A degradação do solo motivada pela atividade humana já alterou 75% do território global e, atualmente, afeta 3,2 bilhões de pessoas — quase a metade da população do planeta. No primeiro relatório já publicado sobre o assunto, lançado ontem pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas (Ipbes) em Medelim, na Colômbia, especialistas de 45 países alertaram que, associada ao aquecimento global, a destruição progressiva da superfície terrestre provocará migrações em massa até 2050, intensificando a já dramática crise de deslocamentos humanos.
As consequências da alteração do solo não se esgotam aí, afirmaram os mais de 100 pesquisadores voluntários, que elaboraram o documento com base em centenas de publicações científicas e em um levantamento de três anos. Além das migrações, eles destacam a redução da área para cultivo de alimento e a piora da qualidade da água.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) calcula que 95% dos alimentos para os humanos são produzidos de forma direta ou indireta nos solos. Com uma população que vai exceder os 9 bilhões de pessoas em 2050, os impactos da mudança climática e a luta pelos recursos naturais, a FAO considera fundamental que se eleve a qualidade dos alimentos, usando os terrenos atualmente cultivados.
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“Os danos causados no solo podem afetar nossa capacidade para produzir comida, degradar a qualidade da água e eliminar as superfícies produtivas. Dessa forma, as pessoas podem perder seus meios de subsistência, e, no geral, terão de imigrar enquanto a terra se degrada”, declara Robert Watson, presidente da Ipbes, um organismo independente que reúne 129 países. O problema não se reduz a uma ou outra nação: “A degradação da terra não é uma questão de nicho. Atualmente, afeta muitas partes do mundo e muitas pessoas”, completa Watson. Os pesquisadores estimam que pelo menos 50 milhões de pessoas terão de sair de seu território natal em busca de alimentos em 2050.
Nos relatórios, os cientistas apontam possíveis soluções: criar mais áreas protegidas, restaurar zonas degradadas e repensar os subsídios que promovem a agricultura insustentável. Governos, empresas e indivíduos devem considerar o impacto sobre a biodiversidade ao tomar decisões sobre agricultura, pesca, silvicultura, mineração ou desenvolvimento de infraestruturas, sustentam.
Agencia Brasil
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