Jovens da Bahia recebem Jovens do Piauí durante Intercâmbio de Boas Práticas da Juventude

Foi na plateia do cinema ao ar livre, na roda de conversa, de São Gonçalo ou de samba de véio, no degustar de picolés e no banho de cachoeira, que jovens de comunidades rurais da Bahia e do Piauí vivenciaram trocas de experiências sobre cultura, geração de renda, identidades, pertencimento, direito à comunicação, dentre tantos outros conteúdos.

Essas vivências foram planejadas a partir de diálogo entre o Projeto Viva Semiárido, executado pela Secretaria de Agricultura Familiar do Estado do Piauí e o Pró-Semiárido, iniciativa do Governo baiano através da Secretaria de Desenvolvimento Rural, ambos executados em parceria com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida).

A organização desse momento contou com o apoio do Irpaa, que executa o Pró-Semiárido em Juazeiro e em mais quatro municípios baianos. O Intercâmbio, realizado no período de 14 a 16 de fevereiro, teve início nas comunidades do Vale do Salitre, em Juazeiro, onde o Coletivo de educomunicação Carrapicho Virtual recebeu 25 jovens de comunidades rurais do Piauí para conhecer a experiência desenvolvida desde 2016 envolvendo o protagonismo juvenil a partir da comunicação e cultura popular e, mais recentemente, a discussão sobre a viabilidade do turismo de base comunitária na região.

O Carrapicho Virtual, que é uma das turmas contempladas com o Projeto Jovens Comunicadores, ação do Pró-Semiárido, aproveitou a oportunidade para experimentar a prática do ecoturismo, envolvendo inclusive famílias de seis comunidades, as quais hospedaram as/os visitantes em suas residências. As/os jovens também guiaram o grupo em uma rota ecoturística que contou com apresentações culturais, roda de diálogo, exibição de filme e visita a locais como cachoeira e uma histórica cerca de pedra. Esta iniciativa possibilitou a geração de renda para 14 famílias do Salitre, além de oportunizar aos jovens do Carrapicho uma experiência piloto em torno desta alternativa econômica e de formação política.

Para Manuela Ferreira, educomunicadora do grupo, "o que mais motivou a gente a se dedicar, construir e recepcionar as pessoas foi o fato deles terem esse olhar para a região do Salitre, sobretudo para experiência que o Coletivo Carrapicho Virtual traz". A jovem destaca ainda a importância de envolvimento das comunidades com a proposta e se mostra entusiasmada com o turismo de base comunitária, uma vez que, para ela, "é um turismo educativo, de acolhimento, de troca de experiências com as famílias. Tudo se renova, tanto a comunidade, quanto o olhar das pessoas para a comunidade, porque vão começar a cuidar mais do seu lugar, vão querer se apropriar mais da própria história, então isso nos motiva".

A juventude do Piauí que esteve no Intercâmbio integra a Rede Viva o Semiárido e, de acordo com Sarah Luiza Moreira, consultora em Gênero, Raça, Etnia e Geração do referido projeto, os três dias nas comunidades baianas "foi uma experiência incrível, de muito aprendizado, sobre a importância da organização, da juventude conseguir se sentir parte do processo, pra juventude ter renda, contribuir com a transformação do Semiárido". A intenção era conhecer iniciativas de boas práticas produtivas e de comunicação, o que foi visto a partir das visitas nos dois municípios.

Do Salitre, o grupo seguiu para Uauá, onde conheceu a atividade produtiva de jovens que hoje geram renda a partir da fabricação de picolés e sorvete à base de frutas da Caatinga. A comunidade de Lages das Aroeiras recepcionou o grupo piauiense, que depois pode conhecer também a fábrica central da Coopercuc (Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá), localizada na sede do município.

"Esse intercâmbio é uma das experiências mais ricas que eu tenho participado junto ao Projeto Viva o Semiárido", avalia Francisco de Souza, jovem morador do Assentamento Lisboa, em São João do Piauí. Ele revela que "o sentimento é de muita felicidade pelo que foi vivenciado aqui, um momento que proporcionou a gente sentir com uma intensidade, pra mim nunca sentida antes, de valorização de nossos povos (...), resistência a tudo que a Indústria Cultural impõe sobre nós tentando sufocar o que a gente tem de essência, que é nossa cultura, nossos costumes. Pra mim é um território que respira cultura".

Irpaa/Ascom