Não sei se é possível afirmar que seja uma coincidência feliz ou não a circunstância de termos um acontecimento da magnitude de uma eleição para Presidente da República do país e, em paralelo, de quatro em quatro anos, ocorrer um fato esportivo da importância da Copa do Mundo, extremamente envolvente e que mexe com os sentimentos de 200 milhões de brasileiros apaixonados pelo futebol! Por mais que alguns queiram exibir uma certa apatia pelo esporte, extravasando descrédito com a seleção, dificilmente deixam de se reunir com os amigos para torcer com alegria, e de vibrar com emoção ao canto do Hino Nacional no momento solene que antecede a cada partida, ainda que ninguém saiba o que vem depois dos 90 minutos, pois o que conta mesmo é a alegria da entrada em campo.
Durante esses 31 dias de intensas emoções, não somente nos jogos do Brasil, mas, também, curtindo todos os jogos das demais seleções, a vibração passa a ser presente em todos os encontros e bate-papos. Obviamente que, caso o time canarinho conquiste as vitórias esperadas e muito cobradas, principalmente na fase inicial de classificação, aí testemunhamos uma condição ímpar, em que o cidadão esquece os muitos problemas socioeconômicos que afligem a sociedade no Brasil da atualidade, em paralelo a uma visível e preocupante instabilidade política. O desfecho final da Copa, se positivo ou negativo, indicará as tendências do estado de ânimo do eleitorado diante da urna. Assim, os nossos políticos devem ir acendendo as velas - e muitas velas! -, porque alguns deles poderão se tornar o alvo da vingança desses possíveis torcedores frustrados! E frustração não é coisa muito boa no meio de uma multidão cheia de sonhos!
Estamos a 105 dias, ou menos de quatro meses das eleições para Deputado Federal, Senador, Governadores dos Estados e do Presidente da República e Vice, e não é de surpreender o alheamento do eleitorado com a escolha dos seus prováveis candidatos, não por culpa do momentâneo interesse com a Copa do Mundo, mas porque existe uma indefinição de nomes no próprio cenário partidário nacional.
Esse é um período dos mais interessantes, pela soma de alguns fatos que passam a acontecer: a) O indesejado inimigo de ontem pode ser o amigo coligado de hoje; b) É o tempo em que a Esquerda namora com o Centro e a Direita, e vice-versa, até que o casamento se consolide através dos acordos eleitorais e são avaliados os convenientes dotes oferecidos em troca; c) As paixões ideológicas são jogadas ao lixo, temporariamente, porque agora valem mais os minutos de tempo que o partido traz para o horário político do rádio e da televisão; d) Se os novos coligados são rotulados de “Ficha Suja” não importa, pois, quem não é? Ou seja, o importante é que estejam juntos e misturados.
Esse é um tempo em que dá tristeza assistir pela TV a uma sessão da Câmara de Deputados, em Brasília, visto que em meio à discussão e votação de algum projeto ou emendas importantes, muitos são os deputados - escapam poucos! -, que se acercam do microfone e falam um monte de futilidades das suas andanças pelas regiões onde são votados, geralmente dando ênfase a assuntos sem qualquer relevância ou correlação com o tema em debate, e ainda arremata pedindo ao presidente que “divulgue a sua fala nos órgãos de comunicação da casa e na Voz do Brasil”, etc. Isso é, no mínimo, um desempenho parlamentar frágil e irresponsável! Ninguém diz a esses caras que essa é uma atitude que envergonha o Parlamento brasileiro? Mas, também, se disser isso a quem tem pouca vergonha, realmente de nada vai adiantar!
A esperança que fica, neste momento, é que a Seleção brasileira permita as alegrias que esse povo merece, e que a vitória desperte a consciência do eleitor na escolha dos homens de responsabilidade para comandar este país, caso ainda existam! E que o SONHO e a REALIDADE possam coexistir sem CONFLITO neste país.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público - Aposentado do Banco do Brasil – Salvador - BA.
7 comentários
24 de Jun / 2018 às 23h05
Realmente entre o sonho e a realidade a distância é muito grande. Ou seja, só acordado para saber a diferença... É exatamente isso que faço desde que me tornei acordadinho. Trocadilhos a parte, a verdade é que conforme bem dito no texto o problema crônico hoje se chama VERGONHA. Ela torna tudo mais difícil, e sem ela pode sonhar os sonhos mais lindos que não passará de uma grandiosa MENTIRA!
24 de Jun / 2018 às 23h09
Continuo assíduo leitor dos seus artigos. Parabeniza-lo, é o mesmo que dizer, seus artigos são excelentes! "Sonho e Realidade em Conflito", compara-se a uma anaminese realizada a um corpo que está doente, mas, que não perde a esperança de um remédio que seja capaz de curá-lo! Felizmente, o povo brasileiro é um povo que vive de esperanças. Entre a copa e a política, o povo se dá o direito de torcer e de votar nas eleições. Espero que haja mudança no sistema anacrônico político atual e, que o brasileiro não se torne vítima das suas próprias escolhas! (Uauá-BA).
24 de Jun / 2018 às 23h15
Excelente artigo Agenor e merece uma reflexão mesmo! Parabéns!! (Irecê-BA).
25 de Jun / 2018 às 00h24
Esta crônica traz uma interessante correlação entre a emoção e a realidade que impera entre os brasileiros. Trazendo o futebol como paixão nacional e que por isto pode ser utilizado pelos políticos nos seus objetivos, dependendo do resultado dos jogos da copa. E isto nos proporciona mais uma vez a triste realidade: nossos políticos são corporativistas e absolutamente incompetentes para oferecer soluções aos problemas nacionais. A sua descrição do que acontece é perfeita , Agenor. E nos comprova que somos aprisionados pela eterna esperança. Que teima em não se tornar realidade . FOZ DO IGUAÇU.
25 de Jun / 2018 às 03h34
O Artigo eh certo, mas nem tudo tá perdido.
25 de Jun / 2018 às 03h43
Parabens senhor Agenor. Tem que reduzir pela metade o salário dos deputados...e ainda fica um salário muito alto....
25 de Jun / 2018 às 11h52
PARABÉNS POR MAIS UM BRILHANTE ARTIGO. O BRASIL CONTA COM UM EXCELENTE E PROBO ARTICULISTA. (NORDESTINA-BA).