Sem vagas para doentes com covid-19. É assim que se encontram alguns hospitais do estado, localizados no interior baiano. Várias cidades atingiram ou estão beirando aos 100% da ocupação nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Os hospitais de Base, em Itabuna, o Regional de Juazeiro e o São Pedro, de Remanso, estavam com 100% dos leitos ocupados até às 12h de segunda (23).
No mesmo horário, os Hospitais de Campanha de Feira de Santana e o Geral Cleriston Andrade estavam com quase 90% de ocupação, percentual que saltou para 100% às 14h.
Na Princesinha do Sertão, como Feira de Santana é conhecida, apenas o Hospital Estadual da Criança tinha leitos de UTI disponíveis. Já a ocupação da UTI no Hospital Regional da Chapada, em Seabra, é de 80%, mas chegou a atingir a lotação máxima no início do dia. Em Irecê, o Hospital Regional Dr. Mario Dourado Sobrinho bateu os 100% na quinta-feira (19), levando a prefeitura a emitir um alerta para que os secretários de saúde da região não enviassem seus pacientes pra lá.
“Como já deve ser do conhecimento de todos, várias cidades do Brasil já podem estar vivenciando a segunda onda de covid-19, cenário que já está acontecendo no mundo. Vale salientar também que continuamos com dificuldades na aquisição de medicamentos importantes para a assistência hospitalar”, diz o ofício da Prefeitura Municipal de Irecê, assinado pela secretária de Saúde Dulce Duarte e o diretor médico Reinaldo Cecílio. No boletim da Sesab, até às 14h da segunda, já consta que a ocupação baixou para 90%.
Essas cidades citadas têm em comum o fato de serem polos de referência para prefeituras vizinhas enviarem seus doentes. Além disso, todos os municípios baianos vivenciaram no mês de outubro e início de novembro a realização da campanha eleitoral, que contou com aglomerações e imagens de desrespeitos às medidas de segurança. A própria Feira de Santana ainda vive essa disputa, com o confronto entre Zé Neto (PT) e Colbert Martins (MDB) nesse domingo (29), pelo segundo turno.
Relembre
O CORREIO noticiou que em Araci, no centro-leste baiano, mesma região de Feira de Santana e Seabra, o candidato a prefeito derrotado Edivaldinho de Nenca (Podemos) publicou vídeos e fotos em suas próprias redes sociais de uma passeata realizada na cidade no dia 18 de outubro. Nas imagens, é possível ver centenas de pessoas aglomeradas e sem máscaras.
Em Jeremoabo, no norte do estado, mesma região de Juazeiro e Remanso, o CORREIO mostrou um verdadeiro carnaval fora de época que foi realizado nas campanhas eleitorais dos dois candidatos Deri do Paloma (PP) e Anabel de Tista (PSD). Até no dia da eleição, em 15 de novembro, foram registradas aglomerações no interior em Capim Grosso, no centro-norte do estado, mesma região de Irecê, e São Domingos e Riachão do Jacuípe, no centro-leste baiano.
Para Robson Reis, médico infectologista e professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, não há dúvidas de que o período eleitoral tem relação com esse aumento de ocupação nos leitos de UTI. “Nesses eventos, as pessoas não usavam a máscara, não higienizavam as mãos e compartilhavam objetos. Foram várias situações de desrespeito, inclusive na comemoração dos resultados, o que é terrível. Basta uma pessoa contaminada para outras pegarem. Uma rede de transmissão da doença pode ser criada através de um evento como esse”, explica.
Já Matheus Todt, infectologista da S.O.S. Vida, afirma que o impacto das eleições no sistema de saúde continuará sendo sentido nos próximos dias, o que torna o cenário preocupante. “Isso vai ficar mais claro no final do segundo turno. Com o aumento de internação no interior, há o perigo desses casos graves começaram a ser enviado em massa para a capital, no chamado efeito bumerangue. E não tem outra saída: para lidar com esse problema, o isolamento social é a medida mais eficaz, até então”, afirma.
Segunda onda
Ainda não há um consenso entre os especialistas se esse aumento de casos já se configura como uma segunda onda da doença na Bahia. Para Todt, só seria possível chamar dessa maneira se o Brasil tivesse conseguido finalizar a primeira onda. “É um novo pico que surge sem que tenhamos debelado o primeiro. E é isso que torna a situação mais preocupante ainda, pois a gente não vê mobilização em termos de saúde pública para abrir mais vagas nos leitos de UTI. O cenário que se apresenta é de um pior segundo momento do que o primeiro”, diz.
O CORREIO procurou a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia e o secretário Fábio Vilas-Boas para comentar sobre o assunto, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem. Vilas-Boas, inclusive, esteve nessa segunda em Juazeiro, uma das cidades baianas que estava como 100% da ocupação dos leitos de UTI.
