Geraldo Alckmin abraçando o Lula nos novos tempos
“Em ano eleitoral [...] são diversas as situações e configurações de quadros políticos por coligações antes inimagináveis. Nessa ocasião se sucedem os afagos de tamanduá dos inimigos de ontem, juras de amor e fidelidade de adversários que se trucidavam no passado, e tantos outros maus exemplos que ferem a boa decência a certos princípios éticos, nem sempre muito presentes na política”. (Crônica “Abraço de afogado-I”, do autor, publicada em 01/08/2011).
Ao assistir aos vídeos antigos com os discursos do ex-governador de S. Paulo, Geraldo Alckmin (ex-PSDB), nos quais de forma enfática descarregava conceitos contundentes contra o Lula e o PT, logo pensei em elaborar uma segunda edição da crônica de 11 anos atrás, agora como “Abraço de afogado - II”, em razão do quanto o tema se torna atual, diante do estado de afogamento em que se encontra o Sr. Alckmin, buscando a salvação no abraço do inimigo do passado, que tanto repudiava. Se alguém profetizasse isso, naquela época, seria xingado e massacrado ou até mesmo ameaçado, face ao absurdo da profecia.
Esse é o verdadeiro perfil dos políticos que, diante de novas circunstâncias na sua trajetória, curvam-se de maneira humilhante e vergonhosa, exibindo uma enorme inconsistência na sua estrutura ideológica. Esse é o momento em que torna claro que a prioridade maior é o desejo de estar no poder.
Por se tratar de uma liderança tradicional do PSDB, com um brilhante currículo político desde Vereador em Pindamonhangaba-SP, a sua terra natal, a Deputado Estadual e Federal, e quatro vezes Governador de S. Paulo, além de duas vezes candidato derrotado à Presidência pelo próprio Lula, o médico Alckmin teria de ter mais cuidado com a preservação da sua imagem. Não ter assumido com dignidade a derrota imposta pelo seu Partido nas prévias internas para escolha do candidato à Presidência da República neste ano, foi uma atitude deplorável. Depois de derrota em duas eleições, deveria se recolher à preservação, de forma honrosa, do seu belo currículo político construído ao longo do tempo.
Sem qualquer identificação com a esquerda, abandonar o seu Partido e migrar para o PSB só pelo aceno do seu antigo desafeto político, o Lula, a coligação vai apenas lhe oferecer a possibilidade de vislumbrar o poder, ainda que como Vice. Não acredito que na disputa petista somará os dividendos eleitorais esperados... E quem viver, verá!
As pesquisas atuais sinalizam certa vantagem percentual para o PT, sobretudo pela sensibilidade gerada nos seus seguidores históricos, diante da condição do seu líder, de recém presidiário por dois anos. Não deixa de ser importante lembrar ao Lula e ao PT, que a condição política do Geraldo Alckmin, traz à lembrança uma regra básica, que “o pânico que domina uma vítima de afogamento iminente, quando ela busca a salvação no abraço solidário de alguém que está mais próximo... geralmente, vão os dois ao fundo!” (Abraço de afogado-I).
Não tenho a intenção, aqui, de colocar em julgamento condenatório o Sr. Alckmin. Mas, se foi reprovável a sua postura diante das prévias do seu Partido, mais lastimável foi a sua abrupta conversão ao PT, visto a inexistência de qualquer correlação ideológica com a esquerda, de quem sempre foi adversário histórico. Diria que a sua filiação partidária ao PSB é uma mera conjuntura política ou, talvez, uma questão de oportunidade. E aqui, sem sombra de dúvidas, podemos chamá-lo de oportunista de primeira hora!
Até 6 meses antes do próximo pleito, o cenário do pula-pula entre partidos estará na devida proporção do tradicional toma-lá-dá-cá, essa triste e tradicional prática institucionalizada em nossa política. Já não bastam as incertezas reinantes quanto ao perfil dos principais concorrentes que aí estão. Que o nosso eleitor receba a inspiração Divina no pleito de 2022, que o permita se livrar das falsas promessas de sempre, bem como dos candidatos sujos e mal lavados que estão por aí!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Aposentado do Banco do Brasil Salvador – BA.
