“A VIDA SEM A MÚSICA SERIA UM ERRO“. Este incólume dizer nietzscheano engloba gulosamente o real sentido para a existência (Ou Existencialismo?) humana da mais soberba e acolhida das artes. Bem antes, do alto da sua pomposidade filosófica, o platonismo vaticinava: “A MÚSICA É ELEMENTO FUNDAMENTAL NA EDUCAÇÃO”.
Pronto, saudoso Leitor de um texto cultural. Acabei de escapar do suplício de iniciar um escrito. Agora é pé na tábua e tocar em frente dedilhando sincrônicos acordes em perfeita sintonia: Caneta-inspiração-papel. Não sem antes clamar Secretapa, dileta cia, a pôr na vitrola “VIOLA ENLUARADA” de... depois “ÚLTIMO DESEJO” de... e mais adispois “AMIGO É PRA ESSAS COISAS” de... Secretapa, peraí, lembrei! Num esqueça “CONSTRUÇÃO” de... viu?
Bonito!
A cultura e a arte nacional já sofrem, mano. Dentre as suas vertentes múltiplas, sem pestanejar, a música é a mais propícia a ataques traiçoeiros, ímpios, mercadológicos, mesquinhos. A música essência leva sopapos por todos os flancos. A mais expressiva modalidade artística do país vive à beira sem eira de tornar-se apenasmente um item obsoleto, labiríntico, ridículo, descartável, nessa nossa sociedade de consumo leviano, banal, hipócrita, bestial, recheada de uma patológica filosofia feudal, nanica, capitalista, burguesa e retrógrada.
Timbroso Leitor, antes que enverede pelos confins de uma crítica contundente e raivosa diante tacanho desrespeito, dou-me a ousadia de perambular peremptoriamente pelo nosso cardápio musical variado, denso, alentador e consistente. Understwood?
Bem, sabidamente a música brasileira é uma aspiração humana universal. Os nossos astros-heróicos melódicos e poéticos, junto ao anseio e cheiro do povo, conseguiram a proeza de pôr num só balaio o choro, o maxixe, as canções de escravos, milagrando de forma genuína algo sublime e somente nosso tal qual a Jabuticaba e o jeitinho: O SAMBA. Clareando: Secretapa, pra desanuviar arroche “DESDE QUE O SAMBA É SAMBA” de... depois “FOI UM RIO QUE PASSOU NA MINHA VIDA” de...e mais adispois “TORÓ DE LÁGRIMAS“ de... Secretapa, peraí, lembrei! Num esqueça “DETALHES” de... viu?
Mais adiante pelos anais da história, as batidas de um violão (Legado do Angary) com tira-gosto de gatas desfilando em Ipanema e acrescida de um empurrãozinho sutil do jazz americano, desembarcaram de mala e caçoar no nosso Samba, parindo a maravilhosa BOSSA NOVA. Secretapa, ligeirim, “WAVE” de... depois “GAROTA DE IPANEMA“ de...e mais adispois “AQUARELA DO BRASIL” de... Secretapa, peraí, lembrei! Num esqueça “ACABOU CHORARE” de... viu?
De nossas bandas de cá, atendendo a um pedido especial da sanfona, surge o Rei do Baião. E o forró, xaxado, xote, baião, engrossou o arrastão das danças típicas, rodas de terreiro, folclore, quermesses, entropias melódicas do cancioneiro popular de raiz, o sertanejo, a cantoria, o barroquismo mineiro de esquina, a erudição Villalobal, frevo, marchinhas, substanciando ainda mais a nossa musicalidade emblemática.
Nesse esteio de excelência sobressai-se, na linguagem poético/plástica/musical/inovadora e do engajamento sócio-político... quem? Ahn, quem? Quilaro, refiro-me ao Sr. Tropicalismo. Poispõe, Secretapa, na vitrola “DOMINGO NO PARQUE” de... depois “TROPICÁLIA” de... e mais adispois “ASA BRANCA” de... Secretapa, peraí, lembrei! Num esqueça “ESPERANDO NA JANELA” de...
