Durante seis meses os jornalistas Lisa Cox, em Melbourne, na Austrália, e Philip Oltermann, em Berlim, na Alemanha, estiveram envolvidos em uma reportagem investigativa para o jornal britânico The Guardian, um dos mais respeitados do mundo.
A redação da redeGN teve acesso ao Jornal Inglês. O texto/reportagem é assinado e faz uma denúncia que envolve o Brasil: a Association for the Conservation of Threatened Parrots, uma das responsáveis pela repatriação de 50 ararinhas-azuis que serão trazidas ao Brasil e reintroduzidas em Curaçá Bahia, evento previsto para esta terça, 3.
As áreas protegidas criadas em Curaçá são denominadas o Refúgio de Vida Silvestre (Revis), com cerca de 29 mil hectares, e uma Área de Proteção Ambiental (Apa), com aproximadamente 90 mil hectares. A criação das duas áreas na região foi o primeiro passo do plano, que também construiu um Centro de Reintrodução e Reprodução da Ararinha-Azul em Curaçá, onde vivia o último remanescente.
O centro custou mais de US$ 1,5 milhão construído com apoio de instituições parceiras como a Al Wabra Wildlife Preservation (AWWP), do Catar; a Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), da Alemanha; a Parrots International, dos EUA; o Jurong Bird Park, de Singapura; a Fazenda Cachoeira e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Brasil.
Com o título de “A legitimate zoo? How an obscure German group cornered global trade in endangered parrots” (Um zoológico legítimo? Como um Grupo Alemão encurralou o comércio mundial de papagaios ameaçados, na tradução para o português), os jornalistas descrevem que a Associação para a Conservação dos Papagaios Ameaçados, possui uma das maiores coleções particulares de psitacídeos em risco de extinção do mundo. Estão nas mãos de Guth, nada menos do que 90% da população de ararinhas-azuis ainda existentes no planeta. A associação afirma ter como missão “a reprodução em cativeiro de espécies ameaçadas para a segurança de suas populações”.
A apuração realizada pelos jornalistas do The Guardian revela que Martin Guth ficou cinco anos na prisão por sequestro e extorsão e passou outros 20 meses na cadeia, por extorsão, novamente, em 2009. A associação administrada por ele tem uma licença do governo alemão para operar como um zoológico, todavia, não é aberta ao público.
Os jornalistas afirmam que o trabalho da associação já foi questionado por cientistas, conservacionistas e outros criadores e que, o governo da Alemanha tem conhecimento disso e também, de mensagens nas redes sociais que indicariam que aves australianas, supostamente importadas por Guth, estariam sendo vendidas por milhares de dólares.
A equipe do The Guardian ressalta, entretanto, que em momento nenhum questiona a maneira como os animais são tratados no local. E que a ONG tem a permissão da Agência Federal de Conservação da Natureza para importar aves.
Não é só o governo brasileiro que fez uma parceria com a associação, mas também Austrália e as ilhas caribenhas de Dominica, Santa Lúcia e São Vicente. Estes últimos exportaram papagaios e araras para a instituição de “conservação”.
De uma coleção particular do Qatar, pertencente a um sheik da família real, a ONG alemã adquiriu ararinhas-azuis. Da Austrália, saíram mais de aves raras e ameaçadas de extinção com destino a Tasdorf. A concessão dos animais foi feita para que eles fossem expostos, mas como dito mais acima, a associação não é aberta ao público.
A organização alemã afirma que tem outras cinco sedes. Uma delas, na Holanda, é administrada por um colecionador de aves, que em 2015, foi considerado culpado pela compra de aves silvestes ilegais.
Procurado pelo jornal britânico, Martin Guth negou todas as acusações. Alegou que os jornalistas estão inventando histórias e perseguindo a associação, além de que, garantiu que “é extremamente cuidadoso ao seguir todas as regras e legislações determinadas tanto pelas autoridades alemãs, quanto àquelas de outros países com que lida”.
O Conexão Planeta, em reportagem assinada pela jornalista Suzana Camargo entrou em contato, por e-mail e telefone, com a assessoria de imprensa do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade, ICMBio, órgão do ministério do Meio Ambiente responsável pelo programa de conservação da ararinha-azul, para ter uma posição sobre a denúncia. Também perguntamos ao ICMBio se o governo brasileiro pagou pela vinda das aves e qual teria sido esse valor.
Nota da assessoria de Comunicação Social do ministério do Meio Ambiente:
“A matéria não trata do programa da ararinha-azul e portanto não temos elementos para nos manifestarmos. O governo do Brasil a partir de consultas e reuniões com as autoridades alemãs e autoridades de outros países tem trabalhado em parceria com os mantenedores de ararinha-azul para sua reintrodução. No que se refere à instituição ACTP, a Autoridade Administrativa CITES da Alemanha foi consultada à época e deu seu aval. O ministério também respondeu sobre a questão do pagamento ou não do Brasil à associação alemã. Segundo a assessoria de comunicação, o governo não está pagando nada pela vinda das ararinhas-azuis ao país. As informações são do Jornal The Guardian.
Redação redeGN/Blog Geraldo José Informações The Guardian Foto: Ilustrativa
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