O Memorial das Ligas e Lutas Camponesas preserva a história das associações de trabalhadores rurais pela vida digna no campo e pela reforma agrária, que surgiram na década de 1950 no estado de Pernambuco, e depois ganharam frentes na Paraíba e em outros estados.
O Memorial é a única instituição do Nordeste que integra a Coalizão Internacional de Sítios de Consciência, uma rede de museus de Direitos Humanos de todo o mundo.
A sede do memorial fica em uma casa no município de Sapé, na Paraíba, lugar onde viveu uma das famílias da liderança do movimento, a de Elizabeth e João Pedro Teixeira, assassinado em 1962, por encomenda de latifundiários.
No início deste mês o memorial conseguiu a garantia de requalificação com aporte financeiro, através da aprovação, na Câmara dos Deputados, via emenda no Projeto de Lei Orçamentária 2021, de autoria do deputado Frei Anastácio (PT-Paraíba).
“A gente está lidando com um dos patrimônios mais importantes da nossa história enquanto classe camponesa. Para além da casa onde morou a família, ela reúne todo o processo histórico das ligas, e traz como memória - tanto escrita, quanto oral, visual - o comprometimento de continuar a luta. Então, é preciso a gente manter de pé e, para isso, a gente precisa dialogar e cobrar das pessoas e dos órgãos que de fato são responsáveis pela estrutura, porque é a nossa história”, analisa Alane Lima, presidenta do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas.
A casa foi tombada em 2012 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP), quando houve uma restauração. Contudo, a construção antiga, da década de 1940, corre risco de desabamento.
Com o objetivo de garantir a reforma agrária e uma vida digna para os trabalhadores do campo, as ligas foram associações que reuniam a classe de forma pioneira.
“Se nós não recuperarmos a memória da luta pela reforma agrária no Brasil, nós estaremos deixando para trás dezenas ou centenas de anos da luta pela terra no nosso país. E é fundamental! Todo estudante, todo professor, todo pesquisador reconhece essa importância, mas isso não chega ao grande público e às gerações futuras, para que se reconheça a importância da luta pioneira das Ligas Camponesas”, avalia o antropólogo Anacleto Julião, que é filho de Francisco Julião, advogado e liderança das ligas em Pernambuco e Paraíba.
Anacleto sonha que essa experiência de preservação da memória em Sapé se multiplique. O comitê Memória, Verdade e Justiça Para a Democracia de Pernambuco junto às instituições, movimentos e partidos políticos, debatem a criação de um memorial em Pernambuco, no Engenho Galiléia, que foi onde as ligas foram fundadas no estado de Pernambuco.
“Agora nós temos como tarefa revolucionária, tarefa histórica de deixar este memorial realmente construído, colaborando assim com uma parte importantíssima da história do Brasil, da história de luta do nosso povo”, diz Anacleto.
O memorial é tanto um espaço de preservação da história dos movimentos camponeses, quanto um legado de resistência.
“A gente precisa levar boas notícias, dizer que a gente resiste, que a gente existe, que a gente está aqui para continuar a história, para continuar contando e fazendo memória daqueles e daquelas que morreram, que foram ceifados, que desapareceram, que foram torturados por conta que estavam defendendo um projeto de vida melhor para nós brasileiros e brasileiras”, conclui Alane.
BRF Fotos arquivo Memorial
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