14 comentários
27 de Mar / 2022 às 23h12
Parabéns pelo brilhante artigo, nobre amigo. Politicagem é coisa de corruptos apegados ao poder. Os dois são farinhas do mesmo saco: de péssima qualidade. O Sr. Alckmin foi convidado por conveniência do falso Messias que tenta voltar para a "cena do crime" como disse o próprio ex-governador de São Paulo. Como diria a Bíblia Sagrada: o mentiroso engana e é enganado. (Nordestina-BA).
27 de Mar / 2022 às 23h14
Qualquer político para ganhar apoio despreza as inimizades e se alia aos ex-inimigos, é o que penso. Muito oportuna a sua crônica, mais uma vez. Parabéns! (Salvador-BA).
27 de Mar / 2022 às 23h18
"As pesquisas atuais (falsas, a meu ver)sinalizam certa vantagem percentual para o PT, sobretudo pela sensibilidade gerada em seus seguidores históricos (triste constatação), diante da condição de seu líder de recém presidiário por dois anos." Que paradoxo! O "cara" ostenta a condição de ex presidiário - fosse presidiário político, tudo bem - mas presidiário por corrupção, safadesa, roubo que lhe valeu condenação em três instâncias - é para qualquer eleitor envergonhar-se de ser partícipe desse processo. QUE PAÍS É ESSE? (Salvador-BA).
27 de Mar / 2022 às 23h27
Parabéns pelo artigo. Boa parte dos políticos fazem de tudo pelo poder, perde o caráter, a honestidade e a confiança dos cidadãos de bem. (Salvador-BA).
27 de Mar / 2022 às 23h32
O granteatro de enganação social que é o primor da putrefação desse sistema imundo a que nós somos submetidos. (Uauá-BA).
27 de Mar / 2022 às 23h40
Os caras tiram e mudam outras coisas quanto mais que o moço tirou apenas a letra D do seu antigo partido (PSDB). Quanto ao contexto geral do Artigo a pergunta é: quem perdeu vergonha para eles acharem?
27 de Mar / 2022 às 23h41
Se for para derrotar o maluco e incompetente Bolsonaro, vale tudo!! (Salvador-BA).
27 de Mar / 2022 às 23h49
Parabéns, Agenor. pelo excelente artigo!
28 de Mar / 2022 às 00h11
Muito boa sua crônica! Reflete a imagem sobre classe política no País que não tem ideologia e só pensam no poder. Guinada de 180 graus do Alckmin pulando da direita para esquerda. (Salvador-BA).
28 de Mar / 2022 às 00h22
Esperando que essa dupla reconstrua o que a direita extremada destruiu... (Salvador-BA).
28 de Mar / 2022 às 07h13
Caro Agenor, por algumas vezes já lhe disse (e volto a repetir) que as suas crônicas não envelhecem, especialmente aquelas relacionadas ao cenário da política nacional. 10 anos e loja virtual 7 messes depois da sua primeira edição, a única coisa que mudou foi alguns nomes, já que a forma de “barganhar”, continua a mesma. Parabéns pela sua ótica visionária.
28 de Mar / 2022 às 12h29
Abraço de Afogado poderá render uma série incrível, porque muitos serão os eventos que ainda teremos. Assim é o Brasil. A junção Lula X Alckmin poderia repercutir muito mal para os eleitores fiéis do PT. Digo poderia, em razão de Lula ter consolidado uma “gordura” espessa e, se necessário (e acho que será), a utilizará, dando enorme sabor a sua eventual vitória. Em qualquer cenário, é perigoso, solitário, tentar salvar alguém se afogando. Parabéns pelo texto! (Salvador-BA).
28 de Mar / 2022 às 12h30
Quem diria que isso aconteceria um dia, hein!! Acho que o Alkmin deu um tiro no pé, pois acredito que o eleitorado paulista não vai perdoá-lo. (Salvador-BA).
28 de Mar / 2022 às 13h35
Artigo com viés fascista. Nitidamente em defesa do capitalismo selvagem. Lula é o horizonte para superarmos minimamente a nossa tragédia histórica. Texto reacionário.