O poder criativo, extroverso, intrínseco, alegre, triste, sarcástico, arrematador, multifacetado, apoteótico, e que atinge o seu clímax na metamorfose permanente, na mistura genuína avassaladora, na autenticidade. Um exemplar poder criativo arrojado de um fecundo ânimo filosófico a recarregar longos e instantes a nossa eterna e genial bateria de engenhosidade musical. Impossível, ora carambolas! Barrar a proliferação vulcânica de inumeráveis valores artísticos surgindo rincões afora nesse país abençoado pelas naturezas. Impossiveeellll.
***Aí, eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar.
Pois bem, entusiástico e ressonante Leitor, sem ‘querê quereno’ botar mosca na sopa... Com tudo isso e mais os lindos poemas-músicas e mais as belíssimas interpretações e mais os envolventes molejos dançantes e mais as indizíveis viagens pelas ondas transversais sonoras, COMO QUE PODE O MAIS IMPURO LIXO POLUIDOR MUSICAL BABACA ESTÁ TOMANDO DE ASSALTO O PAÍS FORA A FORA DENTRO A DENTRO? Por que (separado)? Porque (junto)? Por quê (separado com acento)? Porquê (junto com acento)?
Amor é mio, arresponda. Euzinho Gondim é seu Leitor. Se jogue.
Notoriamente simples e simplesmente notório: Educação e Cultura em paupérrimo declínio. Não há um projeto-programático sério no derby estudantil para que os nossos jovens e adolescentes firmem contato, aprofundem e ampliem os seus conhecimentos sobre a importante relevância da música de relevo na história geral do país, quer seja jogando no campo social, político, educacional, cultural e econômico. Necas de pitibiribas de um só livro específico abordando como se deve a música nacional, a não ser no diminuto contexto de mero veículo pra dor de corno, balança traseiro e indução a fácil entretenimento. Com a Cultura de consumo tornando-se a cada dia mais volátil, o poder abusivo da mídia capitalista impactua a indústria fonográfica suja e seus clichês operacionais a fim de ocupar mentes com fugas de cérebros, mantendo fiel uma audiência massificada fugaz e, bem assim mesmo, seguir pavimentando o caminho do inferno do canto, dos cânticos, da poesia, do instrumental e do lirismo qualitativo.
Basta meia horinha na Globosta e ver os tipinhos de Cd’s lançados pelo seu selo Som Livre (O Livre é piada.). Ademais, os enxames ruins de showmanwoman invadindo os programas de auditórios e os ordinários realities. Isso, acabando de lascar, febre amarelou em todos os canais. Aí, num tem cabeça de pote que não absorva a lavagem. Pense, querido amigo, que já busquei de tudo para pôr um freio nesse caldeirão infernal. Um dia que poderia ter sido até belo e de sol, desembestei da cama à cata de solução. Primeiro, inquisitei a um advogado o que poderia ser feito baseado na lei. A resposta veio seca: O que Michael Phelps fez sempre muito bem... NADA! Pois, bastaria o usuário desligar o botão do rádio, mudar de canal a TV, colocar um tampão de orelha ao escutar da esquina um fiín de papito com paredão. Não satisfeito, lógico, resolvi ir a uma igreja evangélica. Disse-me o pastor: Só Deus na causa. Pensei, seriamente, em acionar o TRF-4, já que os três patetas foram ágeis e rapidíssimos em condenar Lulinha Paz e Amor. E sem provas. Mas, conchavado, sei que me remeteriam ao STF. Desisti dessa, pois, o STF demoraria anos e anos para o veredito. Segundo o histórico contemporâneo do apequenado STF, pressa somente para julgar petistas e arruinar Lula. Rendi-me ao imponderável: Disseminar a reto e esquerdo o bom gosto, a ideia de conteúdo, a educação e a cultura como pilares de ampla reforma musical. Em casa. No vizinho. Na feira. No calçadão. Em todos os cantos e recantos. Quem sabe?
