Saudar essas mulheres, nos remete a sua história, que seja na cidade, no campo, nos movimentos sociais, nos sindicatos, nos Conselhos Municipais, Sociedade Civil Organizada ou não. Essas mulheres resistem e ressignificam a sua luta, em qualquer espaço de poder.
Esse dia constituído, como o dia de Tereza Benguela, representa a luta das Mulheres Negras Afro-latina e Caribenha, que nesta data, em Santo Domingo, na República Dominicana, em julho de 1922, Mulheres Negras de 70 países se reuniram para debater o impacto do machismo e racismo na vida das mulheres negras em solo latino americano.
Ressaltar a importância do movimento negro aqui no Brasil, nos remete a um imaginário de relevante preocupação e negação do racismo, por sermos tão miscigenados. Ele é negado tão insistentemente que essa forma de negar é a própria prova de sua existência.
Segundo, Nilma Gomes, ex-Ministra das Mulheres, igualdade racial e direitos humanos, as feministas negras nos ajudam a entender os lugares dos sujeitos no contexto das tantas opressões que vivemos no Brasil, afirma ressaltando a importância de uma luta interseccional.
A formulação da luta interseccional surgiu do movimento negro, entendendo que as dimensões de exploração não ocorrem paralelamente, “estão e sempre estiveram diretamente imbricadas”. Isto é, as relações de raça e gênero, por exemplo, são tão estruturantes quanto as relações de classe.
Daí, advém o nosso papel que, como ativistas e educadoras entender que o papel do feminismo negro e do movimento negro em geral é educativo no sentido de reeducar a sociedade brasileira em suas implicações tremenda de que, o racismo que incide sobre nós mulheres negras, tem sua base no patriarcado fora do campo hétero e cisgênero.
Nesse cenário, ao qual soma a ascensão da extrema-direita, o feminismo negro “ocupa o lugar central na luta”, pois evidencia as várias dimensões da opressão: Social, racial e de gênero principalmente.
A mobilização de setores sociais, movimentos sociais têm gerado avanços na luta anticapitalista, pois “aponta lacunas, preconceito e cenários de poder sendo usurpado de mulheres preta”. E, quando faz isso, o próprio feminismo negro se reinventa e se reeduca construindo novas estratégias de ação.
Nessa movimentação “Nilma Gomes” nos transmite a luz do conhecimento que, tivemos avanços importantes no campo democrático em curso mas, chama atenção das contradições dessas pautas feministas e antirracista nos movimentos de esquerda: “ O campo socialista não reconhecia o lugar da mulher na luta e o feminismo não reconhecia as especificidades de ser uma mulher negra na luta feminista”, que a esquerda padece do episteminicídio.
O episteminicídio seria a morte do conhecimento- ele nos mata todos os dias. Ele é mais do que isso, é a morte de todos que produzem esse conhecimento.
Ao negar e apagar esse conhecimento de pensadoras negras, ter como referência apenas teóricos brancos, europeus, por exemplo, ou quando pensamos no lugar da mulher negra na sociedade, cujas lutas surgiram da visão desses sujeitos que, então, tiveram que educar o resto.
Para ela, Sueli Carneiro, podemos articular essa ideia com a da necropolítica, que é o de deixar morrer. O Estado decide quem vai ser eliminado, não só fisicamente, mas por outras violências como a falta de acesso à educação, por exemplo, o branqueamento dos materiais didáticos, e o silenciamento da questão racial nas escolas.
Ressaltar e celebrar avanços que foram feitos, como a criação do ministério de igualdade racial durante o governo da ex-presidente Dilma, por pressão do movimento negro, porque foi a primeira vez que se admitiu que existia um racismo estrutural e que mais do que conscientização, eram necessários políticas públicas para combatê-lo; obrigatoriedade do ensino de cultura; história africana e afro-brasileira nas de educação básica e a criação do estatuto de igualdade racial.
Estamos em luta contra o episteminicídio sempre. Mas, perdemos em setores retrógrados até mesmo dentro da esquerda. Não podemos deixar essa Interseccionalidade do mal contaminar “egos” pensantes do bem.
A luta antiracista, anticapitalista e antipatriarcal, tem que ser encarada por tod@s, todos e tods.
É preciso sentar e ouvir os movimentos sociais, construir estratégias em conjunto para que de fato, se governe para o povo e não para pessoas. Não podemos ficar reféns dessas forças, da Interseccionalidade do mal, do neoliberalismo e o fascismo que destruiu anos de luta e avanços em relação as nossas conquistas de inclusão social.
Parafraseando mais uma vez “Suely Carneiro”, ressaltar mais um ponto de fundamental importância para a consolidação da nossa democracia racial. Dororidade, falar de poder para as mulheres negras é falar do ausente.
Esse termo nasceu em seu livro homônimo de 2017. Veio da sua inquietude frente à sororidade, um conceito fundamental, para o feminismo, porém que não incluía nós mulheres pretas.
Segue Sueli, o projeto em si, foi moldado para as mulheres brancas, ocidental, de classe média instruída. “Sororidade” une, irmana, mas não basta. O que parece nos unir na luta feminista é a dor. A dor da violência que sofremos no cotidiano, seja física, emocional, patrimonial, moral, racial.
A dor provocada pelo machismo atinge a todas mas, nós, mulheres e jovens negras temos a dor a mais provocada pelo racismo. Então, entra DORORIDADE quer falar das sombras.
Os laços entre as mulheres são mais profundos desde as antigas sociedades matriarcais e precisamos muito uma das outras para tentar evitar as variadas formas de violências que nos acometem.
Porém, somos plurais com especificidades distintas.
Minha ficha caiu ao ler esse livro e entendi porque como mulher preta eu não sentia essa sororidade entre nós mulheres. Daí, não entender esse acolhimento global.
Nós, nos grandes centros estamos conectadas, mas e nas comunidades ribeirinhas, quilombolas?
Nem as tecnologias dão conta de alguns vãos. Porém, as mulheres negras sempre arrumaram resistência se organizaram e dessa vez não será diferente.
Já dizia a filósofa escritora, professora e ativista Ângela Davis “Quando a mulher negra se movimenta, toda estrutura da sociedade se movimenta com ela”.
Suely Nelson Argôlo, Bacharelado em Serviço Social, MS Sociologia rural, Pós Graduada em Comunicação Social, Psicologia Social, Terapeuta Holística, Conselheira de Mulheres, COMPIR (Igualdade Racial), CMDH (Direitos Humanos), Unegrina, Ambientalista, Diretora do Sindae, e membro do MPC- Movimento Popular e cidadania.
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