O médico infectologista Robson Reis explica que a chegada dessa “segunda onda” é uma realidade influenciada por outros fatores, como a falsa sensação de que a doença não existe mais com a diminuição nos casos e o fato das pessoas relaxarem nas medidas de segurança.
“Tudo isso pode ser potencializado pela proximidade das festas de final de ano, que vão gerar movimentação no comercio e as próprias confraternizações entre amigos e familiares. A chegada cada vez mais iminente da vacina também traz uma falsa sensação de segurança de que todos já estão protegidos, mas é preciso lembrar que ainda demora para ela estar disponível em larga escala”, aponta Reis.
Capital
“Não há nenhum motivo pra gente acreditar que o Brasil não vai viver o que a Europa e os EUA estão vivendo agora. Pelo contrário, temos todos os motivos para acreditar que vai ter segunda onda sim”, disse o prefeito ACM Neto em coletiva de imprensa realizada na manhã dessa segunda-feira, durante anúncio de como será o Festival da Virada em 2020.
“Assim que a pandemia começou a chegar no Brasil, eu fui um dos primeiros prefeitos a tomar medidas para evitar o aumento do contágio. Hoje, todo o nosso esforço é manter a taxa de ocupação dos leitos de UTI na capital controlado, em até 60%. Por isso, determinei a reabertura de leitos que foram fechados e estou dialogando com o governo do estado para promover a reabertura do hospital de campanha da Arena Fonte Nova, caso seja necessário. Não estamos cogitando ainda a reversão de nenhuma das medidas que anunciamos no plano de retomada”, concluiu Neto.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirmou que, nas últimas três semanas, Salvador apresentou pequeno aumento no número de casos, sendo acompanhado pela vigilância epidemiológica e assistência do município, além do Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE). “O sistema municipal de saúde, por meio das unidades básicas, Unidades de Pronto Atendimento (Upas) e hospitais estão aptos a realizar atendimentos de covid-19, inclusive com a estratégia de telemedicina, por meio do Salvador Protege”, diz a nota.
Até as 12h desta segunda-feira, Salvador tinha 760 leitos ativos exclusivos para o coronavírus, com 497 pacientes internados, o que equivale a uma taxa de ocupação de 65%. No caso dos leitos de UTI para adultos, essa taxa é menor, de 58%. Já a de leitos clínicos era de 73%. Na Bahia, mais de 380 mil casos de covid-19 foram confirmados desde o início da pandemia, com o número de óbitos superior a 8 mil.
Particular
Com esses dados, os hospitais particulares de Salvador também estão se preparando para uma eventual segunda onda. Em nota, a Associação de Hospitais e Serviços de Saúde da Bahia (AHSEB) reafirmou a capacidade de atendimento das unidades que fazem parte da rede. “As instituições de saúde apresentam estrutura e capacidade operacional para atender à população da Bahia seja na doença do covid-19, seja nas demais enfermidades, assim como aconteceu entre maio e junho, período de maior pico da contaminação decorrente da pandemia”, informou o presidente Mauro Adan.
Já o Hospital Português disse que a taxa de ocupação dos leitos de internação para covid-19 vem apresentando queda nos últimos meses, girando hoje em torno de 38%, enquanto a taxa de ocupação de leitos de UTI Clínica tem se mantido em torno de 70%. ”O número de casos suspeitos de coronavírus que chegam ao HP permanece baixo”, disseram.
O Hospital Aeroporto informou que chegaram a ter 40 leitos dedicados para covid e que esse número foi reduzido para 15, com 50% de ocupação. “Dispomos de plano de contingência para enfrentamento de uma segunda onda, no qual inclui reabertura de mais leitos", garantiram.
O Hospital Teresa de Lisieux disse que o número de casos suspeitos de coronavírus que chagam ao hospital cresceu, em relação ao mês anterior, cerca de 30%. "Caso uma segunda onda aconteça, poremos em prática a mesma estratégia que utilizamos na primeira onda. Desmobilizaríamos nossa capacidade de instalação eletiva criando mais leitos exclusivos para doença, além de termos um hospital pronto e equipado em Lauro de Freitas, com 140 leitos, dentre eles 20 de UTI, que ficaria à disposição para o tratamento de nossos pacientes", disseram.
Por fim, o Hospital Santa Izabel relatou que, nos meses de maior atendimento, em junho e julho, 150 pacientes por mês foram atendidos com síndrome respiratória. Esse número desceu para 20 em outubro e, nas duas últimas semanas, saltou para 35, o que representa uma tendência de crescimento.
Fnte: Correios24horas
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