Segundo o filósofo Gilles Deleuze a prática é inspiradora da teoria, 'uma criadora em relação a uma forma futura'. Para um simples vivente, que nunca ouviu falar em filosofia, muito menos 'quem bexiga' era Deleuze, a diferença entre a teoria e a prática é didaticamente explicada como o que se 'aprende vendo e o que se vive vivendo'. Ou seja, o comportamento de um aprendiz desassocia do aprendizado.
O mundo fantasiado pelo teórico é uma espécie de sonho, uma utopia, inevitavelmente traído pelo real. Diz-se que o inicio é tudo aquilo comparado ao 'sem juízo', enquanto o que vem depois é a mistura da mentira e a concretização de um mundo onde o saber é aquilo que se vive no presente.
Acreditar que se planeja, enquanto não se tem uma noção do que realmente está se planejando, é como querer ser professor sem ter freqüentado e nem conhecer o papel de uma sala de aula.
Ao contrário do que é sabido, educação não vem de berço. Aprender é uma arte individual, subordinada a interferências externas e construída de acordo com fatores que excedem a própria vontade. Pode-se, assim, não se obter o resultado pré-estabelecido.
O correto é, mesmo que seja 'aos trancos e barrancos', não se valorizar o 'talvez', o 'acho', o 'será', e os demais termos que complementam a família da insegurança e da dúvida. Seguir em frente e buscar acertar sempre, sem arrependimentos e encarando as decepções já demonstra que o tempo vivido valeu a pena em toda a sua extensão, com momentos bons e ruins se completando e formando conceitos que contribuem para a compreensão do que é a vida e de como se deve vivê-la.
Seguir regras é o caminho da convivência cidadã, não adianta inventar ou impor modos de existência em desacordo com o aceitável. Esta é a verdade. As relações são guiadas de acordo com o que se aprendeu, com o que se pratica. Uma teoria só é considerada como tal se for provada pela prática, e não existe teoria sem prática.
Voltando a Deleuze, 'a vida é como uma obra de arte e como tal cria focos de enfrentamento e resistência aos efeitos do saber e do poder'.
Por Gervásio Lima-Jornalista e historiador
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