José Calixto da Silva (16 de julho de 1933 – 13 de dezembro de 2020), o acordeonista e compositor paraibano que fez nome como Zé Calixto no festivo universo do forró, foi um gigante no toque dos oito baixos da sanfona.
Pelo talento referencial no manuseio da sanfona, Calixto ganhou a vida e o respeito dos colegas de ofício, deixando de ser mais um Silva anônimo entre tantos bravos cidadãos do Brasil ou um mais um valente Zé da Paraíba, estado onde nasceu há 87 anos na cidade de Campina Grande (PB).
Por capricho premonitório do destino, Zé Calixto – caracterizado como “artesão da sanfona” por Sivuca (1930 – 2006), outro ás do instrumento – nasceu na terra que alardeia fazer “o maior São João do mundo”. Mesmo que tenha residido a maior parte da vida na cidade do Rio de Janeiro (RJ), para onde migrou em 1959, Calixto sai de cena associado ao forró junino, tendo sido presença assídua nos eventos do calendário de São João da cidade natal.
Por outro capricho do destino, o artista morreu no domingo, 13 de dezembro, Dia Nacional do Forró. A causa da morte – ocorrida em hospital do Rio de Janeiro, após dias de internação – foi complicações decorrentes do Mal de Alzheimer.
Vai-se o homem, fica a obra, construída por Calixto a partir de fins dos anos 1950, no rastro da explosão nacional de Luiz Gonzaga (1912 – 1989) e Jackson do Pandeiro (1919 – 1982), pilares da música nordestina. A partir de 1960, ano em que lançou o primeiro álbum solo, Zé Calixto e sua sanfona de oito baixos pela gravadora Philips, o instrumentista construiu carreira fonográfica, gravando com regularidade até o fim dos anos 1970.
Os títulos de alguns álbuns do artista – Forró em oito baixos (1962), Sanfoneiro pai d'égua (1964), Sanfoneiro bom é Zé Calixto (1968) e Uma sanfona de respeito (1968), entre outros de obra que totalizou 30 álbuns, quase todos editados em LP – já evidenciaram o talento sobressalente do sanfoneiro no toque dos oito baixos.
Tal habilidade começou a se manifestar ainda na infância. Diz a lenda que Calixto começou a tocar sanfona aos oito anos, influenciado pelo pai, também acordeonista. Aos 12 anos, sozinho, já animava bailes no circuito paraibano.
No Rio de Janeiro, o talento de sanfoneiro foi desenvolvido paralelamente ao dom para compor. Parceiro de Jackson do Pandeiro em A pisada é essa (1963), Zé Calixto deixa composições como Arrodeando a fogueira (1961), Bodocongó (1960), Bossa nova em oito baixos (1960), Milho verde na fogueira (1962, em parceria com Aquilino Quintanilha), Oito baixos no frevo (1960, com Bastinho Calixto) e Pro povo dançar (1978), entre outras músicas de clima abrasivo.
Pela obra alicerçada nos anos 1960 e 1970, Zé Calixto se tornou um ídolo para sanfoneiros mais jovens, uma referência para quem quis seguir o caminho festivo desse artesão dos oito baixos. Sanfoneiro bom foi Zé Calixto!
Por Mauro Ferreira--Jornalista carioca que escreve sobre música desde 1987, com passagens em 'O Globo' e 'Bizz'.
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