzano, também em São Paulo, no domingo (28). "A banda vai se apresentar e cantar 'Sebastião Biano, Banda de Pífano Agreste Azul...' Foi-se Sebastião Biano, mas ficou Caruaru", ressaltou o sobrinho do "Beatle de Caruaru".
Por meio de nota, o prefeito de Caruaru, Rodrigo Pinheiro, disse que recebeu, "com profunda tristeza, a notícia do falecimento do mestre pífano, Sebastião Biano, grande homem que tanto representou Carauru e nossa cultura. [...] Toda a equipe da Prefeitura de Caruaru, lamenta, profundamente, a partida deste grande nome da cultura popular. Aos amigos, familiares e colegas, nossos sinceros sentimentos".
OS 100 ANOS: Sebastião Biano, um dos maiores nomes da música brasileira, chegou aos 100 anos em 23 de junho de 2019, véspera de São João. O retorno a Caruaru, cidade no Agreste de Pernambuco onde passou grande parte da vida, aconteceu três anos após receber o título de Cidadão Caruaruense.
Naquele ano, ele foi um dos homenageados do São João 2019 do município e também se apresentou nos festejos juninos. Filho de uma família retirante da seca, nasceu em Mata Grande, no Sertão de Alagoas, e atravessou o século XX tocando pífano. Nos anos 1970, já com a banda conhecida em todo o país, estabeleceu-se em São Paulo.
Sebastião Biano aprendeu a tocar pífano aos cinco anos de idade. Ainda na infância se apresentou para o cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião, cena que não sai da memória do artista.
"Ele chegou com um chapéu de couro na cabeça, armado, com dois 'bisacos' de bala e cartucheiras no 'bucho'. Ele saiu pesado de dentro do mato com os cangaceiros, eles pareciam uns bichos. Lampião mandou tocar o toque dele. Foi o que ele pediu e nós tocamos", relembrou Biano em entrevista à TV Asa Branca em 2015.
Redação redeGN Fotos arquivo Ney Vital
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