A partir de 1º de fevereiro, a Embrapa coloca em prática uma parte importante de sua estratégia de reformular a forma como atua e assim se tornar uma empresa mais eficiente e adequada ao momento da ciência no mundo. Parte da transformação passará pela desativação da maioria das unidades centrais — de 17 para 6. As unidades de pesquisa e inovação também serão reduzidas de 46 para 42. “A crise colocou a empresa diante do desafio de se ajustar”, diz Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa. “Por isso, estamos procurando ser cada vez mais independentes de recursos do Tesouro para nos viabilizar.”
Segundo Lopes, que ocupa o cargo desde 2012, as mudanças vão ajudar a melhorar processos no dia a dia da empresa estatal, diminuir a burocracia e melhorar a relação tanto com o mercado quanto com os produtores rurais. Dentro de um ano, o executivo acredita que será possível ver os primeiros resultados. Outra alteração será feita nos nomes e atribuições de diretorias.
A que respondia por transferência tecnológica passa a cuidar de inovação e tecnologia. Além disso, foi criada a Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento, que, junto com a nova diretoria, servirá como embrião para outra novidade na Embrapa – mas que ainda depende de aprovação de um projeto de lei na Câmara. Se o projeto de criação da EmbrapaTec for aprovado, a Embrapa passa a ter um braço de negociação de seus ativos, o que vai dar mais agilidade às parcerias. Será uma empresa para lidar com o mercado, administrar a propriedade intelectual de pesquisas e negociar contratos. Hoje isso já é feito, explica o presidente, mas falta um arcabouço mais comercial.
Uma das críticas que têm se intensificado neste momento em que a Embrapa enfrenta dificuldades de caixa para pesquisas é que as despesas com pessoal são muito altas, mas Lopes garante que os custos na folha de pagamento se justificam, já que “o mais importante em instituições de pesquisa e inovação são os cérebros. Por isso, é preciso retê-los com boa remuneração”.
Ex-ministro da Agricultura (2007 a 2010) e coordenador da comissão que há quase 45 anos criou a Embrapa, o hoje deputado federal Reinhold Stephanes (PSD-PR) alerta para o risco de o Brasil desacelerar seus aportes para encontrar soluções para o agronegócio. “Não investir em pesquisa é suicídio, um contrassenso. O Brasil precisa justamente do contrário, fazer uma revolução tecnológica”, adverte.
Stephanes concorda com Lopes ao avaliar que o atual modelo de negócio da Embrapa se esgotou, tanto na parte de gestão como na pulverização de suas pesquisas. Segundo o ex-ministro, “hoje são centenas (de pesquisas), por isso talvez tenham que pensar em áreas mais estratégicas”.
Os números mostram como o Brasil, graças a pesquisas como as que são desenvolvidas pela Embrapa, vem ganhando cada vez mais protagonismo no agronegócio, porque houve investimento em tecnologia, o que ajudou a aumentar a produtividade no campo. Isso fez com que o país se tornasse cada vez mais dependente desse protagonismo.
Em 2017, segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a agricultura e o agronegócio no Brasil contribuíram com 23,5% do Produto Interno Bruto (PIB), a maior participação em 13 anos. Ainda segundo a entidade, a geração de empregos foi a mais alta nos últimos cinco anos. Segundo o Ministério da Agricultura, o país faturou nas duas últimas décadas R$ 1,23 trilhão com o agronegócio.
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