A situação inédita de confinamento em casa e distanciamento social entre as pessoas por causa de um vírus em pleno século 21 cabe no enredo de romances distópicos ou de filmes apocalípticos de ficção científica.
Na realidade, entretanto, essa trama pode vir recheada de desconfortos, situação de stress, desequilíbrio emocional e até alguma neurose, alertam psicólogos. Em tempo de novo coronavírus é preciso prestar atenção e cuidar da saúde mental no dia a dia.
A situação vivida em todo o planeta era impensável há poucos meses por causa do domínio absoluto da ciência e da disponibilidade de tecnologia para inclusive deter doenças. “Nossa geração estava muito vaidosa de que não experimentaria riscos de morte em massa, como ocorreu no passado. A natureza, agora, impõe nova realidade. A situação nos desequilibra, mexe a fundo com o bem-estar e abala as relações entre as pessoas”, enfatiza, Lydiane Streapco, professora de Psicologia, do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo.
A reportagem da redeGN conversou com profissionais da psicologia para entender melhor como é possível cuidar da saúde mental em tempo de distanciamento social.
A psicóloga e apresentadora do Programa Inteiramente Mulher, Rádio Cidade Am870, Camila Helena, afirma que na atual situação de pandemia da COVID-19 é comum ter sentimentos e emoções negativas, como medo, tristeza, raiva e solidão, além de ansiedade e estresse.
De acordo com Camila Helena o excesso de notícias sobre a pandemia, a mudança de rotina, o distanciamento físico e as consequências econômicas, sociais e políticas relativas ao novo cenário podem aumentar ou prolongar esse desconforto emocional.
Assim, a seguir, estão algumas dicas de como manter o bem estar mental, neste momento de isolamento:
1- Fique em contato com sua rede de amigos e familiares. Apesar da necessidade do isolamento físico, atualmente podemos contar com a tecnologia a nosso fator, realizando vídeo conferência, ou mantendo-se conectado com as pessoas através das redes sociais e telefone.
2- Preste atenção aos seus sentimentos e busque atividades saudáveis. Exercícios físicos, sono regular e boa alimentação ajudam. Se precisar, você pode buscar informações a respeito desses temas através de tutoriais no YouTube e Instagram.
3- Busque fontes de informações confiáveis e procure se informar também de coisas positivas, dos avanços e das separações. O excesso de informações negativas podem levar ao estresse e à ansiedade.
4- Crie uma rotina prazerosa. Procure criar uma agenda com suas tarefas diárias, alternando as obrigações de trabalho, casa etc, com aquilo que você gosta e que te faz bem... por exemplo, sabe aquele livro que você está a um tempão namorando? Talvez esse seja o momento de ler...
5- Procure ajuda. Saiba que algumas pessoas lidam melhor com algumas situações do que outras e que caso esteja sendo muito difícil lidar com o turbilhão de emoções presentes neste momento de crise, você pode buscar ajudar psicológica. Muitos psicólogos neste momento de pandemia estão atendendo de maneira online.
A psicóloga, psicopedagoga e mestre em educação Adriana Miron, avalia que a pandemia e todos os problemas em torno do tema relacionado à possibilidade de adoecimento e morte em massa é um fenômeno que contribui para o aumento do medo e, consequentemente, da ansiedade.
Adriana ressalta que diante do que estamos vivenciando, está cada vez mais difícil relaxar, porém, é de suma importância considerar que o equilíbrio emocional nesse momento é algo que pode contribuir em larga escala para que outros problemas não prejudiquem ainda mais.
"Estamos vivendo um processo de "luto", seja provocado pelas mortes em massa, seja pela perda da sensação de "liberdade". O luto, por si só, já é algo que gera sofrimento, então é normal que as pessoas se sintam angustiadas. Viver esse sentimento, permitir-se chorar e sentir também nos ajuda no enfrentamento desse problema", revela Adriana.
"Sabemos que estar em casa por vontade própria, por querer descansar, curtir a casa é bem diferente de ter que ficar em casa, ainda mais quando utilizamos o termo "isolamento". Isso faz com que as pessoas sintam-se presas, confinadas, o que é uma obrigatoriedade. Além disso, o distanciamento social, priva e limita o contato físico, tão inerente ao ser humano e isso pode aumentar o estresse e a ansiedade".
Algumas dicas podem ajudar a melhorar a nossa saúde mental durante os desafios da pandemia:
"Inicialmente, é importante lembrar que a auto-cobrança pode nos prejudicar nesse processo. Permita-se sentir e vivenciar os sentimentos sem cobranças. É normal ter oscilação de humor e de sentimentos. Outro ponto já destacado é a importância de organizar a rotina; ideal que isso seja feito de forma escrita, por exemplo, uma vez que o cérebro entende melhor quando visualiza; deixar essa rotina à mostra, ajudará o seu dia fluir melhor. É importante incluir nessa rotina o seu tempo particular para relaxamento, um banho mais longo, meditar, ouvir música, ler um livro, fazer exercício físico... tudo isso pode ajudar a espairecer nesse momento", explica Adriana.
A psicóloga Célia Fernandes, também está se adaptando e atendendo seus pacientes de casa por meio do computador e do celular. As tecnologias que viabilizam o teletrabalho, compras e diversão, não contornam, entretanto, os problemas da interação humana.
Segundo ela, conflitos podem surgir na família, entre pais e filhos e entre os casais. “O conflito é normal. Precisamos trabalhar a comunicação, compreender que temos personalidades diferentes e interesses diferentes.”
Célia recomenda a organização e o estabelecimento de regras sobre a divisão do tempo e do espaço que permitam o trabalho e a rotina de descanso. Para quem tem filhos, é importante dar atenção às crianças e ao lazer infantil.
Já para adultos, é importante incluir na rotina a realização de atividades de interesse pessoal, como estudo, leitura ou diversão – como assistir filmes e até maratonar diversos episódios das séries preferidas. “Como já ocorria em finais de semana. Precisamos adotar medidas comuns, já que vamos passar mais tempo juntos.”
Redação redeGN Fotos: Ney Vital
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