Professoras da Uneb lamentam falecimento da Mãe Kaobecy, líder do Abaça de Xangô Zazi Luango
Foi com grande pesar e revolta que recebemos a notícia do falecimento da Mãe Kaobecy, líder do Abaçá de Xangô Zazi Luango, neste sábado, dois de dezembro de 2017. Pensamos que toda liderança quando parte para o Orun deixa um vazio entre os que continuam neste plano. Afinal, toda a sabedoria que uma liderança religiosa adquire ao longa de uma vida dedicada às religiões de matriz africana, através da oralidade e do cotidiano, muito se perde e não recuperamos mais. Por isso, toda partida nos comove. Afinal, não podemos esquecer que quando na África morre um/a ancião/a é uma biblioteca que desaparece.
Por outro lado, essa morte nos provoca revolta porque ocorreu poucos dias após suas casas de religião e de moradia terem sido revistadas por policiais, seguindo um mandato policial para investigar denúncias relacionadas a drogas. Mesmo que essa revista tenha ocorrido sem agressões físicas ou materiais, por si só já é uma violência!! Violência essa que vem sendo praticada a mais de um século no Brasil!!
É por isso que estamos revoltadas. Quem não sabe que nossas lideranças religiosas são, majoritariamente mulheres negras e com idade avançada? Quem não sabe que pressão alta e problemas cardíacos, são muito frequentes entre a população negra? Quem não sabe que uma 'visita' policial abala, emocionalmente qualquer pessoa de bem?
Estamos sim, muito revoltadas porque essa morte, se assemelha a de outra líder religiosa, a de Mãe Gilda, yalorixá do Terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, localizado em Itapuã, Salvador, ocorrida em 21 de janeiro de 2000, dias após ver sua foto estampada em um jornal da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) na matéria cujo título era: "Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes" e de ter seu terreiro invadido por fiéis dessa dirá religião.
Assim como Mãe Kaobecy, Mãe Gilda não suportou tamanha dor, violência e desrespeito. Na época a filha de Mae Gilda, hoje Mãe Jaciara, processou a IURD, ganhou a causa e só não sabemos se já recebeu a indenização, estipulada na época em R$ 1 milhão. Nem por isso a sua morte deixou de causar revolta
Agora de novo!! E até quando? Confesso que não temos conhecimento de outras 'visitas' policiais, por exemplo, a templos de outras religiões. Sabemos sim da intolerância religiosa contra nós, homens e mulheres negras que procuram cultuar e respeitar suas ancestralidades.
Por isso, pensamos que essa morte não pode ser considerada como natural. Pensamos que devemos protestar, reagir SEMPRE contra o racismo e essas formar 'sutis' e 'naturais' de nos tratarem.
Céres Santos
Luana Rodrigues
Márcia Guena
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