Nos últimos 60 anos, o cerrado mudou como nenhum outro bioma brasileiro. O preço da transformação veio em forma de desequilíbrio. Se as chuvas tinham data para começar e período certo de ação, agora são perseguições diárias dos meteorologistas. Se jorrava água pelas nascentes, os rios e reservatórios estão cada vez mais secos. Se do fogo brotavam espécies, agora elas morrem nas chamas.
O desequilíbrio ambiental começa a fazer parte do cotidiano e passa a ter um custo social e monetário para os moradores do cerrado. A mais drástica crise hídrica da história do Brasil Central é um exemplo.
Especialistas calculam que, se a perda de 1,1% da superfície original por ano se mantiver, o bioma deixará de existir na primeira metade deste século. Alguns estudos cravam que o fim será em 2030. Os mais otimistas estimam 2050. De acordo com números do Ministério do Meio Ambiente, a média é de mais de 9 mil quilômetros quadrados de perda da cobertura vegetal por ano. Área correspondente a um território e meio do Distrito Federal. Há uma divergência entre a quantidade de área de cerrado devastada. O governo federal divulga 43,42%. Organizações ambientalistas falam em 50% de perda.
A escalada da destruição provoca uma cadeia negativa. A perda de cobertura vegetal nativa e a consequente modificação no ambiente impactam no ciclo hidrológico, com lençóis freáticos cada vez mais vazios, chuvas mais esparsas e fortes e rios com vazão menor. “Acabando com a savana mais rica do planeta, estamos dando um tiro no pé. Nas cidades, a impermeabilização não deixa mais penetrar água no solo. No campo, o agronegócio consome de 70% a 80% da água do Brasil. A demanda só aumenta. Vai haver um colapso”, alerta Reuber Brandão, professor de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB).
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