Um dos pratos mais queridos do País é o tradicional arroz e feijão, presente quase diariamente na mesa dos brasileiros. São alimentos típicos da nossa culinária, saborosos e reconhecidos pelo seu importante valor nutricional, pois são ricos em nutrientes. Além disso, pesquisadores mostraram que o padrão alimentar tradicional, onde o arroz e feijão estão presentes, está relacionado ao menor risco de obesidade e de outras doenças crônicas.
Apesar da tradição e das vantagens nutricionais, os estudos mostram que a população brasileira vem diminuindo o consumo desses alimentos. Os dados recentes publicados pela Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que a frequência de consumo de arroz reduziu de 84%, em 2008-2009, para 76%, em 2017-2018, enquanto que a frequência do consumo de feijão reduziu de 76%, em 2008-2009, para 64%, em 2017-2018.
Atualmente, diante do cenário atual de pandemia da covid-19 e do distanciamento social de grande parte dos brasileiros, houve mudanças nos hábitos de trabalho, de atividade física, de estudos e, inclusive, alimentares. Assim, podemos nos perguntar: “Será que arroz e feijão estiveram presentes no prato dos brasileiros durante a pandemia?”
Para responder a esta pergunta, os pesquisadores do projeto ClicPrato analisaram os dados coletados no mês maio de 2020, durante a pandemia. O projeto tem como objetivo avaliar a qualidade da refeição dos brasileiros a partir da foto tirada pelo celular e conta com a colaboração de pesquisadores e alunos de diferentes instituições: profa. Dirce M. L. Marchioni (FSP/USP), prof. Jun Okamoto Junior (Poli/USP), profa. Josiane Steluti (Unifesp), profa. Semíramis M. A. Domene (Unifesp), Beatriz R. Souza (FSP/USP), Davi C. Silva (Unifesp), Guilherme A. Silva (FSP/USP) e Haydée C. F. Borges (FSP/USP).
Das 886 fotos de refeições recebidas de todo o País, 566 (64%) apresentavam arroz, 338 (38%) apresentavam feijão e apenas 312 (35%) apresentam a combinação arroz e feijão. As fotos foram enviadas por adultos, homens e mulheres, com idades de 18 a 81 anos e diferentes níveis de escolaridade.
Ainda em relação à combinação de arroz e feijão, a frequência de consumo foi de 36% entre os homens e 35% entre as mulheres. Em relação à idade, a maior frequência da combinação esteve na faixa etária de 50 a 59 anos (43%) e a menor entre 30 a 39 anos (24%). Considerando os anos de estudos, a frequência de consumo foi maior para os participantes com menor escolaridade (46%) quando comparado com os participantes de maior escolaridade (nível superior completo e pós-graduação), apenas 30%.
Esses resultados são preliminares e fazem parte das análises das fotos realizadas pelos pesquisadores envolvidos no projeto ClicPrato que, por sua vez, é mais amplo. Nele, pretende-se avaliar a qualidade da refeição através da união dos conhecimentos de nutrição e inteligência artificial, o que permitirá, futuramente, o desenvolvimento de um aplicativo para celulares com o qual o usuário possa tirar uma foto da sua refeição e receber uma avaliação sobre a qualidade do prato. Desta maneira, o aplicativo pode apresentar informações que permitam ao usuário melhorar seu consumo alimentar, prevenindo doenças e promovendo saúde.
É importante mencionar que o projeto ainda está em andamento e, para o aprendizado de máquina da inteligência artificial, é importante um grande número de fotos e a participação de pessoas de todas as regiões do País. Assim, envie fotos das suas principais refeições (almoço e jantar). Conheça melhor o projeto pelas redes sociais (@ClicPrato).
*Dirce M. L. Marchioni, professora da Faculdade de Saúde Pública, Jun Okamoto Junior, professor da Escola Politécnica da USP, e Josiane Steluti e Semíramis M. A. Domene, professoras da Unifesp
Jornal da USP
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