Artigo - O que é isso, Presidente?

No amplo universo de simpatizantes ou apoiadores do atual Presidente – para cujas posições tenho democrático respeito -, são muitos os fidelizados de maneira tão absoluta que não admitem qualquer restrição às suas mais absurdas atitudes, particularmente quando não reconhece a importância da vacina ou não refreia o seu descontrolado ímpeto verbal. A interrogação do presente título, certamente causará natural e compreensível inquietação. Mas, aqui não se inventa nada, falamos à luz dos fatos, e a ilustração retrata bem o que se segue.

É recorrente dizer, mas qualquer tema que se escolha para uma breve reflexão semanal, sempre terá alguma ligação direta ou indireta com o problema nacional de grande dimensão, aquele que aflige e mexe com a vida de todo cidadão neste País: a PANDEMIA. Naturalmente, seria estafante reiterar os detalhes e motivos ligados ao retardamento pelo Governo das decisões que deveriam ter sido mais ágeis nas providências iniciais para habilitar as primeiras vacinas, ou inútil ao criar sofismas humorísticos ingênuos de que a vacina transforma as pessoas em jacaré. Obviamente que se tivesse tido uma visão menos individualista e mais abrangente no interesse coletivo, muitas vidas poderiam ter sido poupadas dentre essas 500 mil...! Mas, na verdade, faltou o que chamamos de sabedoria para gerenciamento de crise, e aí estamos vendo no que deu.

Como se diz popularmente, “no frigir dos ovos” muitas coisas acontecem, em paralelo aos fatos, com o objetivo de desviar as atenções daquilo que é grave e que traz profunda preocupação à população em geral, visto que produz dor e sofrimento, fome e morte de milhares de vidas. 

Enquanto tudo isso se desenvolve, e à mercê da ação de um vírus que não se sabe onde se encontra, o que mais seria de esperar é que estivesse irremediavelmente presente, em todas as fases da grave calamidade, o espírito de solidariedade dos governantes detentores do poder decisório. Inversamente, o que se ver é um Presidente impaciente por plateia, sempre disponível a provocar reações de alegria aos que o esperam na frente do Palácio de forma programada e ensaiada para entrevistas, como se a invocar os gritos de “mito, mito, mito”! Esses repetitivos encontros nos provocam íntimas reações e surge uma pergunta que não encontra resposta: mito mesmo, por quê? Quem tiver tal resposta fique à vontade para se manifestar. Inclusive sobre esse assunto, imaginamos que o Exmo. Senhor Presidente, fica a pensar a noite inteira qual a frase chocante para soltar em cima deles no dia seguinte. O mais impressionante é que o efeito da subserviência cultural é imediato. 

Outro acontecimento que vem surpreendendo, é o fato de o Sr. Presidente estar em visível campanha eleitoral ao convocar milhares de motociclistas para desfiles semanais, o que vem sendo chamado de “motociatas”, nas quais todos os protocolos de segurança contra o vírus são explicitamente não cumpridos, como se pretendesse desafiar a todos que os defendem. Além do mau exemplo que passa como autoridade maior do país, do lado da legalidade descumpre o calendário eleitoral absolutamente fora de época, quando o País está a reclamar a intervenção do seu líder em outras prioridades. Daí a pergunta: O que é isso, Presidente?

O que mais está em evidência nesse momento, é a falta de bom senso, equilíbrio e responsabilidade, em paralelo a uma exacerbada dose de populismo em todas as oportunidades que aparece ao público. 

Uma evidência que causa grandes preocupações no eleitorado para o importante pleito presidencial de 2022, é a clara falta de nomes alternativos no elenco de pretendentes. Tanto isso é conclusivo que os demais supostos pré-candidatos não se arvoram a defender posições e, talvez, o silêncio seja decorrente da falta de discurso adequado e que possa configurar uma marca predominante de cada um, já que a hora, na verdade, ainda não é chegada. Antecipar uma campanha eleitoral no ensejo de uma tragédia mortal no País, no mínimo, é desproposital e irresponsável! 

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador - BA.

NOTA DO AUTOR:

Tendo em vista o falecimento ontem à noite da minha sogra e o sepultamento ocorrido hoje pela manhã, a crônica está sendo encaminhada fora do horário habitual.

Agenor Santos