As comunidades quilombolas de Barrinha da Conceição e Alagadiço, no município de Juazeiro, a 502 quilômetros de Salvador, se emocionaram no último domingo (11), ao receberem, pela primeira vez, exemplares do livro que conta e registra a história de luta e tradições vivida pela população local.
Trata-se da obra "Às Margens do Velho Chico Nascem as Histórias", escrita pela jornalista Ana Carla Nunes. Mais do que um registro, a publicação resgata a memória e preserva a riqueza dos povoados do Vale do São Francisco.
Tudo começou, em 2015, quando a estudante do Curso de Comunicação Social, Ana Carla Nunes, aguardava o carro para ir até as comunidades quilombolas de Juazeiro, na Bahia, para conhecer e registrar as histórias das comunidades de Barrinha da Conceição, Alagadiço e Quipá. Após seis anos da primeira espera, numa tarde, a jornalista viveu novamente essa espera para ir ao encontro de Dona Roberta e demais moradores e moradoras da comunidade Barrinha da Conceição e Alagadiço, agora acompanhada do livro "Às Margens do Velho Chico Nascem as Histórias", resultado da pesquisa vivenciada anos atrás.
Segundo a autora, "reencontrar as pessoas que fizeram parte do livro e ajudaram a construir o material foi incrível. Eles se reconheceram e se emocionaram, a família se enxergou nos textos e nas imagens". Textos estes que foram construídos a partir da memória de Dona de Roberta Maria dos Santos Oliveira, a Dona Roberta, e Alvina dos Santos, Dona Vinô e Antônio Cândido de Brito Filho, o Seu Tonico.
As histórias registradas nas páginas do livro buscam dar visibilidade às lutas, riquezas e a preservação das características das comunidades, proposta que dialoga com o sentimento de Gregório dos Santos, presidente da Associação dos Remanescentes Quilombola de Alagadiço e Salitre: "Esse livro é uma boa para gente aqui na comunidade, pra esse pessoal mais novo entender como era antes, entender as dificuldades de antes. Lendo um livro assim, já recordamos como as coisas eram diferentes. É importante para eles e pra gente", declara Santos, após ter o primeiro contato com o livro.
Devido ao cenário atual causado pela pandemia da Covid-19, a celebração da entrega do livro não pôde ser acompanhada de festejos, mas isso não diminuiu a emoção das famílias dos perfilados em verem as histórias dos seus entes queridos. "Hoje a gente tá com a história da minha avó, minha avó Roberta documentada num livro! Hoje, ela está com 91 anos, e já não tem a lucidez de seis anos atrás quando ela contou toda a história para você", relata com alegria Silvana Moreira, presidenta da Associação de Lavradores e Quilombolas da Comunidade Barrinha da Conceição.
Exemplares do livro "Às Margens do Velho Chico Nascem as Histórias" foram entregues este mês aos perfilados e às associações comunitárias de Barrinha da Conceição e Alagadiço, posteriormente será a vez da comunidade de Quipá. A liderança local e neta de Roberta ainda complementa que "é importante ter documentado a história da nossa comunidade. A gente vai poder passar para a geração que virá, eles que não vão ter a oportunidade de conhecer nossa avó Roberta, vão acompanhar através do livro".
A obra "Às Margens do Velho Chico Nascem as Histórias" na versão em e-book e áudio livro está disponível no perfil do Instagram da autora no endereço eletrônico @anacarla.nunes e no Portal Culturama. O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura e do Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI), (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.
Programa Aldir Blanc Bahia - Criado para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, o Programa Aldir Blanc Bahia (PABB) visa cumprir os incisos I e III da Lei Aldir Blanc (Lei Federal nº 14.017, de 29 de junho de 2020) e suas regulamentações federal e estadual. As ações são: a transferência da renda emergencial para os trabalhadores e trabalhadoras da cultura, e a realização de chamadas públicas e concessão de prêmios. O PABB tem execução pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, geridas por meio da Superintendência de Desenvolvimento Territorial da Cultura e do Centro de Culturas Populares e Identitárias; e as suas unidades vinculadas: Fundação Cultural do Estado da Bahia, Fundação Pedro Calmon, Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural.
Fonte: Agência Chocalho
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