Desde 1999, emergências brasileiras estão cheias de vítimas. Pessoas que perdem anos de vida produtiva, geram custos altos à saúde e são espelho de escolhas equivocadas na mobilidade brasileira. De cada 10 vítimas de acidentes de trânsito, sete são por moto. Um em cada 10 vitimados sofre mutilações. Sete em cada 10 deles precisam ser operados por mais de um especialista. Até 30% das emergências e 40% das UTI são ocupadas por eles. O resultado é uma conta que não fecha.
“Esse é com certeza o maior problema de saúde pública do Brasil. Para além das mortes, há a questão das mutilações. Todos os anos, temos até 2,5 mil mutilados”, afirma o secretário de Saúde de Pernambuco, Iran Costa.
No Brasil, existe uma moto a cada oito habitantes. Por dia, o país produz 2,4 mil novos veículos sobre duas rodas para atender à demanda de usuários. O estudo A frota de veículos nos municípios em 2018, da Confederação Nacional dos Municípios, mostra que em 45% das cidades brasileiras a frota circulante de motos já é maior do que a de carros.
Pernambuco, localizado na região do país onde trafegam 7,4 milhões de motocicletas, não foge à regra. O estado ainda supera e muito a média nacional. Em 83% dos 184 municípios pernambucanos, essa superioridade sobre duas rodas acontece.
Na visão do professor do departamento de engenharia civil da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Leonardo Meira, a preferência na adoção das motos se explica pela má qualidade do transporte público coletivo. “Ela acaba se tornando útil para aquela pessoa que precisa se locomover, não quer usar o ônibus, mas também não têm dinheiro para comprar um carro”, diz. O Mapa da Motorização Individual ressalta ainda que, como o carro particular, a moto permite uma liberdade quase irrestrita e a possibilidade de realizar uma viagem de porta a porta.
É por isso que, ao mesmo tempo em que questiona a implantação da lei de regulamentação dos mototaxistas, o médico João Veiga ressalta a importância que esses serviços adquiriram nas cidades de médio porte pernambucanas ao longo dos últimos nove anos. “Nosso medo era que a moto virasse transporte coletivo, como é hoje. Agora é algo que não volta mais. São milhares de pessoas empregadas e milhões de pessoas transportadas”, admite.
O mototáxi se converteu em peça fundamental de deslocamento entre a zona rural e os pequenos e médios centros. “São cidades em que o transporte coletivo ou é muito ruim ou inexiste. Não fosse a moto, as pessoas não chegariam ao trabalho, nas escolas. Até dentro dos hospitais e das UPAs do interior têm ponto de mototáxi”, comenta Veiga. Para ele, o grande problema é a fiscalização.
Diário de Pernambuco
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