Plantas medicinais, orações e fé. Foi o que o Globo Rural mostrou na reportagem sobre benzedeiras e benzedores, feita no Paraná. Na casa onde as plantas medicinais se espalham até pela calçada, vive a benzedeira Agda de Andrade Cavalheiro. E de planta ela entende bem. “De planta eu entendo de tudo”, conta.
Com tanto conhecimento, Agda é famosa na cidade de Rebouças, no Paraná. Recebe sempre a visita de gente atrás de cura. Uma hora procuram plantas medicinais outra hora é um benzimento. Com um raminho de arruda e o terço na mão, Agda vai benzendo quem a procura.
Quem explica sua origem é o antropólogo João Baptista Borges Pereira. “No Brasil está desde o Descobrimento porque é uma herança do catolicismo português. Em Portugal, as mulheres ou são benzedoras ou são demoníacas. Pode fazer o bem ou o mal. Quanto mais a mulher envelhece, ela vai se tornando feiticeira e indesejável. Mas no Brasil, a benzedeira passa elementos sincréticos, misturados, com influências indígenas e africanas, ligada às influências portuguesas. Elas tinham uma preocupação grande de fazer o bem. As benzedeiras fundamentalmente são pessoas do bem”.
Não é qualquer um que sabe as plantas certas para cada problema. E, dependendo da quantidade, a mesma erva que pode curar, também pode fazer mal. Oitenta e sete anos e a benzedeira Selmira Killer ainda cuida sozinha do seu quintal. Assim fica próxima do seu passado, de trabalhadora rural desde os dez anos de idade. No centro dos canteiros planta hortaliças, na beirada, as ervas medicinais.
Selmira fala sobre os santos que estão presentes em seu altar. “São Bento, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Graças, Menino Jesus e o monge João Maria”. Ela conta que a fé era maior antigamente. “Antigamente era porque não tinha médico nada. Só Deus. Só Deus e fé nos santos nos protetores deles. Só remédio de horta, de mato”. Dar continuidade a essa fé é uma preocupação para benzedores mais antigos, mas não para Selmira. “Os que estão vindo no mundo vão precisar e tem que ter gente que ajude”.
O Neurocientista, Sérgio Felipe de Oliveira, especialista em medicina e espiritualidade, fala sobre o assunto. “Hoje a Organização Mundial da Saúde (OMS) já admite a questão espiritual e existe muito estudo sobre espiritualidade na prática clínica. Quando a medicina oficial, o SUS (Sistema Único de Saúde), resolve dialogar com as benzedeiras, encontra-se um ponto que permite o integrativo e esse ponto beneficia o paciente. A força da fé é tremenda, mas precisa haver afeto e amor. Uma relação fria não abre caminhos. Uma relação de afeto e amor soluciona milhões de problemas”.
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