A Igreja do Rosário, levantada e acabada pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na cidade de Sousa, no alto sertão paraibano, foi temperada com o manancial de suor vertido por escravos e pelo banzo incomensurável de quem foi sequestrado dos seus. Enquanto a portentosa Matriz se eleva como um pontiagudo mausoléu, ela se encolhe solidária e permanece em contínuo aconchego.
A igreja dos mandatários sentiu a pua do tempo minar-lhe as rédeas e se viu, da noite para o dia, sem suas duas torres. A Igreja do Rosário está lá: inabalável e linda. No seu pátio brincam as crianças, ao largo da História. Elas ainda não sabem das mãos feridas, do sangue exposto, dos corpos chicoteados, dos pés em carne viva ou dos sonhos violados.
Os construtores da igrejinha refugiavam-se na excelência da construção, no soerguimento de um marco, testemunha serena de sua resistência. Toquei-lhe as paredes com minhas mãos, encostei o ouvido em seu campanário: senti e ouvi o eco das canções de trabalho e o soluço noturno de quem a construiu. Salve, Rainha, Mãe de Misericórdia, Vida, Doçura e Esperança Nossa. Salve!
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