Esse ano um amigo meu plantou o mês de janeiro, mas parece que errou no adubo. Os dias murcharam, as noites não orvalharam, deu praga até na sombra. Ô anozim miserável! Diz ele que foi mau olhado.
Somos vizinhos de cerca. Temos quase as mesmas premonições, em se tratando de plantar o tempo. Enquanto ele plantava, eu afiava a lâmina do meu arado, para rasgar o chão de abril, enquanto fechava o mês de março. Mas aí veio a pandemia, e o mundo se fechou, o povo sumiu, e a morte espirrou pelo nariz da China e vazou pelas brechas do resto do planeta; mesmo assim tracei o périplo de minhas andanças e sai fazendo trança no cabelo das bonecas de milho que iam brotando no silêncio de minhas madrugadas.
Não vejo a hora de começar a chover flores; de colher as rosas, de sentir o perfume das margaridas e tirar a máscara para sorrir solto no vento em meio a um bando de borboletas.
Já estou cavando a cova para enterrar a dor e sepultar o ano de 2020. E veio agosto; eu gosto do gosto das frutas que maduram no mês de setembro. E veio outubro, novembro, e dezembro está aí; mas e daí?Você deve está se perguntando: O que eu fiz para mudar a vida, o que deixei de fazer que causou tudo isso?
Eita! Pulei fevereiro, mas não vai ter ferreiro, não vai ter carnaval?
Vou olhar mais adiante, e como sou um viajante vou caminhar procurando grotas, biqueiras, rios e riachos, e replantar janeiro, em um baixio bem molhado, para não acontecer o mesmo que se deu com meu vizinho do lado.
Foto: Facebook
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