Uma tecnologia limpa empregada na Espanha e em Israel para controle de pragas tem sido utilizada com sucesso contra o ataque da mosca-das-frutas nas uvas. A chamada captura massal apresenta o simples princípio de disponibilizar uma fonte de alimento que seja mais atraente ao adulto do inseto do que a uva no parreiral. O conhecimento foi adaptado pela Embrapa Uva e Vinho (RS) para o manejo da mosca-das-frutas sul-americana (Anastrepha fraterculus) e já está à disposição dos produtores.
“O método garante a produção sem resíduos de inseticidas, pois o produto não é aplicado nos frutos: apenas é colocado numa armadilha que atrai os insetos adultos, evitando que eles danifiquem os frutos”, esclarece Marcos Botton, pesquisador da Embrapa que coordenou as pesquisas.
O controle da espécie tem sido desafiador, tanto para produtores que adotam o sistema convencional, com a aplicação de inseticidas sintéticos, como para os orgânicos, pois a mosca-das-frutas é uma das principais pragas associadas à cultura da videira, mas que também tem outros hospedeiros, o que garante a sua reprodução ao longo do ano. Além da busca por métodos mais limpos e sustentáveis, a equipe da Embrapa Uva e Vinho buscou uma alternativa para substituir os tradicionais inseticidas organofosforados, que não estão mais autorizados para uso no cultivo da videira no Brasil.
Os danos causados pela mosca-das-frutas geralmente começam com lesões decorrentes de um ferimento na baga da uva, feito pela fêmea para depositar seus ovos. Depois, em função do desenvolvimento das larvas, surgem as galerias, que geralmente estão associadas às podridões causadas por microrganismos que infectam as bagas e aumentam as perdas no período da pré-colheita. Segundo a equipe de pesquisadores, em muitos casos a perda pode ser de algumas bagas ou até de todo o cacho. No primeiro caso, é possível fazer um raleio de bagas, retirando as que estão danificadas, porém, essa prática exige mão de obra adicional, o que aumenta os custos da produção.
A Embrapa Uva e Vinho, com instituições parceiras, tem realizado diversos trabalhos de pesquisa visando desenvolver tecnologias limpas para o manejo da praga, e a captura massal foi uma das que apresentou melhores resultados. A técnica consiste em distribuir uma grande quantidade de armadilhas por área de pomar, nas quais os insetos adultos são capturados, reduzindo a infestação nos parreirais. Segundo Botton, a técnica já é utilizada há vários anos na Espanha e em Israel para o controle da mosca-das-frutas do mediterrâneo (Ceratitis capitata), inseto que também ocorre na região Nordeste do Brasil e ocasiona danos similares aos da Anastrepha fraterculus, principal espécie de mosca-das-frutas que ocorre na região Sul do Brasil.
O pesquisador relata que já houve tentativas no Brasil de utilizar essa técnica para o controle da mosca-das-frutas em diferentes cultivos. No entanto, não obtiveram sucesso pois os atrativos utilizados, principalmente sucos de frutas, eram pouco eficientes e tinham de ser repostos semanalmente nas armadilhas.
Após cinco anos de pesquisas avaliando e ajustando o manejo com uma proteína animal comercial como atrativo, foram alcançados os melhores resultados. Isso porque a mosca adulta tem necessidade de ingerir compostos proteicos para o desenvolvimento e maturação dos óvulos, que originarão as larvas, ou seja, a sobrevivência dos seus descendentes. O produto também apresenta uma alta estabilidade, não sendo necessária a reposição frequente, além de ser seletivo, não prejudicando outros insetos benéficos, como as abelhas.
Há mais de dez anos, Clari Boff produz uvas finas de mesa, como a Itália e a BRS Morena, na Serra Gaúcha no Município de Caxias do Sul (RS), um dos principais polos de hortifrutigranjeiros do Sul do País. Ela ajudou na validação da tecnologia e hoje comemora os resultados. “Com a ajuda da Embrapa conseguimos controlar a mosca-das-frutas e já pensamos em começar um cultivo orgânico”, relata a produtora, que é responsável por uma produção anual de cinco mil quilos de uvas de mesa vendidas diretamente aos consumidores. Ela complementa que os bons resultados obtidos ao longo dos experimentos foram decisivos para que ampliasse sua área de produção
Antes da captura massal, a alternativa para o controle da mosca-das-frutas no sistema orgânico era o ensacamento individual dos cachos de uva com sacos de papel, que apesar de ser eficiente, demanda muita mão de obra, cada vez mais escassa no meio rural. A colocação das armadilhas e do atrativo para uso na captura massal também é uma técnica que exige trabalho manual, no entanto, bem menor em comparação ao ensacamento.
Por ser uma tecnologia “resíduo zero”, a captura massal é viável em sistemas de produção com alto valor agregado, como é o caso das uvas de mesa em que a exigência dos consumidores por produtos com ausência de resíduos, é maior, segundo análise do pesquisador da Embrapa.
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