ARTIGO – A VOZ DAS ESTRADAS

Depois da nação conviver ao longo de tantos anos com movimentos reivindicatórios legítimos, ou de natureza política, e cujas manifestações de rua quase sempre exibiam a marca negativa do vandalismo exacerbado oculto sob as máscaras covardes dos “Black blocs” a destruir o patrimônio público e privado, eis que um novo tipo de movimento classista se apresenta ao país com um poder e volume de consequências antes inimagináveis, e que pode ser classificado como A VOZ DAS ESTRADAS! É de se acreditar que nem mesmo aqueles que assumiram a liderança dos caminhoneiros em nível nacional tenham a consciência da força que representam e o poder que têm nas mãos. Assim, provam a muitos que suas mãos sabem guiar não somente volantes de caminhões, mas, também, conduzir propostas importantes em defesa desse segmento de trabalhadores deste país.

Impossível não compreender que são justas e extremamente razoáveis as reivindicações desses importantes profissionais que transportam o progresso pelas estradas do país, colocando em risco a própria vida, diante da insuportável tributação que recai sobre os combustíveis, principalmente a incidência sobre o Diesel que utilizam, ao lado dos elevados custos adicionais de pneus, peças, pedágios, etc. 

Não obstante a razoabilidade e justiça daquilo que reivindicam, parar a principal via de transporte de insumos básicos para a indústria nacional e atendimentos hospitalares, é preocupante por estagnar o escoamento de toda a produção agrícola e industrial, além de atingir o centro nevrálgico da saúde e da educação. Isso para não falar da enorme ferida na estrutura produtiva da nação e um incalculável prejuízo à economia nacional! Aqui se entenda, prejuízo sem volta. 

Cada setor produtivo foi atingido no cerne de sua estrutura e a sua recuperação poderá ser muito penosa, porque todos têm o seu funcionamento interligado e interdependente. O frigorífico depende da produção das granjas e da pecuária de larga escala, que dependem da produção de ração e suplementos minerais. As indústrias, em geral, dependem de matérias-primas de toda ordem para o seu processo produtivo. E os nossos caminhoneiros representam o elo de ligação de toda essa máquina produtiva em conexão com o consumidor final à espera desses bens. 

Muito se reclamava, ultimamente, pela falta dos “panelaços” ou do povo nas ruas, para protestar pelos erros cometidos pelo atual governo, cuja fragilidade para mim não foi surpresa. Quem leu os meus artigos na fase de andamento do processo de impeachment da Dilma, deve se recordar do que então já dizia: “que seria uma simples troca de SEIS POR MEIA DÚZIA. [...] que, concretamente, nada mudaria no perfil entre o governo que entra e o que sai (se sair!). Para restabelecer a credibilidade perdida no âmbito interno e externo, e o país retomar o seu desenvolvimento econômico, somente a instituição de ELEIÇÕES GERAIS pode oferecer ao povo a oportunidade de fazer uma varredura completa, defenestrando, igualmente, aqueles que envergonham o Congresso Nacional” (O “GOLPE” EM DOIS ATOS, 17/04/2016). Assim, este autor já previa o cenário que se desenhava para o futuro e que hoje se faz presente. Eventuais acertos desse tipo, contudo, não faculta a alguns radicais sectários o direito de atribuir ao autor a pecha de direita, esquerda ou conservador de centro, porque, na verdade, não passo mesmo é de um exigente eleitor nacionalista e sem vinculação partidária.

De todo esse imbróglio que o país está vivendo, uma coisa é certa: QUEM VAI PAGAR A CONTA É O POVO!  O governo, de forma simpática, negociou com os caminhoneiros, excluiu o PIS/COFINS e a CIDE do custo do Diesel, mas logo afirmou que ia ter de buscar essa receita em algum lugar para compensar o valor que estava perdendo. De pronto o Ministro da Fazenda pensou em reduzir BENEFÍCIOS. Ora, porque não planejou uma fórmula de como reduzir as pesadas despesas do Estado, e à metade o número de Ministérios, ou lançar uma PEC-Proposta de Emenda Constitucional para reduzir 50% do tamanho do Congresso Nacional!!! Para que 513 Deputados e 84 Senadores? Para o desfrute de fartas verbas de gabinete e auxílio moradia, e fazer correr por 597 ralos a sujeira que todos os dias nos damos conta? Só se for!

A grande preocupação atual é que o movimento ordeiro dos caminhoneiros terminou sendo corrompido no seu final pelos agitadores de sempre, infiltrados, que procuraram usurpar um pouco do sucesso obtido pelo movimento, maculando-o com a verbosidade colorida e a violência de sempre.

Assim como a partir da década de 1950 os governantes de então cometeram a infelicidade de iniciar o sucateamento das Ferrovias brasileiras, quem sabe os atuais, agora reféns do sistema rodoviário, resolvam repensar a gradual reativação da Rede Ferroviária Nacional!

Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público - Aposentado do Banco do Brasil – Salvador - BA.