Avaliar se a carne caprina, também conhecida como carne de bode, comercializada em Petrolina (PE) tem a quantidade de microorganismos permitidos pela legislação brasileira. Esse é o objetivo da pesquisa, que resultou na dissertação de mestrado da egressa Juliana Oliveira de Miranda, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias no Semiárido (PPGCVS) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).
O estudo aborda itens como qualidade de produtos de origem animal, segurança alimentar, qualidade microbiológica, contaminação alimentar, agentes antibióticos, bactérias multirresistentes e faz um comparativo entre as carnes comercializadas em feiras livres, mercados e açougues na cidade.
Os resultados do trabalho, orientado pelo professor Rafael Torres de Souza Rodrigues e coorientado pelo professor Mateus Matiuzzi da Costa, foram publicados no artigo “Prevalência, formação de biofilme e resistência antimicrobiana de isolados de Escherichia coli, Staphylococcus aureus e Salmonella provenientes de carne caprina comercializadas em Petrolina, Brasil”, na revista Food Protection Trends, da Associação Internacional para Proteção de Alimentos.
O estudo, realizado entre 2019 e 2020, aponta que 35% das amostras de carne comercializadas em feiras livres estavam com contagem de bactérias mesófilas aeróbias acima do limite estabelecido pela normativa brasileira, enquanto nenhuma das amostras comercializadas em mercados e açougues ultrapassou esse limite.
Também foi observado que 65% das amostras de feiras livres e 75% das amostras de mercados e açougues estavam contaminadas com a bactéria Staphylococcus aureus, que pode produzir substâncias responsáveis por intoxicação alimentar. Ao comparar as carnes comercializadas nas feiras livres e nos mercados e açougues, constatou-se que o nível de contaminação é semelhante.
Outro resultado destacado na pesquisa mostrou que 25% das amostras, tanto de feiras livres, como de mercados e açougues, tiveram contaminação pela bactéria Salmonella. Os pesquisadores ressaltam que a legislação brasileira não permite a presença dessa bactéria em amostras de carne, pois ela pode causar intoxicação alimentar e, em casos raros, pode provocar grave infecção e morte do indivíduo contaminado, sendo responsável pela zoonose (doença transmitida por animais aos humanos) conhecida como Salmonelose.
Para a realização do estudo, Juliana coletou amostras de carne diretamente das bancas das feiras livres, mercados e açougues de Petrolina, que foram analisadas no Laboratório de Microbiologia Imunologia Animal, localizado no Campus Ciências Agrárias (CCA) da Univasf. Ao todo foram coletadas 40 amostras, sendo 20 de feiras livres e 20 de mercados e açougues.
Segundo Juliana, com a realização deste trabalho foi possível determinar quais são os riscos de contaminação microbiana aos quais a população de Petrolina está predisposta ao consumir carne caprina vinda de abates clandestinos e comercializada de forma inadequada. “Os resultados da pesquisa contribuem para o fortalecimento dos Arranjos Produtivos Locais da Caprinocultura do estado de Pernambuco, uma vez que apresenta informações sobre os riscos de consumo de carne caprina clandestina, o que poderá estimular o setor produtivo a modernizar a produção e distribuição desse produto, seguindo os requisitos sanitários”, pontua a autora, que destaca que o estudo pode servir de subsídio técnico-científico para a implantação de políticas públicas visando à erradicação da comercialização ilegal de carnes em Pernambuco.
O professor Rafael Torres de Souza Rodrigues aponta que, embora Petrolina seja a principal consumidora de carne caprina no Brasil, sofre com a falta de locais adequados para o abate desses animais. “No período da pesquisa, o abatedouro municipal, localizado na sede de Petrolina, estava fechado e a situação era ainda mais grave. O município contava com apenas um abatedouro localizado em Rajada, distrito de Petrolina, que não tinha capacidade para atender toda a demanda”, diz Rodrigues, que destaca que o abatedouro municipal voltou a funcionar e, após a reabertura, a vigilância na cidade foi intensificada.
O professor recomenda que os consumidores cozinhem bem o produto, para causar a destruição desses micro-organismos e, além disso, evitem usar os mesmos utensílios domésticos para manusear as carnes cruas e outros alimentos, principalmente os que não serão cozidos, assim evitando a contaminação de um alimento para outro. De acordo com Rodrigues, no PPGCVS há outras pesquisas em andamento sobre alimentos como carne de ovinos, buchada e galinha caipira.
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