Muito mais que um simples meio de comunicação, a radiodifusão foi e é um dos principais veículos de comunicação difusor de cultura e conhecimento de norte a sul do Brasil. A radiodifusão, para muitos brasileiros, é a única ou principal fonte de informação, principalmente para aqueles que moram em regiões distantes dos grandes centros. Há algum tempo ouvi o ex-ministro e cantor Gilberto Gil, oriundo de um desses rincões brasileiros dizer: "Através do rádio, ouvia vozes, sons e como era o mundo além de Ituaçu”, pequena localidade no interior da Bahia, cidade onde passou parte de sua infância.
Devido ao modo de emissão da AM (Amplitude Média), é possível ouvir a programação de rádios à distância, centenas de quilômetros dependendo da propagação, pois as ondas refletem na ionosfera e voltam à terra. Tal fato não mais ocorrerá com o modo de emissão FM (Frequência Modulada). Nesse modo de emissão o sinal é distribuído acompanhando o relevo em uma determinada localidade, em média 50 quilômetros, salvo quando o sinal é distribuído por satélite.
A portaria que defineU as regras para a migração das emissoras AM para a faixa FM e a forma como os processos acontecem foi assinada pelo Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
Segundo o Governo Federal, a migração das rádios de uma faixa para outra é uma antiga reivindicação das rádios comerciais, que dentre outros benefícios terão maior clareza de áudio e poderão explorar seu negócio com maior eficiência. O fato é que muitas emissoras já estão investindo.
Nesse cenário de Crise, baixo crescimento e alta do dólar, será que essas emissoras terão fôlego para aquisição de novos transmissores e equipamentos? O mais estranho nessa medida é o fato que em todo o mundo existe radiodifusão AM e essa alteração não trará nenhum benefício no uso do espectro radioelétrico ora ocupado.
Paralela a essa discussão, com o fito de otimizar o espectro radioelétrico, EUA e Canadá por exemplo, há décadas vem estudando como implementar a tecnologia SDR - Software Defined Radio, comumente denominada White Spaces. Esta tecnologia revolucionária permite que estações radiodifusoras transmitam suas programações sem ter uma frequência fixa, utilizando para tanto softwares capazes de migrar de frequência automaticamente em caso de degradação de sinal em milésimos de segundo sucessivamente. Aqui no Brasil, também há estudos sobre White Spaces, mas pouca mobilização dos principais players nos circuitos decisórios para implementá-la.
Lindeira a essa discussão, a convergência digital que a cada dia mais ganha força e adeptos, talvez seja a grande tendência para o futuro da radiodifusão (TV e Rádio) bem como do meio pelo qual efetivamente se propagará seus respectivos conteúdos. Com o avanço da banda larga no Brasil e no mundo e a mudança comportamental, principalmente dos jovens, acostumados a carregar seu "mundo" no celular, penso que a discussão da migração de rádios AM para FM, em grande parte é inócua e assíncrona com as novas tendências da tecnologia da informação.
*Dane Avanzi é empresário, advogado e vice-presidente da Aerbras - Associação das Empresas de Radiocomunicação do Brasil.
Espaço Leitor
4 comentários
04 de Aug / 2018 às 07h13
AO MEU VER,UM RETROCESSO,SERA UM FATOR DE EXCLUSÃO SOCIAL PARA AS POPULAÇÕES DISTANTES A MAIS DE 200 KM (ALCANCE DA FM) DAS ANTENAS TRANSMISSORAS.COM ISTO,NESTAS LOCALIDADES DISTANTES,O APARELHO DE RADIO PASSARA A SER UM MERO ENFEITE DECORATIVO,SALVO SE POSSUIR FAIXAS PARA A SINTONIA DE ONDAS CURTAS,ONDE PODERÁ SINTONIZAR EMISSORAS ESTRANGEIRAS.DIVIDIRA O PAIS AINDA MAIS,POIS NESTAS LOCALIDADES DISTANTES,SINTONIZANDO EMISSORAS ESTRANGEIRAS,A POPULAÇÃO TERA DE OBRIGATORIAMENTE APRENDER OUTROS IDIOMAS,SE QUISER OUVIR ALEM DE MUSICAS EM SEUS RECEPTORES DE RADIO.
04 de Aug / 2018 às 10h24
Acredito que o único benefício que essa "migração" vai trazer é justamente a clareza de sinal e o sistema assíncrono de áudio que poderá ser ouvido na hora que o ouvinte quiser se a emissora dispuser de um app. Ao mais, o artigo procede e é útil para o entendimento da população que ainda desconhece a referida mudança.
04 de Aug / 2018 às 11h03
Geraldo, isto das Ams migrarem um retroceso enorme. Interesses vao calar a voz de rádios ams que vao voltar a coxixar, pouco alcance e isto vai beneficiar os maus politicos e a populaçao que vive longe dos grandes centros e da zona de alcance das fms.
04 de Aug / 2018 às 11h28
Oxe?!?! Cadê a tal da inclusão digital??? Terá somente para quem mora na zona urbana e a zona rural ficará como????