Uma publicação da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) detalha a atualização dos dados da área ocupada pela agropecuária no País.
Os novos dados têm importantes repercussões para modelos de uso da terra e políticas públicas para a promoção de uma agricultura e bioenergia sustentáveis.
O trabalho apresenta os resultados de uma iniciativa inédita conjunta entre a Embrapa e a FAO para atualizar parâmetros essenciais a um grande número de modelos e uso da terra, como a área de uso agropecuário da terra, a frequência de cultivo agrícola e a área de cultivo na segunda safra, com base em estatísticas oficiais.
O presente estudo é o primeiro a fornecer estimativas de área de segunda safra para toda a área agrícola do Brasil, bem como informações sobre as principais culturas que contribuem para ela, e podem ser utilizadas como base para estimativas das áreas de dupla safra.
Os autores do Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 93 (Uso agropecuário da terra, frequência de cultivo e área de segunda safra no Brasil: estatísticas da FAOSTAT e novas estimativas), publicado em inglês com o título “Brazil's agricultural land, cropping frequency and second crop area: FAOSTAT statistics and new estimates”, detectaram inconsistências nas estimativas da FAOSTAT e da literatura quanto a esses parâmetros.
O analista da Embrapa Meio Ambiente Renan Novaes, primeiro autor da obra, explica que “a atualização dos dados da FAOSTAT levou a uma mudança na área de agricultura e pastagem do Brasil para 63 e 172 milhões de hectares em 2016, respectivamente, 28% e 12% menores do que os valores anteriores”, salienta ele.
Novaes pontua que “as estimativas podem ter reflexo em vários modelos e parâmetros, como por exemplo na frequência de cultivo (FC). Esse parâmetro é calculado pela divisão da área colhida pela área ocupada e quanto maior, maior é o aproveitamento agrícola da terra. No caso do Brasil, as estimativas anteriores apontavam para valores abaixo de 1; com as atualizações, a frequência de cultivo no Brasil passa a ser maior que 1.2, o que resulta 30% superior às estimativas atualmente presentes na literatura e à média global”.
Os autores também disponibilizam uma estimativa inédita da área agrícola do Brasil em segunda safra. Segundo a publicação, a área de segunda safra em 2017 pode ter alcançado 16 milhões de hectares, um aumento de 92% desde 2006. Novaes enfatiza que “em 2017, isso representava 21% da área total colhida no Brasil, sendo composta principalmente de milho (68%), trigo (13%) e feijão (6%). Ou seja, de cada 100 hectares de agricultura no Brasil, cerca de 20 ha são cultivados duas vezes no mesmo ano”.
Os autores informam que os procedimentos metodológicos do levantamento foram realizados em três etapas distintas. A primeira etapa consistiu na revisão e atualização das estatísticas agrícolas da FAOSTAT registradas para o Brasil, com base em dados nacionais oficiais. A segunda e terceira etapas consistiram em estimar a FC e a área de segunda safra no Brasil, respectivamente.
Os autores da FAO rastrearam a história de fornecimento de dados pelo Brasil. De acordo com o estatístico sênior da FAO Francesco Tubiello, “o último questionário sobre uso da terra recebido pelo governo brasileiro foi em 1995, reportando uma área agrícola de 65,5 milhões de hectares. Desde então, nenhum dado adicional foi enviado pelo País, e a FAO vinha completando essas lacunas de informação com imputações e dados extraídos de outros relatórios governamentais, inclusive, até esta publicação, com resultados preliminares do Censo Agropecuário de 2006 (agora totalmente atualizado na FAOSTAT), complementado com informações sobre área colhida, disponíveis na FAO a partir de outras fontes”, esclarece.
Os novos dados oferecem uma representação atualizada da agricultura brasileira e, se adotados, podem ajudar a abordar melhor a sustentabilidade do uso da terra agrícola no Brasil. Os autores explicam também que as estimativas apresentadas no presente estudo devem ser consideradas como pontos de partida para novos refinamentos baseados em fontes de dados mais amplas e diferentes.
“Consideramos apenas os dados censitários e estatísticos de culturas comerciais disponíveis nas bases de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, a definição de safras e padrões sazonais regionalizados baseou-se em simplificações gerais e em nível estadual”, explica Novaes.
Ele informa também que vários termos diferentes associados ao seu conceito estão disponíveis na literatura, “gerando confusão e nem instituições brasileiras nem internacionais contabilizam sistematicamente esses parâmetros de forma abrangente”, sinaliza. Com relação a sua abrangência, os resultados atuais poderiam ser incrementados ainda com dados de outros usos agrícolas presentes no Brasil, como cultivos de forrageiras e sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta.
Para ele, o detalhamento dessas definições, a contabilização sistemática desses parâmetros pelas instituições de estatísticas agrícolas, e o uso de dados derivados de SIG (sistema de informação geográfica) podem ajudar a refinar e validar ainda mais essas estimativas no futuro.
“Acreditamos que melhorias adicionais nos dados e métricas podem ajudar a representar melhor os sistemas de uso da terra no Brasil e no exterior, bem como possibilitar medidas mais efetivas focadas em alcançar a sustentabilidade agrícola e bioenergética”, finaliza.
Ascom Embrapa Foto Divulgação
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