A pandemia de Covid-19 colocou, em 17 meses, mais de 100 milhões de trabalhadores na pobreza, afirmou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quarta-feira (2), devido ao desaparecimento de horas de trabalho e de empregos de boa qualidade.
"Cinco anos de progressos foram arruinados até a erradicação dos trabalhadores pobres", segundo um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que indica que em comparação com 2019 cerca de outros 108 milhões de trabalhadores no mundo foram requalificados como pobres ou muito pobres.
Essa crise está longe de acabar e não se espera que o emprego retorne ao nível anterior à pandemia até 2023, alerta a OIT neste relatório anual.
No final de 2021, o mundo ainda contará com 75 milhões de empregos a menos do que se a pandemia não tivesse acontecido.
Inclusive até o final de 2022, este atraso não será compensado, com 23 milhões de empregos a menos do que sem a crise sanitária, que já provocou a morte de mais de 3,5 milhões de pessoas em todo o mundo.
"Recuperar-se da Covid-19 não é somente um problema de saúde", disse o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, destacando que "será também necessário superar os graves danos provocados às economias e às sociedades".
"Sem um esforço deliberado para acelerar a criação de empregos decentes e apoiar os membros mais vulneráveis das sociedades e a reativação dos setores econômicos mais afetados, os efeitos da pandemia poderiam durar anos sob a forma de perda de potencial humano e econômico e maior pobreza e desigualdade", prevê.
O relatório da OIT demonstra que se espera que cerca de 205 milhões de pessoas ainda estarão desempregadas em 2022, muito acima dos 187 milhões de 2019.
No entanto, essas estatísticas oficiais escondem uma realidade ainda muito mais sombria, já que o número total de horas trabalhadas também caiu.
Em 2020, 8,8% das horas trabalhadas evaporou em comparação com o quarto trimestre de 2019, ou seja, o equivalente a 255 milhões de emprego em tempo integral.
E mesmo que a recuperação econômica se intensifique em algumas partes do mundo, até o final do ano o equivalente a 100 milhões de empregos em tempo integral ainda estará faltando.
"Este déficit de empregos e horas de trabalho vem somar-se aos altos níveis de desemprego, subemprego e péssimas condições de trabalho" que prevaleciam antes da crise de saúde.
Mesmo que se espere que a situação do emprego melhore um pouco no segundo semestre deste ano, a recuperação será desigual e, em particular, devido à diferença entre as taxas de imunização nos países ricos e nos países mais pobres.
Os países emergentes e em desenvolvimento também terão dificuldade em implementar planos de estímulo significativos.
Menos empregos e menos horas trabalhadas se traduzem automaticamente em mais pobreza.
Em comparação com 2019, 108 milhões de trabalhadores caíram nas categorias de pobres ou muito pobres - com famílias sobrevivendo com menos de US$ 3,2 por dia. Para os dois bilhões de pessoas que trabalham no setor informal, as consequências da pandemia foram catastróficas para as mulheres que deixaram o mercado de trabalho em massa, inclusive nos países ricos, para cuidar dos filhos, que ficaram sem aulas presenciais.
Um fenômeno que faz a OIT temer uma "tradicionalização" dos papéis de gênero. "Não haverá uma recuperação real sem um retorno aos bons empregos", advertiu Ryder.
1 comentário
03 de Jun / 2021 às 18h33
Se esse presidente ficar mais 4 anos a fome vai matar mais que o virus.