Um dos desafios da agricultura é avaliar a qualidade do solo além dos aspectos físicos e químicos dele. Porém, uma novidade pode dar mais informações para o produtor rural. Depois de 30 anos de estudos, pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveram um teste capaz de analisar mais informações do terreno, saber como está a saúde área.
A análise biológica da terra, um teste que mede o nível de vida do solo, é uma novidade que pode trazer grandes vantagens para o agricultor. Ele funciona como um “exame de sangue” do solo.
A tecnologia é 100% nacional e tem um custo acessível. O Brasil é um gigante na produção de diversos alimentos e tanta fartura só pode existir se houver riqueza no solo. E entender a vida debaixo da terra é um desafio tão antigo quanto a agricultura.
O motivo é que a qualidade da terra é fundamental para qualquer lavoura, é a base de tudo. Além de ser rico em nutrientes, como fósforo ou nitrogênio, o solo também precisa ser saudável, conter fungos, bactérias e outros organismos.
“Quando o agricultor mandava a amostra do solo para o laboratório, havia uma grande lacuna nessas análises que era a ausência do componente biológico”, explica Ieda de Carvalho Mendes, pesquisadora da Embrapa.
As propriedades biológicas da terra indicam a riqueza da vida do solo. Esses organismos imperceptíveis a olho nu ajudam a decompor a matéria orgânica, reciclam nutrientes e fixam oxigênio para as plantas. Em resumo, vida no solo melhora a vida da lavoura.
“Uma grama de solo deve conter em torno de 1 bilhão de células e bactérias, é um universo paralelo que a gente tem embaixo dos nossos pés”, acrescenta Ieda.
Diante de tanta importância, a Embrapa Cerrados, criou um teste inovador, chamado de bioanálise ou análise biológica do solo.
Durante mais de 20 anos de estudo, os pesquisadores analisaram mais de 30 tipos de substâncias presentes no solo para avaliar como está a saúde dele.
Com a nova análise, é possível saber tudo o que já passou pela terra: adubo, agrotóxicos, diferentes culturas, os tipos de manejo, toda a memória que a terra carrega.
“A gente consegue acessar essa memória e saber se aquele manejo está favorecendo a saúde do solo ou se está levando à degradação. Da mesma forma que no exame de sangue”, explica a pesquisadora da Embrapa.
Como funciona?
O teste é rápido, basta coletar amostras de terra e aplicar os reagentes. Os resultados são detectados pela análise de cores. Com uma tabela desenvolvida pela Embrapa, é possível medir as propriedades químicas e biológicas do solo.
O estudo ainda avalia três funções do solo:
Capacidade de fornecer nutrientes;
Capacidade de armazenar esses nutrientes;
Capacidade de trocar os nutrientes com a planta.
“O agricultor brasileiro vai ser o único do mundo que vai poder acessar como que está o funcionamento do seu solo com relação a suprimento de nutrientes. É uma coisa única no mundo”, comemora Ieda de Carvalho Mendes.
TESTES; Antes de lançar a bioanálise no mercado, os pesquisadores realizaram testes em mais de 100 propriedades rurais. Um dos parceiros do estudo é o agricultor e agrônomo José Mário Ferreira, que produz em 2 mil hectares no município de Padre Bernardo, em Goiás. Ele cultiva milho, entra com o gado na entressafra e depois planta soja.
A primeira análise biológica do solo na fazenda foi feita no ano passado, e o resultado mostrou que o manejo na integração entre lavoura e pecuária estava correto, mas era possível melhorar, por exemplo, a cobertura de solo para o cultivo de grãos.
Com o resultado em mãos, José Mário decidiu aumentar o tempo do capim, de 6 meses para 1 ano e meio. “Quando a gente plantou a soja, na sequência, a gente percebeu que o vigor da soja estava melhor em relação à área que ficou só 6 meses”, conta.
Com a mudança, o produtor hoje produz cerca de 70 sacas de soja por hectare, muito acima da média nacional, sem o uso de fungicidas.
ONDE FAZER: Atualmente, a bioanálise está disponível em 9 laboratórios habilitados pela Embrapa (clique aqui e veja). O teste sai entre R$ 120 e R$ 150 por amostra.
No momento, a análise biológica do solo só é realizada no Cerrado, em cultivos anuais, como soja, milho, algodão e feijão. Os pesquisadores trabalham para ampliar a área de cobertura dos testes.
Ascom Embrapa
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