Contudo não sou suficientemente besta a ponto de afirmar ser unicamente a educação formal e oficial dada às nossas crianças, adolescentes, jovens, os responsáveis por abastecer uma geração desabastada culturalmente. A sociedade em si, avolumando-se no pernóstico, agrava mais a caótica situação na medida em que se cala, consentindo absurdos deploráveis na contramão cultural. E, por fim, a família que teima em não enxergar os sintomas de uma doença alastrante em seus filhos, netos: O OTARISMO (Ou BURRICE soa mió, merirmão?). Ao não incentivar e encorajar, desencoraja-os a leem bons livros –Nem em dias frios-, assistirem bons programas de TV e rádio, usarem a Internet como ferramenta de diversão, mas, também, de aprendizado saudável, visitarem museus e parques temáticos, sacarem os históricos de monumentos e esculturas, integrarem círculos de amizades de papo fértil, ou, na premissa democrata de quem ninguém é de ferro, frequentarem barzinho de bom violão e sarau poético. Falar nisso: Secretapa, alivia-nos com “OCEANO”, de... depois “VOCÊ É LINDA” de... e mais adispois “RECADO” de... Secretapa, peraí, lembrei! Num esqueça “COMO NOSSOS PAIS” de... viu?
***Das coisas que aprendi no disco. Me liguei que estás ligadão, sonoro Leitor. Abraçaço.
Diante esse holocausto musical, é fácil concluir o porquê de tanta porcaria nesse carnaval baiano. Despalmas. Ressalvando pingadas exceções aqui e alhures (A esses me faço fã, dedicando-lhes sinceros respeito e consideracion), uma parafernália de maus gostos e costumes se apodera velozmente das ruas, dos veículos de comunicação, dos lares, insistindo que ouvidos humanos podem perfeitamente servirem de pinico para as suas merdas musicais. Magnânimo que, como se apregoa, a música tem que ir aonde o povo está. Porém, não no atual formato de vibração grosseira em que o erotismo e a apelação sexual sejam o diagnóstico de se cantar e dançar despudoradamente almejando ser um festivo feliz. O pagode e o axé baiano -ressalvo terem bons nisso, tá? - estão no contraponto da boa arte. Tanto que um dos pilares desse movimento abriu o bocão e vociferou: “Tô caindo fora do carnaval de rua de Salvador. Enchi o saco de ver e ouvir tanto despautério em cima de trios, em blocos, na mídia. Ao axé e pagode baiano faltam duas essências: Texto qualitativo e renovação dia a dia. Não saio mais e... cabou!”. Enfeitei, sim, Leitor. Apenas uns toques de refino, todavia, o suprassumo do dito pelo dito corajoso foi esse. Concorda com ele? Tomém. Secretapa, as saideiras: “MEIA LUA INTEIRA” de... depois “CHAME GENTE” de... e mais adispois “SIMPLESMENTE ASSIM” de... Secretapa, peraí, lembrei! Num esqueça “CORAÇÃO DE ESTUDANTE” de... viu?
Caríssimo leitor: Sinto-me por demais esperançoso e feliz de restar-nos, sem permissiva ponho-o nessa, o dom do resistir, do nunca fugir à luta, do jamais abrir mão do que é, verdadeiramente, provedor de mensagem, poesia, lição, debate, filosofia, reflexão, elucidação de caminhos, glamour melódico... ARTE!
“Ai, ai, ai, ai, Helena
Aos que sim, a ARTE
Aos que não, a DESARTE vagabunda
E que continuem olhando atrás
O seu cérebro na... PÔPA DE QUE MESMO?”
Inté mais ver.
Otoniel Gondim --- Professor, Escritor e Compositor.
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