ARTIGO – ENTRE TOLOS OU SÁBIOS?

Tanto pelo que se vê nas redes sociais, como o que se ouve dos amigos em desabafos diversos, está em crescente desenvolvimento uma tendência de açodada cobrança por medidas mais urgentes e conclusivas à equipe que assumiu o governo, há nada mais que 13 dias corridos. Esse número, seria mera coincidência obsessiva? Não, apenas uma coincidência normal, sem fanatismo! 

Embora seja visível a ansiedade por soluções mais rápidas para os muitos problemas que inquietam uma boa parte da população, não se pode pretender que nesse curto prazo, milagrosamente tudo se resolva. Tudo bem quando a preocupação é justa e pertinente, mas, é preciso ter a clareza de que o derrotismo e o negativismo querem ocupar o seu espaço. Nada mais atual que o provérbio português que nos ensina que “cautela e caldo de galinha, nunca fizeram mal a ninguém”. É preciso raciocinar com equilíbrio e falar com moderação, o que nos induz, também, à lembrança do que disse o grande sábio e Rei Salomão: “que até o tolo quando se cala é considerado sábio” (Provérbios 17:28). E todos sabem que, matematicamente e logicamente, 13 dias não são 16 anos... E nem estou aqui a dizer que é preciso esperar tanto para cobrar aquilo que o povo precisa.

Sejam os eleitos (Presidente e Vice) ou mesmo aqueles que saíram vencidos no recente pleito, nenhum deles cursou uma “Faculdade de Graduação para Presidente” que os habilitasse a dizer em alto e bom som: ESTOU PREPARADO PARA SER PRESIDENTE! E assim habilitado, não poderia cometer erros, seria ágil, perfeito na escolha de todos os membros da equipe e, sobretudo, competente para emitir, num passe de mágica, todos os Decretos e Medidas Provisórias, e fazer as Reformas necessárias. É evidente que todos têm um mínimo de formação cultural ou mesmo acadêmica para um bom desempenho nos cargos para os quais foram escolhidos, mas não deixam de ser falíveis em várias questões de natureza administrativa ou mesmo política. Mas quem foi o competente e abrangente em todas as áreas? Nem houve, nem haverá. E, como dizem pelas esquinas: “se não roubar, já terá sido um diferencial, ao final”.

Por exemplo, tem se percebido algumas idas e vindas de posturas governamentais que refletem certa insegurança, uma vez que pensamentos são lançados publicamente e logo depois surge um recuo e o anúncio de que tais intenções não vão se concretizar. A priori, essa atitude realmente passa o entendimento de despreparo ou fraqueza na gestão do Estado, o que fortalece os opostos e estimula o sentimento da dúvida entre os partidários. Contudo, segundo o antropólogo Piero Leirner, professor da Universidade Federal de São Carlos, especialista no estudo das instituições militares há quase 30 anos, a equipe estaria utilizando “instrumentos não convencionais, como as redes sociais, para fabricar operações psicológicas, com grande poder ofensivo, mas gerando a impressão de que a estratégia de comunicação é amadora”. Ainda acrescenta que a comunicação do Bolsonaro “tem se valido de métodos e procedimentos bastante avançados de estratégias militares, manejados de maneira muito inteligente, precisa, pensada”. 

Esse é um contexto tático possível de estar acontecendo, e muitos podem não estar se dando conta. A inexperiência de alguns Ministros, todavia, tem produzido alguns descontroles verbais perigosos, o que sugere a necessidade de pensar mais e falar menos, apesar de que, às vezes, é melhor pensar e falar para todos ouvirem, do que fazer e acontecer nas caladas das madrugadas cinzentas da Capital do Poder, sem ninguém ver e saber o que fazem, sem nenhum escrúpulo. Mas, também não vamos exagerar, ao ponto de Ministro pretender alterar a forma da terra e dar novo conceito ao sistema solar, quando deveria estar produzindo ideias úteis para o seu próprio Ministério ou contribuindo para a eficiência do trabalho da equipe de governo!

Não me identifico com qualquer comprometimento político que possa obscurecer a livre crítica na hora certa e adequada. Acho sugestivo e prudente que, diante da sabedoria salomônica, aos críticos contumazes seja recomendada uma opção alternativa entre permanecerem “tolos” ou saberem calar e se tornarem “sábios”!

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público - Aposentado do Banco do Brasil (Salvador-BA).