Professor do curso de museologia da Universidade de Brasília (UnB), Emerson Dionísio Gomes de Oliveira foi diretor do Museu de Arte Contempranea e pesquisa museus de arte no Brasil. Para ele, o incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro é consequência de um plano de desmonte dos equipamentos culturais do país. Não é culpa de um governo específico, mas da falta de percepção política e social da necessidade de preservação da memória como parte da construção de identidade
E, mais do que circunscrito apenas à área de patrimônio e cultura, é um símbolo do aprofundamento da desigualdade no país. “As pessoas, muitas vezes, perguntam qual a importância de um museu diante de tantas mazelas e precariedades. O problema é que as coisas se conectam. Temos um problema enorme de coesão social no Brasil, de desigualdade social, e isso também vem da ideia de que não pertencemos a um lugar-comum”, explica.
“A gente não se vê, necessariamente, conectados a uma história comum, a um espaço público comum, e isso tem a ver com a maneira como tratamos a cultura, as instituições e a memória.” Segundo Dionísio, a perda de instituições culturais é mais um passo em direção ao aumento do fosso da desigualdade social e da dificuldade de perceber que a cultura também é um componente fundamental nesse processo.
“Você precisa aparelhar, precisa construir um conjunto de instituições que ajudem a construir uma identidade comum, porque sem ela, é a barbárie, sem ela, a gente não se reconhece. O problema é sempre do outro e, assim, todas as questões sociais ficam mais agudas. É um conjunto, os museus não se veem separados da sociedade. O universo da cultura, de modo geral, está sendo pauperizado demais”, diz.
Foto: Ney Vital
0 comentários