Sempre que eu questiono “por que o homem planta?”, a resposta que recebo, na grande maioria das vezes, é que é para ganhar dinheiro. Naturalmente, essa é uma resposta correta, mas essa não é a origem da agricultura, que nasceu ainda nos tempos do homem das cavernas.
Quando o homem começou a plantar passou a ter mais próximo de si um dos três itens básicos para sua sobrevivência: o alimento. Assim, os avanços da agricultura sempre estiveram intimamente ligados à sobrevivência de nossa espécie. Não há como negar que precisamos produzir comida, além de fibras e energia, pois sempre haverá a necessidade de produzir mais do que o consumo global, até porque sempre haverá algum desperdício.
Precisamos de muita comida para alimentar as 7 bilhões de pessoas do mundo atual. E será necessário aumentar em 50% a produção de energia e em 70% a produção de alimentos para atender às demandas futuras de quase 10 bilhões de pessoas. Pensando na evolução da demografia em um sentido mais amplo, os ancestrais humanos habitam o planeta há mais de 5 milhões de anos e a população teve um crescimento lento e estável até chegar a 1 bilhão de pessoas, por volta do ano 1800, marcado pelo capitalismo e pelo início da explosão das populações urbanas. Antes da moeda, cada família precisava produzir seu alimento porque as relações comerciais eram de escambo. Com o dinheiro, as pessoas podiam estar nas cidades, trabalhando em outras atividades, e comprar seus alimentos. E, assim, diante dos atrativos urbanos, as populações nas cidades não param de crescer frente ao campo, e temos cada vez menos gente produzindo para alimentar mais pessoas.
O homem, com sua ciência, certamente será capaz de aumentar a produção de alimentos. Mas, se já sobra comida, por que há fome no mundo? Porque o problema está no acesso aos alimentos. O problema nunca foi a falta de comida, e sim a falta de dinheiro – ou alguém duvida de que comida chegaria aos povos hoje famintos, se eles tivessem o capital necessário para comprá-la?
Se a demanda pelos alimentos é constante, são os ciclos de oferta que determinam os preços. Em qualquer quebra global da produção, os preços sobem. Certamente quem tem renda consegue comprar os alimentos necessários, mas e quem não tem? Cada aumento de preço dos alimentos cria uma desigualdade social cada vez maior. Em face do aumento da população e das justas pressões pelo não desmatamento, há outra solução que não seja aumentar a produtividade das áreas com o uso de insumos?
Deixo aqui uma reflexão: será mesmo que a produção de alimentos social e ambientalmente justa é aquela que preconiza a volta ao passado nas técnicas de cultivo? Aquela que vende seus produtos pelo dobro do preço porque produz menos e precisa de mais mão de obra? Será que a sociedade quer voltar aos patamares de preço do século XIV, em que, por exemplo, o açúcar era tão raro e dispendioso que era conhecido como “ouro branco”, chegando seu quilo a custar US$ 100?
Uma vez li uma frase cujo autor desconheço: Quem tem o prato cheio de comida pode ter vários problemas, mas aquele com o prato vazio tem um só.
FÁBIO KAGI - É gerente adjunto de Inovação e Sustentabilidade da Associação Nacional de Defesa Vegetal (ANDEF)
1 comentário
26 de Sep / 2019 às 06h08
Amigo hoje o povo ta desempregados sem comida sem saude sem educação sem presidente. Temos Laranja tipo B