A Neonergia Coelba iniciou as mudanças na rede de energia elétrica da região da Caatinga, na Bahia, após ser acionada pelo Ministério Público (MP-BA), que registrou a mortandade de pelo menos 50 araras-azuis-de-lear, uma espécie rara e ameaçada de extinção.
Dois inquéritos civis foram instaurados para apurar as mortes das aves foram provocadas por choque elétrico, nos fios da rede de energia, nos municípios baianos de Euclides da Cunha e Paulo Afonso.
Segundo a Coelba, responsável pelo fornecimento de energia elétrica, foi feita a inversão da posição da fiação e ampliação do espaço entre os fios dos postes. As medidas reduzem as possibilidades do contato das aves com a rede elétrica o que, consequentemente, deixa de provocar os curtos-circuitos, além da diminuição de choques e novas mortes.
"A redisposição de algumas estruturas elétricas, faz com que algumas fases estejam niveladas acima para criar uma espécie de triângulo e assim, quando a ave fizer a abertura das asas não tenha contato [com o fio]", explica o superintende de operações da Coelba, Leonardo Alves Santana.
Os grupos de araras chegam a percorrer de 80 a 100 quilômetros por dia de uma área grande da Caatinga, que passa por pelo menos cinco cidades baianas. A única região no mundo onde essas araras são encontradas.
Loirinho, que é guia de observações das araras e de turismo, passou a monitorar a situação das aves juntamente com uma ONG .
"E a população sempre tá me ligando , falando: tem uma arara morta em tal lugar. Quando a gente chega tem sempre uma ali, próxima ao poste, né? A gente vê que isso é causa do choque elétrico", revela oguia.
"Hoje a arara é para nós um bem do sertão, inigualável. Uma coisa que todo mundo gosta. Eu as amo". Salvar a arara e distribuir energia elétrica passou a ser um desafio que envolve muita gente. Uma das preocupações de ambientalistas é com a reprodução.
Depois de trabalhos de pesquisa, conscientização e preservação, a população de araras-azuis aumentou nos últimos anos mas, agora, esse crescimento pode estar ameaçado.
Especialistas alertam que como essas aves só existem em algumas cidades baianas e ainda são poucas na natureza, cerca de 1.500, qualquer animal que se perde é uma preocupação para conservação.
"As araras não vão parar de pousar na rede elétrica porque ela usa como descanso no meio do percurso. Aí essa rede precisa de proteção para que não haja choque", conta Marlene Reis, secretária da Associação Araras-Azuis-de-Lear.
Já Luciana Khoury, promotora do Ministério Público Estadual (MP-BA), é incisiva sobre a importância da investigação das denúncias da morte das aves.
"E esse entendimento foi se chegando a longo desse período de investigação do Ministério Público em tratativas com entidades", afirma a promotora.
O comerciante José Luís tem no telefone as fotos das araras que encontrou mortas perto da fiação. E o que mais espera é proteção para as aves que consegue ver do quintal de casa. "Quando a gente começou a ver as araras, para gente, era uma grande novidade porque a gente sabe que eram poucas. Hoje, graças a Deus, já tem uma grande quantidade e representa a beleza do nosso sertão", ressalta.
Segundo os promotores do MP-BA e as entidades de proteção ambiental, a companhia de eletricidade já sugeriu a implementação de inibidores de pouso. No entanto, para eles, a ação não é suficiente para evitar o contato das araras com a fiação.
A agrônoma Kilma Manso, professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), explica que os inibidores são frágeis para a força do bico da arara e podem ser facilmente quebrados.
Além disso, há um acúmulo de água nas cruzetas (barras horizontais que ficam na parte superior dos postes) em dias de chuva. O que também provoca a descarga elétrica nos animais ao fazerem contato com o objeto molhado.
O MP-BA sugeriu que a empresa amplie a distância entre os fios e faça uma troca de postes por outros com espaçamento maior entre o concreto e a fiação. Desse modo, é possível evitar que as aves façam contato entre dois fios, ou entre o fio e o poste. Essas ações já foram iniciadas pela empresa de eletricidade.
ESÉCIE RARA: Paulo Afonso, Santa Brígida, Euclides da Cunha, Monte Santo, Sento Sé e Campo Formoso, nas regiões norte e nordeste da Bahia, são as cidades onde há maior incidência da arara-azul-de-lear. A Caatinga baiana é o único lugar do mundo onde a ave pode ser encontrada.
Além disso, são indivíduos monogâmicos - ou seja, com a morte do parceiro, o casal deixa de se reproduzir.
Elas se alimentam basicamente de licuri e os deslocamentos na região podem ter 60 km de distância em busca de alimentos. O que, com poucas árvores na região, propicia o pouso em fiação da rede elétrica.
G1 Bahia Foto Reprodução
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