"Lamentavelmente, encontro-me desolada ao ver a forma com o Poder Público (governo municipal, políticos em geral e o Ministério Público Estadual), juntamente com os meus colegas, profissionais de educação, estão tratando os nossos alunos. É triste, ou melhor, é desumana e vergonhosa essa precarização do ensino fundamental em nosso município". Esse é o trecho inicial de uma texto enviado por uma funcionária pública de Juazeiro, ao fazer uma reflexão sobre o sistema educacional.
A profissional, cuja identidade será ocultada a pedido da mesma, diz trabalhar na educação há mais de 20 anos. Ela começa seu texto refletindo sobre a pandemia da covid-19, que ocasionou nas aulas remotas, mas que os alunos "ficaram a mercê da própria sorte", por falta de equipamentos, o que causou "perdas irreparáveis no quesito ensino/aprendizagem". Critica ainda muitos profissionais de educação que se recusaram a voltar com as aulas presenciais, mas estavam aglomerando em outros espaços.
Leia na íntegra
Sou funcionária pública do município de Juazeiro Bahia, trabalho na educação há mais de 20 anos e, lamentavelmente, encontro-me desolada ao ver a forma com o Poder Público (governo municipal, políticos em geral e o Ministério Público Estadual), juntamente com os meus colegas, profissionais de educação, estão tratando os nossos alunos. É triste, ou melhor, é desumana e vergonhosa essa precarização do ensino fundamental em nosso município.
Cito-lhes agora os porquês:
1 - Foram 02 anos de pandemia, nossos alunos ficaram a mercê da própria sorte, sem internet em casa para acessar as aulas online, sem um aparelho celular ou computador e sem acompanhamento adequado, grande parte das crianças e adolescentes que estudam em nossa cidade tiveram perdas irreparáveis no quesito ensino/aprendizagem, sem falarmos em outras tantas que os afetaram de maneira irreversível.
2 - Alguns professores, no final do ano passado, optaram por não voltarem as aulas presenciais, alegando medo da covid-19, mas, muitas delas, não se furtaram ao direito de aglomeram em outros ambientes, fora da sala de aula, como festas, bares, Resorts, etc. Dessa forma, muitos dos nossos alunos continuaram a assistir aulas online, detalhe, um percentual que não chega nem a 50% do alunado, os poucos que ainda têm condições de ter esse acesso. Isso porque, à maioria deles, faltava-lhes até o alimento à mesa, imagina se teriam condições financeiras pra arcarem com a internet e todos os aparatos tecnológicos que essa modalidade de ensino exige?? Dessa forma e dada tal circunstância, temos como resultado, mais prejuízo para a educação desses menores.
3 - Agora, início do ano letivo em todos os estados do país, Juazeiro, acredito que o único município da Região Norte da Bahia, que ainda não retomou às aulas presenciais, encontra-se num cenário de paralisação dos professores, os quais reivindicam um reajuste salarial de 33,24%. Concordo que todo profissional, seja ele da educação, da saúde, da segurança ou de qualquer outra área, deve sim ser valorizado e ganhar o suficiente para trabalhar com estímulo e dignidade. Porém, não posso me furtar do direito de falar o quanto lamento o egoísmo desses profissionais da educação, ante um cenário tão angustiante e incerto que foi o da pandemia, do qual já não temos mais tantos medos, ao menos no que se refere ao risco à saúde, (graças a vacinação de boa parte dos brasileiros). Não acho justo, nem vou aplaudir ou me calar diante de tanta falta de amor e comprometimento por parte de meus colegas da secretária de educação, nem irei eximir a Administração Pública Municipal da culpa e negligencia, naquilo que se refere ao cuidado com o future e a educação dos nossos menores.
4 - Passar por tantas perdas e chegar praticamente ao "fim da pandemia" tendo que enfrentar um cenário de greve de Professores... Como assim, minha gente? Usem o bom senso, tenham empatia pelos menos favorecidos. Sentem e resolvam a situação desses alunos, dessas famílias que estão chegando às nossas escolas tomadas por um sentimento de desamparo e descaso total. Senhores políticos, representantes do MP, professores(as) tenham consciência do papel importante de todos vocês na vida desses jovens. Revistam-se de humanidade e não torne ainda mais difícil e precária a vida dessas famílias que tanto já perderam frente a esse cenário que só aumenta as desigualdades.
Nossas mães, pais e nossos alunos merecem respeito... A Educação é um direito social que não deve ser negado, tampouco negligenciado. Trata-se de um direito fundamental e nele está inserido um processo de desenvolvimento individual próprio à condição humana, Não podemos privar os nossos alunos do acesso à educação. Num país marcado por tantas desigualdades deve ser prioridade em qualquer governo que se prese, dar prioridade a educão, porque só através desta, poderemos alcançar a consolidação da cidadania e a tão sonhada justiça social.
Da Redação RedeGN
5 comentários
14 de Mar / 2022 às 16h36
Só corrigindo a professora. Preze, e não Prese.
14 de Mar / 2022 às 17h36
Absurdo essas aulas remotas , até grávida já voltou p trabalhar não tem pq aula online
14 de Mar / 2022 às 17h37
trabalhe somente com o amor então senhora professora, a luta é digna, e lei tem que ser cumprida! reclame com os governantes e não vá de contra a sua classe!
14 de Mar / 2022 às 19h49
Mais pro estado da Bahia quanto mais burro melhor
15 de Mar / 2022 às 09h19
Cara colega, infelizmente foi preciso chegar a esse ponto de paralisação. Concordo que não deveríamos. Mas, não têm como chamar atenção do patrão de outra maneira. Assim como os alunos, nós professores fomos bastante penalizados na Pandemia, fizemos de tudo e mais um pouco com recursos próprios, porém chegou a hora de unir forças e não aceitar nem como vêem nos valorizando nem tão pouco como vêem tratando o ensino/aprendizagem. As aulas não retornaram presencial no momento, por falta de logística e organização da rede municipal. A luta tem que ser agora. Junte-se!