Por Luiz Hélio Alves*
Escrever sobre João Gilberto é sempre desafiador e, por isso mesmo, instigante. De tudo foi dito sobre a sua imensurável obra e até – distorcidamente – sobre a sua intimidade. Já esmiuçaram a vida do artista e do homem. E será que conseguiram mesmo decifrá-lo? Há realmente como encontrar resposta ou definir o que é cósmico, o que transcende o tempo e o espaço através das estrelas para além das galáxias na forma de uma arte esplendorosa, um verdadeiro estrondo do fascínio e de beleza?
A dica para quem busca definir ou (tentar) entender João é que apenas dedique-se a contemplar as suas canções. De corpo, de alma e de coração abertos para o sublime. E então deleite-se.
João estreou na vida no dia 10 de junho de 1931 em Juazeiro da Bahia, para honra e glória desta abençoada terra que a partir de 2011 começou a dar ainda mais ênfase ao privilégio de ser o berço natal de um dos mais aclamados músicos do mundo. Seja pelo marketing do ousado slogan de “Capital Mundial da Bossa Nova”, seja com outras ações concretas do poder púbico municipal nas gestões dos ex-prefeitos Isaac Carvalho e Paulo Bomfim. No ano de 2011 a prefeitura realizou evento de comemoração dos 80 anos do seu mais renomado filho, com direito a show de João Bosco e palestra do maestro Aderbal Duarte.
Em 2015 foi inaugurada, ao lado do Vaporzinho na Orla 2, uma bela escultura em tamanho real que virou mais um ponto turístico da cidade. Outro precioso presente foi o show da cantora carioca Miúcha, segunda esposa do icônico cantor. Já em 2019, na casa onde nasceu “Joãozinho de Dona Patú”, foi entregue o Memorial Casa da Bossa Nova.
Além dessas iniciativas oficiais, outros eventos marcaram e continuam a marcar a data de 10 de junho como um dos mais importantes momentos do calendário cultural do município por iniciativa de artistas locais e admiradores de tão brilhante legado. Neste aniversário dos 90 anos, não será diferente. O compositor Maurício Dias, um dos mais abnegados defensores da obra de João Gilberto em Juazeiro e, quiçá, em toda a Bahia, em parceria com a prefeitura realizará uma Live-Show para brindar e celebrar a vida e obra do nosso mais famoso conterrâneo.
Porém, é preciso dizer que infelizmente também há por aí alguns desalmados detratores que vez ou outra inventam de vociferar baboseiras por pura incapacidade de compreensão e de alcance em alma do que foi o ser humano, o artista e o imortal João Gilberto. Mas quem liga? O mundo inteiro o ovaciona e aplaude.
O último ato terreno, o suspiro findo da matéria do criador da bossa nova, daquele que “reinventou o jeito de tocar e de cantar o samba”, aconteceu em 06 de julho de 2019 na cidade do Rio de Janeiro, onde ele apresentou-se para o mundo e onde viveu a maior parte do seu precioso e produtivo tempo. A despedida do corpo não poderia ter sido de outra forma senão ao som de uma celestial orquestra de passarinhos. Doce e sofisticada sinfonia que sempre o encantou desde a infância em Juazeiro e que certamente deve tê-lo inspirado na mágica criação de um trabalho musical que alcançou o posto de perfeito.
O também inesquecível Ariano Suassuna certa vez disse em uma de suas deliciosas aulas-espetáculo que era preciso tomar muito cuidado ao se usar a palavra “gênio”, sob o risco de desgastá-la inutilmente. É muito comum vermos incautos críticos e apaixonados fãs banalizarem o nobre adjetivo aplicando-o a qualquer artista meramente talentoso. “Mas se chamarmos todo artista (ou outro artífice de uma diferente área) de GE-NI-AL, o que vai restar para definirmos Beethoven, Salvador Dali, Einstein e João Gilberto?”, indagou com elegante e sutil ironia o saudoso mestre.
A verdade incontestável – em Juazeiro ou Salvador, no Rio ou em São Paulo, em Nova Iorque ou Tóquio, no Brasil e em todo o planeta – é que João já nasceu ensaiadíssimo para brilhar na eternidade porque era um iluminado, mas também um esmerado artesão das melodias, um exigente criador de uma obra inigualável e revolucionaria que marcou toda uma Era e se tornou para sempre.
Salve João Gilberto e viva os 90 anos do gênio juazeirense. Evoé!
*Luiz Hélio Alves é poeta, escritor, jornalista e apaixonado pela obra de João Gilberto.
(Este texto é dedicado aos amigos Angelo Roncalli e Ruy Castro).
1 comentário
10 de Jun / 2021 às 11h51
JOÃO É UMA LENDA. É UM RIO DIVISOR ENTRE O MODERNO E O ARCAICO. O COMUM E O EXTRAORDINÁRIO. O SAL E O AÇUCAR. O CLARO E O ESCURO. OUSOU DESAFIAR PADRÕES MUSICAIS ESTABELECIDOS. SOFREU NA PELE O DESDEM DAQUELES QUE DETINHAM O PODER DAS GRAVADORAS NUM TEMPO EM QUE OU VOCE SE ENQUADRAVA AO ESTABLISHMENT OU PEDIA PRA SAIR. MAS ELE TINHA UMA MISSÃO: REVOLUCIONAR. E ASSIM O FEZ. HOJE É UM NOME RESPEITADO EM TODO PLANETA TERRA. SUA OBRA PERMANECERÁ DURANTE SÉCULOS...SALVE JOÃO. BIMBOM.