Segundo dados recentes da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), chega a quase 13 mil o número de internações hospitalares causadas por atropelamento de ciclistas registradas no SUS desde 2010. O caso do atropelamento da cicloativista Marina Harkot, em São Paulo, reacendeu o debate sobre acidentes no trânsito envolvendo ciclistas.
Também na pesquisa da Abramet consta que, na última década, 13.718 ciclistas morreram no trânsito após se envolverem em algum acidente, 60% deles em atropelamentos.
Além disso, cerca de R$ 15 milhões são gastos todos os anos pelo SUS para tratar de ciclistas que sofrem de trauma após colisão com outros veículos.
O trauma é “uma lesão causada por agente externo” e tem acidentes de trânsito como principal causa, como explica Maurício Godinho, médico especialista em Cirurgia do Trauma e diretor da área de Trauma do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (FM) da USP de Ribeirão Preto.
Godinho pontua que o trauma é a principal causa de morte entre pessoas de zero a 49 anos de idade e a terceira maior causa de morte entre todas as idades. Também comenta que os atropelamentos ocorrem, principalmente, em razão de imprudência no trânsito: “Ultrapassagem de limite de velocidade, não uso de setas de segurança, a falta de uso de equipamentos de proteção, ou seja, o desrespeito às leis de trânsito e de boa convivência no trânsito”.
Fraya Frehse, professora do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e escritora de dois livros, acredita que há um desconhecimento dos motoristas em relação às particularidades dos ciclistas no Brasil. Para ela, “essa falta de conhecimento tem muito a ver com uma associação de uma classe média e elite de que a bicicleta é um brinquedo de criança utilizada nas circunstâncias de lazer”. Explica que essa associação também se relaciona à abertura das ciclovias de lazer aos domingos em grandes avenidas: “É um imaginário da classe média e da elite que não têm, com a bicicleta, uma relação cotidiana. O ciclista da cidade é um ciclista da rua”.
Segundo dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), houve uma queda no número de mortes no trânsito, que caiu anualmente entre 2015 e 2019. Mas, somente em 2019, o número foi de 30 mil mortes, incluindo transportes como carros, motocicletas, bicicletas e também pedestres. Para Fraya, as soluções para os números de acidentes estão na promoção de diálogo com movimentos coletivos de cicloativistas, o aumento de pressão para diminuição de velocidade dos automóveis e maior sinalização nas ruas. Além disso, acredita ser fundamental mais educação para o trânsito.
Jornal da USP
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