Vícios, abusos e outras situações levaram mulheres ao Centro de Recuperação Evangélico Livres para Servir (CRELPS) para buscar apoio, cada uma com sua difícil história de vida. Essas memórias foram tema para uma mostra de dança apresentada por elas mesmas, hoje (08) pela manhã, no pátio da instituição. Através dos movimentos elas falaram sobre questões de suas vidas e a necessidade de mais amor no mundo.
As coreografias foram criadas durante a Oficina de Dança Experimental ministrada desde segunda (04) pela bailarina Fernanda Luz, dentro da programação do 1º Circuito de Dança na Periferia. "Eu saio daqui tendo a certeza que faço parte da vida delas, eu fiquei muito mexida com tudo que a gente vivenciou aqui", conta Luz.
Na maquiagem, havia brilhos enfeitando o rosto, mas era o sorriso delas que chamava a atenção. Como o de L. D. S. (23 anos), que está há oito anos na casa após ser resgatada pela justiça por sofrer abusos desde os 08 anos de idade. "Querendo ou não, a gente tem bloqueios, achando que não consegue. Através de outras pessoas, uma pequena dose de carinho muda a vida de alguém", conta.
A jovem M. S. (16 anos) está há quase um ano no centro para se recuperar do vício em drogas e disse que entendeu que através da dança pode passar uma mensagem de "que não é pra gente desistir e que a gente é capaz de conseguir. A gente tem que usar nosso corpo para demonstrar o que tem dentro da gente".
Cartazes brancos com manchas vermelhas traziam mensagens de respeito e necessidade de mais afeto entre as pessoas. Esses foram alguns dos assuntos abordados nas aulas, onde elas podiam conversar sobre suas experiências. Até a pequena Nayane Vitória (09 anos) disse ter aprendido com as trocas. Ela é filha de uma das funcionárias e disse estar muito feliz por poder participar do projeto. "Gostei de quando a professora chamava a gente pra sentar e conversar. Eu amei esse projeto, quero participar todas as vezes", disse.
A apresentação se encerrou com um grito coletivo para reafirmar a força da mulher, dizendo "sou mulher, sou amor, sou força, sou coragem". Em um grande abraço coletivo, as participantes se emocionaram. A instrutora das aulas disse para as meninas continuarem a pensar sobre isso. "Espero que não fique só discurso, que saia do papel, que a gente bote em prática o que dizemos no verbo. Sejamos amor, sejamos respeito", pontuou.
A co-diretora do CRELPS, Neide Alves, disse que acha sempre bom que projetos de arte cheguem às instituições sociais. "Levanta a autoestima delas demais, incentiva muito elas para serem capazes de vencer. (...) O melhor é que foi uma semana bem tranquila, pois elas liberam muita energia", comenta. "Eu olhava para as mensagens nos cartazes e via que elas estavam escrevendo a própria história de vida delas, dizendo "eu vou vencer", através da dança elas estavam colocando para fora o que sentem", completou.
O projeto é uma realização da Cia. Balançarte e conta com o incentivo financeiro do Governo do Estado de Pernambuco através do Edital Funcultura Geral 2017. Essas ações fazem parte do segundo ciclo do circuito, sediado na Associação das Mulheres Rendeiras, que também atende mulheres e jovens em situação de risco social. "Entendemos que quem frequenta esses lugares vem de várias periferias para cá", explica Marcos Aurélio Soares, coordenador do circuito.
Adriano Alves / Agência Virabólica
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