A baixa temperatura que vem fazendo no início das manhãs em Petrolina e Juazeiro está influenciando no trabalho dos pescadores artesanais que atuam no rio São Francisco. Com a água mais fria, pescar ficou cada mais difícil. O pescador Tadeu Reis, de 60 anos, começou a navegar no Velho Chico ainda criança, aos 5 anos, quando costumava acompanhar o pai. Com a experiência adquirida ao longo do tempo, ele sabe que a época não está boa para quem vive da pesca artesanal.
“É uma época fria, muita friagem e o peixe não caminha pra se alimentar. Ele sai uma horinha quando o sol está quente pra se alimentar, e nessa hora também o pescador não pega ele porque a água está cristalina”, diz Tadeu. Na Ilha do Fogo, entre Juazeiro e Petrolina, os barcos enfileirados muito cedo da manhã denunciam mudanças na rotina dos pescadores. Por lá, a esperança de dias melhores garante o trabalho diário nas redes. “Está um pouco difícil pra gente, porque o firo está demais, a ventania. Pra poder a gente manter, está cruel”, lamenta o pescador Werberti Souza.
Além da baixa no rio, a queda da temperatura é mais um problema enfrentado pelos pescadores do Vale do São Francisco. Com a água mais fria, os peixes ficam mais escassos. Espécies tropicais e subtropicais não se movimentam e a pesca diminui em até 70%. A bióloga Mary Ann Saraiva, especialista em Ictologia, explica que os peixes são animais ectotérmicos e que dependem exclusivamente da temperatura do ambiente. “Está muito fria a água. A noite está esfriando mais do que o normal e esses peixes estão procurando ficar em águas próximas a pedras mais profundas, porque a pedra aqueceu e está compartilhando calor com a água e lá está mais para propício que ele viva”.
A variação de temperatura com madrugadas mais frias nessa época do ano no sertão, é uma coisa incomum, mas anunciada. “Na nossa região, que é de clima semiárido, nós estamos vivendo uma época mais fria e longa. Essa época não era para estar tão frio e os peixes estão sentindo isso. A gente precisa lembrar que tudo isso é fruto das alterações climáticas, que se anunciam há muito tempo e tem a ver com o processo planetário e o aquecimento global”, explica a bióloga.
G1 Petrolina Foto: Ney Vital
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